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Aramis

Tempo & pílulas

Diretor do Instituto Nacional do Livro Há muitos anos(durante o período em que Ney Braga esteve no MEC foi dos mais prestigiados), o escritor Herberto Sales demorou para concluir o romance que há muito vinha preparando, finalmente agora lançado: "Os Pareceres do Tempo"( Editora Nova Fronteira, 454 páginas). Obra de fôlego, grande painel de personagens e ação, na qual mescla realidade e ficção, o novo romance do autor de "Cascalho" tem um subtítulo curioso: "Romance de duas velhas famílias que se enredam em episódios vividos por uns tantos membros delas: os Golfões e os Rumeções, na antiga região denominada Cuida D'Água". Para Franco de Barros, na apresentação de "Os Pareceres do Tempo", Sales surpreende e apaixona. Mantendo-se fiel ao rigor documental e a uma feroz e inexorável crítica de costumes, o romancista oferece páginas de incomparável beleza estilística, onde a frase depurada e enxuta se alia a um comovente, profundo lirismo, a nos espantar, a nos emocionar, a nos apanhar de jeito. "Porque - diz Franco - em Herberto a imediata e crua realidade, e também a sarcástica e corrosiva crítica social, são boas e permanentes companheiras da profunda compaixão humana, do saboroso exercício de estilo e do doce embalo do amor". Coincidentemente, outro romance de Herberto Sales, "O Fruto do Vosso Ventre", tem nova edição ( Editora José Olympio, 3a. edição, 216 páginas, Cr$ 9.100,00). Como apresentação de Octavio de Faria e posfácio de Edilberto Coutinho, "O Fruto de Vosso Ventre" é uma obra na qual Sales trata, com senso de humor, bem machadiano, de uma sociedade baseada na tecnocracia, que se embaralha diante do Maloch da técnica, ingressando em verdadeiro labirinto de expressões técnicas, cacoetes burocráticos, reuniões intermináveis e discursos bombásticos. É uma obra saborosamente atual, que deve fazer a delícia de quem se preocupa com um sério problema: o controle da natalidade. Nas duas primeiras partes, Sales critica o Estado, que deseja, matematicamente, produzir seus cidadãos, e para o qual a pílula anticoncepcional tem lugar de destaque. Já traduzido no Japão (1978), Inglaterra (82) e Argentina (84), "O Fruto do Vosso Ventre" é, também, um alerta. Já disse o historiador francês Pierre Chaunu, "...a grande data da humanidade foi o ano de 1960, quando a pílula Pincus passou a ser vendida nos drugstores americanos, e não 1945, data em que a humanidade descobriu que era capaz de autodestruir-se". Um livro, no mínimo, que se pode ser um bom presente à vereadora Rosa Maria Chiamulera, sempre tão preocupada com a explosão demográfica e o uso de métodos anticoncepcionais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
30/08/1984

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