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Tárik, o poeta e o crítica da MPB

Pouca gente sabe que o jornalista Tárik de Souza, hoje um dos mais respeitados e conhecidos críticos e repórteres da área de música popular, colaborador de importantes veículos nacionais, é filho de Emil Farhat, diretor-geral de "O Globo" em São Paulo - e que apesar do sobrenome, não é sequer parente de Said Farhat, o ministro da Comunicação Social, e fundador da revista "Visão". Justamente para não fazer carreira à sombra do ilustre sobrenome do pai - um profissional de ampla vivência, Tárik preferiu ficar apenas com o sobrenome materno. Seu pai, autor de um dos livros críticos, mais importantes do início dos anos 60 - "O País dos Coitadinhos", vai lançar, em breve, um novo título, "Contrato Com as Almas", onde faz uma espécie de crônica familiar, de seus antepassados do Líbano à chegada ao Brasil. Enquanto isto, Tárik, além da colaboração regular - ainda no último número de "Playboy", a convite de Fernando Pessoa Ferreira (ex-superintendente do Teatro Guaíra) publicou um bem humorado estudo sobre o novo erotismo da MPB - também é poeta. Após uma edição particular de "Com o NÓ no Peito", que praticamente se esgotou nos lançamentos no eixo Rio - São Paulo, Tárik aceitou publicar seu segundo livro de poesias, "Autópsia em Corpo Vivo" pela L & PM, de Porto Alegre (80 páginas, Cr$ 120,00), Antônio Houaiss, membro da Academia Brasileira de Letras, ensaísta, homem que não é de distribuir elogios na base da amizade, no prefácio do livro, lembrou que "seria agora oportuno dizer da sabedoria com que Tárik de Souza tempera dor e alegria (de esperança), o coloquial e o solene, o popular e o erudito, as isotopias consagradas e as insuspeitáveis, e as euforias, disfonias, cacofonias, harmonias, blasfêmias, imperdões e perdão. Tempo virá em que outros se debruçarão sobre estes poemas para colher seus cristalemas: que agora nos baste o imediato recôndito, sua poesia tão pungente e bela ..." xxx Se como poeta Tárik de Souza é ainda pouco conhecido - e agora, com este contundente "Autópsia em Corpo Vivo" poderão ser melhor entendidos seus textos sobre música popular, há muito o fazem ter leitores cativos em escala nacional. Por isso mesmo é duplamente feliz o surgimento paralelo ao seu pequeno (grande) livro de poesias, com "Rostos e Gostos da Música Popular Brasileira" (L & PM, 270 páginas), definido como "texto-exposição" e cuja autoria Tárik dividiu com Elifas Andreato, paranaense de nascimento, mas hoje radicado no Rio, onde é o mais requisitado artista gráfico para crianção de capas de livros, discos e, ultimamente, ambientações teatrais - ocupações que lhe tomam todo o tempo e o impedem de fazer quadros para exposições há muito solicitadas, Tárik, politicamente consciente, diz na introdução de seu livro que começou a ser jornalista "alguns meses antes do País mergulhar nas trevas do AI-5". Iniciou-se na "Veja", antes ainda da revista ser lançada, em março de 1968 - e nestes 12 anos, se mantém como uma presença semanal naquela revista, o que não impede a contribuição a outros importantes órgãos ("Jornal do Brasil", "Jornal da República", "Homem", etc.). Tárik estabelece, inclusive, uma relação entre o AI-5 e a repressão com a MPB, contando que o Ato Institucional nº 5, assinado pelo então ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva, viria a beneficiar diretamente seu filho. "Este, viria a beneficiar diretamente seu filho". "Este, conhecido por Gaminha, nos tempos de aspirante a advogado no imbatível XI de Agosto (oclinhos dourado à lapela, símbolo de apoio à esotérica candidatura Costa e Silva) acumulava a pretensão de pífio candidato a artista. Pois o tenebroso Ato paterno veio a projetá-lo para o sucesso. Era um dos integrantes do grupelho "Sunday", pioneiro no xerox de música importada, fingindo-se de estrangeiro para enganar os incautos. Esta famigerada corrente só obteve espaço com o Ato que baniu, casou, perseguiu, censurou e calou (apenas por alguns lapsos de tempo) a melhor criação musical brasileira". Tárik conta também que a censura atingia até os seus comentários - e textos de música "um fascículo pesquisado sobre Geraldo Vandre para a Abril Cultural custava reprimendas militares à direção da empresa". A exemplo do que o jornalista Carlos Castelo Branco, um dos mais respeitados analistas políticos do País, vem fazendo em sua série "Os Militares e o Poder" (3 volumes já lançados pela Nova Fronteira), onde apenas reuniu seus artigos publicados no "Jornal do Brasil", praticamente sem necessidade de mudar uma vírgula - e oferecendo uma excelente documentação da vida política brasileira nos últimos 15 anos - Tárik também não se preocupou em reciclar, modificar os seus textos. Mantendo-os na íntegra, tais como foram publicados nos diversos veículos com os quais vem colaborando - e com belíssimas ilustrações de Andreato, os artigos, entrevistas e perfis reunidos neste "texto-exposição" representam uma importante contribuição para o enriquecimento da bibliografia da música brasileira tão carente de obras de referência e documentação como este importante volume.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
6
11/01/1980

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