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Tapajós e Aldir, a dose dupla de grande talento

A cantora Chris (Maritza Fabiane Valente), que ao lado de sua irmã Cristina, forma uma das mais afina das duplas sonoras da MPB, teve uma grande surpresa nesta semana: afinal, pôde ouvir e ver o álbum de Maurício Tapajós e Aldir Blanc, na qual participou numa das mais bonitas faixas: a terna e suave "A Minha Casa é Sua", que Maurício compôs em Angola, quando visitou aquele país socialista. Maria das Graças, técnica do Serviço do Comércio - Rio de Janeiro, onde coordena todo um programa de animação cultural na área de cinema, aproveitou sua vinda a Curitiba - como observadora da XVIII Jornada Nacional de Cineclubes, para trazer os primeiros exemplares do disco de seu marido, Maurício Tapajós, que só agora está sendo lançado no Rio. Álbum duplo, com belíssima capa e programação visual de Mello Menezes, encarte de vinte páginas, esta produção independente e, sem favor, um dos mais belos momentos da música brasileira - e por certo estará entre os melhores lançamentos do ano. xxx Maurício Tapajós (Gomes), 41 anos, arquiteto que trocou as pranchetas pela música e Aldir Blanc (Mendes), 43 anos, médio que preferiu a poesia, crônica e criação de letras do que a psicanálise que chegou a exercer por algum tempo, são sócios da Saci, editora e produtora musical de grande atuação na defesa dos diretos autorais. Há quatro anos, Maurício havia feito seu primeiro disco independente ("Olha Aí"), revelando-se personalíssimo intérprete - já que como compositor, há quase 20 anos vem tendo suas músicas lançadas pelos mais famosos cantores. Aldir Blanc, que durante anos era extremamente tímido, animado por Maurício, decidiu a também interpretar suas criações e o resultado foi uma produção fonográfica de quase Cr$ 20 milhões , na qual foram arregimentados os melhores instrumentistas e que com arranjos básicos de Maurício e a afetiva ajuda do mestre Radamés Gnattali, 78 anos, reúne 20 canções excelentes. O esmero da produção faz deste um álbum digno de figurar em qualquer exposição, pois o encarte foi valorizado com ilustrações e charges de Chico e Paulo Caruso, Nilo de Paula, Jaguar, Eliane Soares, Fátima Nóbrega, Mariano, Reinaldo e Jorge Eduardo - entremeados de afetivos textos de parceiro e amigos como Tarik de Souza, Paulo César Pinheiro, Luís Pimentel, Moacyr Andrade, Ney Hamilton, Paulo Emílio, Marco Aurélio, Edson Braga, Luiz Carlos Sarodie Hermínio Bello de Carvalho. Se há música já conhecidas - como "A Voz do Brasil", "Querelas do Brasil", "Santos Amaro", "O Bonde"(parceira com Sidney Miller), a maior parte do material é de composições inéditas. O lado irônico - mas profundamente social/atual de Maurício - explode no divertido "Sai da Frente Brasil" e, em parceria com Aludir, na deliciosa marchinha "Sobre o dólar"- que o exemplo da sensível "A Louca"(na voz de Cristina Santos, irmã da atriz Lucélia), um dos momentos de emoção do disco - faz parte da revista "A Tocha na América"(em cartaz há meses no Teatro Rival). A ironia está presente também em "Valquiria" - mas um grande romantismo e ternura marcam momentos incríveis como "Perder um Amigo", "Valsa do Maracanã"(esta na interpretação apenas de Aldir Blanc, revelando-se afinado cantor), "Colcha de Retalhos"(valorizada pela voz de Marília Barbosa), "Mãos de Aventureiro" e "A Adolescentes", trabalho único de Aldir Blanc: letra, música e interpretação. "Cidade do Sol"(de Maurício e Mirabô Dantas), "Falha Humana"(Maurício/Aldir) são outros momentos da maior beleza - num perfeito ajuste de sentimentos e harmonias. O significativo fato de uma produção independente atingir o nível conseguido neste álbum duplo Maurício e Aldir, faz com que antecipemos este registro - já que num ano de fracos momentos de nossa MPB, sem dúvida é um evento significativo a presença de dois compositores da voltagem de Maurício Tapajós e Aldir Blanc, num trabalho em que assumido todos os riscos mostram uma grande sensibilidade, ao lado de um acabamento de produção raras vezes visto numa produção brasileira. xxx Enquanto Maurício Tapajós passou os últimos meses dividindo-se entre a produção deste álbum duplo e a luta pela defesa dos direitos autorais - que o levou ao México e Los Angeles há poucas semanas, em reuniões internacionais, seu irmão, Paulinho, 39 anos - também arquiteto que preferiu a composição e produção musical, concluiu um novo projeto: um especial para a televisão com temática ecológica, "Verde Que Te Quero Verde"(A Lenda de Luana), que antes mesmo de ser apresentado, está tendo o seu roteiro transformado num belo livro infantil, lançado pela Record, enquanto o disco deste musical saiu pela WEA. "Verde Que Te Quero Ver" é uma parceria com Edmundo Souto, companheiro de Paulinho há muitos festivais - e que se revela também um bom desenhista, criando a capa e ilustrações e capas lp livro, lançado agora. Sem dúvida, o velho Paulo, 71 anos - patrimônio maior da música brasileira, amigo querido, ao lado de sua Norma, pode sorrir satisfeito: seu talento foi transmitido aos seus filhos, com trabalhos tão bonitos como estes que apresentam agora.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
26/07/1984

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