"Teorema", uma visão polêmica de Pasolini
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de dezembro de 1984
Aos poucos a Brasiliense está possibilitando que se conheça a obra do cineasta Pier Paolo Passolini, morto há 9 anos passados. Assim já publicou "Caos - Crônicas Políticas", "Diálogo - As últimas Palavras do Herege", "Amado Meu" e lançará brevemente "Regazzi di Vita" ("Rapazes da Vida"), na coleção "Circo de Letras" saiu o romance-roteiro de obra cinematográfica mais famosa deste intelectual italiano:"Teorema" (tradução de Fernando Travassos, capa de Ettore Bottini, 176 páginas). Um livro de grande interesse não só aos que assistiram ao polêmico filme - mas a quem também se interessa pelo lado exclusivamente literário de Pasolini. Como a própria editora adverte "esta não é uma história que se preocupa com o realismo dos fatos: É alegórica, enigmática, uma parábola representativa do real. Ainda assim, tudo o que nela é narrado poderia acontecer nalgum lugar bem próximo am qualquer um de nós".
As cenas se passam na casa de uma rica família burguesa da Itália. Existe a princípio uma inércia no ar, um clima de estabilidade que logo é quebrado com a chegada de um estranho visitante, jovem belo e atraente. As insatisfações, angústias e sentimentos dos seis membros da casa são desvalados à medida que o rapaz vai se relacionando com cada um deles. A descoberta e revelação dos desejos sufocados revolucionam a vida familiar. Se causa surpresa o caminho que toma as coisas a partir de um certo ponto da narrativa , isto é porque o livro desnuda as raízes profundas de um caos psicológico em que vivem seus personagens e revela selvagens dos relacionamentos que aí se estabelecem: raízes e regras do "Teorema" de Pasolini.
Pier Paolo Pasolini, poeta, ensaísta e cineasta é uma das personalidades mais controvertidas do pós-guerra italiano. Seus pensamentos sempre causaram escândalo entre os meios mais conservadores do seu país. Com a fama alcançada através do cinema (de "Acattone" a "Saló ou os 120 Dias de Sodoma") enfrentou perseguições e processos judiciários. Em 1975 morreu assassinado por um jovem chamado Pelosi.
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