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Temístocles, presidente da Copel, quem imagina?

Pouquíssimas pessoas imaginariam que Temístocles Linhares, 84 anos (completados no último dia 11 de fevereiro), que ao lado do professor Wilson Martins (há 15 anos residindo em Nova Iorque) o mais notável crítico literário do Paraná (e um dos grandes nomes nacionais), foi o primeiro presidente da Companhia Paranaense de Energia Elétrica. Ainda no final do primeiro governo de Moyses Lupion, Temístocles ocupou a presidência da então recém implantada Copel, ali permanecendo entre 28 de março de 1955 a 22 de fevereiro de 1956 - quando foi substituído por José Lupion, que ficou até 28 de janeiro de 1957, quando assumiu Alcides Munhoz Júnior - num ciclo de diretores que não eram exatamente especialistas na área energética. Só a partir da administração do engenheiro Benjamin de Andrade Mourão (entre 13 de fevereiro de 1957 a 16 de agosto de 1960), a empresa viria a se estruturar, seguindo-se então outros notáveis administradores, como Leão Schulmann (60/61), e finalmente, Pedro Viriato Parigot de Souza, que ali permaneceu entre 10 de fevereiro de 1961 a 3 de julho de 1970. Ao lado do intelectual, o trabalho de Temístocles Linhares na área empresarial até hoje tem sido pouco conhecido. Filho de uma família de ervateiros, formado em Direito, adquiriu uma grande visão cultural nos longos períodos em que viveu em Buenos Aires. Dos anos de vivência de homem ligado a indústria da erva-mate, resultou uma obra definitiva: "História Econômica do Mate" (José Olympio, 1969), no qual reuniu exaustivamente, tudo que seria possível a respeito deste ciclo econômico. "Relíquias de uma Polêmica entre Amigos", é uma espécie de intermezzo nostálgico, no qual Temístocles recorda seus anos de jovem intelectual, de uma Curitiba provinciana, boêmia e, naturalmente, bem mais humana e generosa do que a cidade de nossos dias. Como diz num econômico texto de introdução - que, seria delicioso se fosse estendido por mais páginas, com melhores detalhes - o clima daquela época, em termos intelectuais, "era bem diferente, pois ele se fazia entre amigos pertencentes a mesma geração, conquanto divergentes em suas posições e idéias, mas sem nunca fugir do espírito de cordialidade sempre reinante" (só para comparar, há quantos anos não acontece uma polêmica de alto nível em nossa imprensa? Uma das últimas, foi em torno do existencialismo, envolvendo intelectuais como Ernani Reichmann, Hélio Puglielli, Walmor Marcelino, Luiz Geraldo Mazza, entre outros, através de páginas dominicais do finado "Diário do Paraná" e "O Estado do Paraná", no início dos anos 60). Os jovens intelectuais do início dos anos 40 - entre professores médicos (Homero de Melo Braga, Milton Carneiro, Jurandir Manfredini e Herbert Mercer), jornalistas (Caio Machado, redator-chefe de "O Dia", Acyr Guimarães, redator chefe da "Gazeta do Povo"), o tabelionário Claro Américo Guimarães, Munhoz da Rocha, advogados Pretextato Taborda Júnior (mais tarde presidente do Instituto Nacional do Mate); Brasil Pinheiro Machado e João Alves da Rocha Loures, formavam o que Temístocles chama de "Patrulha da Madrugada". Duas figuras especiais: o professor Leo Cobe, grande matemático e "o pintor Guido Viaro, incorporado ao grupo desde quando se fixou em Curitiba, teatral, e gesticulando, sobretudo, quando se referia a Nero como incendiário de Roma". Este clima cultural de Curitiba que hoje existe na memória de pouquíssimas pessoas (Linhares é um dos poucos remanescentes daquela época) é que não pode ficar restrito apenas a poucas informações e justifica que deixe a sua modéstia e concorde em fazer um grande registro para a posteridade. Além de estender suas memórias para todo um livro - que faz falta.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/05/1989

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