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Aramis

Tânia Maria, uma superstar em NY (e que já cantou até na Marechal)

Carnaval de 1977. A comissão organizadora reúne-se na sede da Fundação Cultural e discute detalhes da festa. O advogado Constantino Viaro, diretor administrativo (hoje superintendente da Fundação Teatro Guaíra), faz uma oportuna sugestão: já que há uma grande demora entre a passagem de uma escola de samba e outra, porque não contratar artistas capazes de se apresentar nos intervalos, tornando menos cansativa a espera. Idéia aprovada, começamos a procurar quem poderia vir fazer tais shows. Difícil, pois a maioria dos cantores identificados ao Carnaval estão comprometidos. Em São Paulo, no Telecoteco, simpática casa de samba que existia na Rua Santo Antônio, conhecemos uma cantora, pianista e compositora extraordinária: Tânia Maria. Versátil, capaz de lembrar desde Roberta Flack (então em evidência) ao tocar piano e cantar, mas chegando também ao entusiasmo de intérprete segura de músicas de Carnaval. Conversa vai, conversa vem, veio o convite: - "Toparia fazer shows numa avenida, durante o desfile de Carnaval?" A proposta foi inusitada. Mas sua agenda estava disponível e ela topou. Assim, no sábado de Carnaval de 1977, Tânia Maria cantou por mais de três horas na Marechal Deodoro - espaço que hoje, graças a criatividade de Glauco Souza Lobo, secretário de Turismo, vem sendo usado para grandes festas populares - como ainda aconteceu na semana passada, num evento junino. Como não poderia trazer um piano para a rua, Tânia amparou-se na guitarra de Celso, seu companheiro na época e na bateria de Pedrosa. Foi um sucesso: desfilando um repertório carnavalesco, animou o Carnaval, distraindo o público que ali esperava as escolas de samba. Ao que saiba, foi a única vez em que esteve em Curitiba. xxx Nova Iorque, 1987. Tânia Maria é uma das cantoras e compositoras brasileiras que deram certo. Meia dúzia de álbuns editados (inclusive em laser) nos EUA, chegou a América depois de anos de permanência em Paris, para onde foi inaugurando uma casa ("Viva Brasil"), de Guy de Castejá e na qual foi ficando. Na França editou vários discos e projetou-se, chegando aos EUA com um bom nome. Hoje é, ao lado de outros brasileiros, uma artista que, sem abrir mão de sua brasilidade, dá grande força a nossa MPB no Exterior - embora, naturalmente, grave em inglês. A não ser para quem recorrer aos discos importados, difícil encontrar os álbuns de Tânia. Os que fez no Brasil, antes de sua transferência para a França, há muito estão esgotados. E os discos gravados em Paris e Nova Iorque permanecem inéditos. Lamentavelmente. Felizmente, a EMI/Odeon rompeu este isolamento: com "The Lady From Brazil" (Manhattan Recorde), temos a oportunidade de ouvir a Tânia Maria em sua fase mais recente. E não poderia ser mais gratificante: vigorosa, eclética, Tânia Maria Correa Reis é autora de todas as faixas, produzidas com a participação de ótimos músicos como o baixista Eddie Gomez, os percussionistas Onex Aquino, Isidro Bobadilha e Paulinho da Costa, enquanto se desdobra nos vocais, nos teclados e mesmo na percussão como em "Bronx". No texto de contracapa, Tânia explica que este disco é o fruto de seu quinto aniversário nos EUA e que "the music baby is born", ou seja, o filho nasceu, trazendo as composições novas. Produzido e com arranjos de George Duke em três faixas, também presente no Sunclavier, é um trabalho altamente profissional. Este é o seu segundo elepê no selo Manhattan (lançado nos EUA em outubro do ano passado) e, como diz a gravadora, "reflexo de seu passado e ao mesmo tempo uma exploração de novas diretrizes". Três faixas tem o toque de produção de Duke - além da música título, "All Gone Love" e "Just Get Up". Uma faixa é cantada em português - "Valeu", o que pode ser pouco, mas compreensível para uma artista que busca mercados internacionais. O importante é que Tânia Maria está vibrante, esfuziante e bela em todo este álbum. Que os outros discos de Tânia cheguem ao Brasil. LEGENDA FOTO - Tânia Maria: the girl from Brazil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
05/07/1987

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