Login do usuário

Aramis

A temporada de caça aos marajás continua aberta

Quem pensa que a temporada de caça aos corruptos da área social do Estado - as extintas PROMOPAR e IAM - acabou, engana-se: há muita coisa para ser investigada, envolvendo gente que, por ligações políticas, achava-se, até há pouco, acima de qualquer suspeita. O sociólogo César Augusto Carneiro Benevides, 33 anos, que assumiu em abril a direção-administrativa e financeira da Fundação de Promoção do Paraná, embora seja paraibano de João Pessoa, foi mineiro em sua metodologia: só levou ao secretário Rubens Bueno, do Trabalho e Ação Social, as denúncias da corrupção após levantar provas indiscutíveis. E com esta documentação, o governador Álvaro Dias pode anunciar, imediatamente, os escândalos que levaram os marajás da PROMOPAR a cadeia - mas num processo que ainda não está encerrado. xxx Discreto, evitando fazer comentários a respeito, César Benevides não esconde, entretanto, que "as investigações feitas nesta primeira etapa foram retroativas até julho de 1986, apurando-se fatos concretos, que possibilitaram a prisão administrativa dos indiciados". Entretanto - diz Benevides - "as investigações aprofundando-se e retroagindo nas administrações anteriores, poderão envolver outras pessoas. Mesmo nada declarando oficialmente, Benevides não nega que é difícil acreditar que as apropriações indébitas de nove marajás da PROMOPAR fossem desconhecidas das diretorias anteriores. No mínimo, houve omissão - o que já é suficiente para incomodar a vida de muita gente, que mesmo com a proteção político-partidária, terão que se explicar". Quando assumiu a direção administrativa-financeira da Fundação de Promoção Social do Paraná, o sociólogo César Benevides só pode levar um assessor de sua confiança, o advogado Waldemar Pimentel, 37 anos, paranaense de Ponta Grossa. Haviam trabalhado juntos no departamento de marketing do BANESTADO e foi com ele que César contou, basicamente, em suas investigações iniciais. "No mais, tive que ficar com o pessoal da casa, já que estava impedido de levar novos funcionários por força do decreto do governo que proibiu contratações", explica. Assim, as investigações foram dificultadas, o que não impediu, entretanto, o levantamento dos escândalos dentro do PROMOPAR e, também no Instituto de Assistência ao Menor - os dois órgãos extintos, para o surgimento da Fundação de Ação Social do Paraná. - "No IAM - diz César - as investigações estão sendo mais amplas, embora com as evidências exigindo exames mais profundos, de forma que todas as irregularidades sejam devidamente levantadas em suas extensão. Os escândalos no IAM são cabeludos e envolvem casos revoltantes, inclusive no desvio de mais de 14 toneladas de carne, que deveriam ter sido entregues a entidades conveniadas e que simplesmente nunca chegaram aos seus destinos. xxx No caso dos "marajás" da PROMOPAR, a pergunta continua sendo sobre o paradeiro das duas principais implicadas - Edemara de Oliveira Lara e Rosane Maria Zornig. Desde a hora em que o escândalo foi denunciado, elas desapareceram e, comenta-se inclusive que já estariam na Europa. Há meses, que as duas haviam programado uma viagem de férias por vários países e que diante dos fatos, teria sido precipitada. xxx Um detalhe até hoje não revelado publicamente: os funcionários da PROMOPAR apoiaram totalmente as investigações sobre o envolvimento de Edemara nos escândalos. É que aquela executiva, como chefe do Departamento de Recursos Humanos, era implacável em castigar os pequenos funcionários, descontando faltas, impondo punições e dando a todos um tratamento de mão-de-ferro. Um motorista da casa, vítima por meses do rigor de "dona" Edemara, comentava na semana passada: - "Nada como um dia atrás do outro. Chico Buarque tinha razão: "Hoje você é quem manda / falou tá falado / não tem discussão". Agora a situação é diferente..."
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
14/07/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br