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Aramis

Tempo das tertúlias e do Trio Paranaense

A professora e violinista Bianca Bianchi é uma das últimas remanescentes de um período musicalmente dos mais ricos de Curitiba: os anos 20 a 40, quando, inexistindo a televisão e o rádio ainda dando seus primeiros passos, os recitais, nos palcos do Theatro Guayra (até a sua demolição em 1936), Cine-Theatro Avenida, Cine-Theatro Hauer e Cine-Theatro Palace movimentavam uma pequenas mas atuante faixa da população que, dentro das proporções, participava mais dos eventos culturais do que acontece nos dias de hoje. Paralelamente aos concertos em espaços públicos - incluindo-se também os clubes, como o Thalia (no qual o Trio Paranaense fazia habitualmente suas apresentações) e o clube Concórdia (que nasceu como sociedade de cantores alemães), na qual até a Família Trapp fez um concerto nos áureos tempos da Sociedade de Cultura Artística Brasílio Itiberê, eram marcantes também as tertúlias lítero-musicais, em casas de família. Particularmente no solar dos Frank, pela própria intimidade de René, Charlotte e Jorge Frank - mais Bianca Bianchi, com todos os músicos e cantores que passavam por Curitiba, aconteciam reuniões marcantes. Das anotações feitas cuidadosamente, em quase meio século, por Charlotte Frank, foi possível, há quatro anos, a professora Marisa Ferreira Sampaio, inventariar todo um período cultural nas páginas de "Reminiscências Musicais de Charlotte Frank" (1984, 224 páginas, edição da autora) - pesquisa tão bem elaborada, que nos faz lamentar que outro livro de Marisa, sobre o maestro e compositor Augusto Stresser, tenha tido seus originais (inclusive fotos e reproduções de documentos) extraviados (sic) por burocratas da Secretaria da Cultura, há mais de dois anos, impossibilitando sua edição. O depoimento da professora Bianca Bianchi, no projeto Memória História do Paraná, trouxe importantes colocações sobre personalidades de nossa cidade, no campo musical e artístico que, de uma forma ou outra, deram sua contribuição e hoje são pouco lembrados - como Raul Menssing, Antônio Mililo, Léo Kessler e o italiano Remo de Persis - para só citar alguns dos (muitos) nomes que, em si, justificariam maiores registros. O esquecimento da família Frank - René, Charlotte e Jorge, merecedores não de serem nomes de ruas de distantes loteamentos, mas perpetuados em espaços culturais ativos, como eles o foram em vida, é, naturalmente, uma idéia que merece ser levada adiante. O trêfego deputado estadual Rafael Greca de Macedo, tão preocupado com a nossa história, deve - passada a campanha à Prefeitura - dar alguma atenção a estes fatos. E se o seu amigo Algacir Túlio for eleito, Rafael - influente na formação da próxima administração - poderá fazer muito mais não apenas em torno de artistas ligados a música, mas de tantos outros paranaenses que, pela insensibilidade dos homens que se apossaram do poder cultural nos últimos anos, tem sido desprezados pelo governo peemedebista municipal. xxx Por coincidência, a professora Bianca Bianchi viveu quase quatro décadas de sua vida no solar das famílias Wolff, na Praça Garibaldi, hoje sede da Fundação Cultural. Nascida em São Paulo, filha de um imigrante italiano, Eduardo Bianchi (1863-1939) e de uma artista plástica e poeta, Giovanina (Gina) Baldisieri (1867-1956), a família Bianchi veio no início do século para Ponta Grossa, onde o seu pai montou uma fábrica têxtil. Os negócios não deram certo e mudaram-se para Curitiba, instalando-se a família no Solar dos Wolff - do qual Bianca só sairia em 1956, após a morte de sua mãe. Bianca pensava em estudar engenharia química, mas o trauma que a morte de sua única irmã, Maurina (1901-1916), violinista de talento, provocou em sua mãe, a levou, "como uma espécie de compensação", a se dedicar ao estudo do instrumento. Ludovico Seyler foi seu primeiro mestre de violino e, a partir de 1923, quando a família Devrainni veio morar em Curitiba, teve em René, pianista e professora com estudos na França, sua mestre de teoria musical. Em 1928, com uma bolsa de estudos concedida pelo prefeito Moreira Garcez e o governador Affonso Camargo, Bianca e sua mãe, Gina, viajaram para a Itália. Durante quatro anos estudou no Conservatório Santa Cecília. Mesmo a interrupção do auxílio financeiro que vinha do Brasil, em 1930, devido a revolução getulista, não fez com que interrompesse o curso. Enquanto sua mãe se dedicava a pintura e ao restauro de objetos de arte - "com uma habilidade incrível", recorda, Bianca passou a lecionar violino. Nesta época, Mussolini ascendia ao poder e Bianca recorda tê-lo visto várias vezes em grandes manifestações: - "Era um orador fascinante, de grande comunicação. Apesar do clima militar, sentia-se a ordem na Itália. Os trens andavam no horário". xxx A volta ao Brasil em 1936, concertos, a criação do Trio Paranaense, a fundação da Escola de Música e Belas Artes em 1948 e, ao longo destas últimas quatro décadas, a alegria de ter visto muitos de seus discípulos fazerem sucesso. Hoje com uma jovialidade impressionante, Bianca Bianchi é uma das mais entusiastas defensoras do método Suzuki, e, mesmo sentindo que vivemos uma outra época, de valores diferentes, conserva o belo sorriso, a simpatia e o otimismo que a fizeram sempre uma das mais queridas pessoas de nossa cidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
18/10/1988
foi melhor tempo de minha juventude, nunca houve tanta poesia tanto amor no ar e nas pessoas. a gente dançava agarradinho sem más intensoes, nao assim abertamente, mas era muito bom. tenho varios cds que consegui com as melhores internacionais eram as melhores, ate hoje reconrdo quando toca e me emociono muito muito... nao deixem de ouvi-las voces jovens e se amarram!

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