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Aramis

Talento de Sebastião e virtuosismo dos Romeros

Aos 48 anos, quase 30 de carreira - começou a tocar violão ainda garotinho, quando morava em Santarém, Pará - Sebastião Tapajós é hoje um dos mais seguros virtuoses deste instrumento. Construindo uma carreira com segurança, num trabalho espalhado inicialmente no Exterior - Argentina e Alemanha, especialmente - o bom Tião tem mais de 20 lps gravados, embora poucos em catálogo no Brasil. Anualmente faz temporadas na Europa, com casas lotadas em dezenas de cidades na programação que seu empresário, o brazilianista musical, Claus Schneider, organiza com todo o carinho. Generoso ao máximo, Sebastião tem levado nestas excursões ótimos músicos brasileiros - como seus parceiros Maurício Einhorn (harmônica-de-boca), Pedro Sorongo (percussão), Zimbo Trio, Joel do Bandolim - entre outros. Free-lancer em termos de gravação - embora no Japão e Alemanha seus discos saiam pela RCA - Sebastião tem feito diferentes experiências fonográficas. Há pouco mais de um ano aceitou o convite de seu amigo Arthur Moreira Lima para um belo lp de autores clássicos espanhóis, em edição da Dell'Arte. Agora, atendendo a solicitação de outro grande amigo - o técnico de som Carlão, abrindo uma nova etiqueta - (a Vison, em São Paulo) cabe a Sebastião inaugurar o selo. O resultado é "Painel", belíssimo, suave - daqueles que se ouve com imensa suavidade no qual este violonista de incrível capacidade, utilizando o seu Dieter Hopf com cordas Hannabach Silver Special, traz um repertório praticamente inédito - com exceção de duas parcerias com Einhorn, mas ambas em interpretações renovadas: "Igarapés" e "Ebulição" - esta uma homenagem a Villa-Lobos, com todo o clima da Floresta Amazônica, que Sebastião tão bem conhece e tanto curte. Casado e feliz da vida, Sebastião abre o disco com duas familiares homenagens: "Canção para Mariza" - sua esposa e o lírico e suave "Brinquedo Pro Junior", homenagem ao filho, 14 meses. A faixa que dá título ao disco - "Painel" é uma parceria com Amilton Godoy, pianista do Zimbo Trio e com Hamilton Costa há duas parcerias: "Poente" e "Blandice". Três composições inéditas - "Velha Varanda", "Olinda Medieval" e "Garoteando" (naturalmente esta uma homenagem a Garoto/Anibal Augusto Sardinha, 1915-1955), completam o disco. A audição deste "Painel" de Sebastião Tapajós nos dá um prazer tão grande pela sonoridade das cordas, limpeza de suas composições e, especialmente imagens sugeridas, quanto um álbum como o dos Romeros - os irmãos Angel, Celedoni, Celin e Pepe - registrado em Londres, em junho de 1984, agora editado no Brasil pela Polygran/Philips. Virtuoses das guitarras e com a afetiva participação da mãe, Angelita Romero (percussão e castanholas), na "Sonatina Trianera" de Frederico Moreno Torroba (1891-1982), os Romeros mostram neste álbum excelente um pouco mais da riqueza da música espanhola que tanto tem fascinado compositores dos últimos dois séculos, por sua forma e seu estilo sem par, por suas escalas e harmonias coloridas, pelo timbre característico da guitarra flamenga. George Dizet (1838-1875) interessou-se pelo sabor espanhol puramente como instrumento teatral nos segmentos de "Carmen", resultaram numa suíte magnífica que abre, em seus sete movimentos, em arranjo de Pepe Romero, o lado A do disco. Na época da "Carmen", a "zarzuela" espanhola havia atingido o seu auge. Era um colorido gênero de teatro musical, envolvendo canções populares de danças típicas do país. Roberto Chapi (1851-1909) foi um dos mestres desta forma e "La Revoltosa" (1897), considerada sua obra-prima, é mostrada em 4'57" pelos Romeros. Já de Manuel DeFalla (1876-1946) temos três significativos exemplos de "Danzas" compostas entre suas obras maiores: assim de "El Sombrero de Tres Picos", temos a "Danza Espanola nº 1", em transcrição de Pepe Romero. As "Danza Del Corrigidor" e a "Danza del Molinero", complementam esta visão quase didática que Los Romeros nos oferecem da obra de Manuel DeFalla, num álbum magnífico - indispensável a quem se interessa pelo violão. LEGENDA FOTO 1 - Sebastião Tapajós, uma carreira construída com muita segurança.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
3
08/06/1986

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