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Aramis

Teresa conta a história do homem que trouxe japoneses

Hora de rever a cultura que vem do Oriente. Em cartaz, na cidade, dois dos melhores exemplos do cinema japonês - o apocalíptico "Black Rain - A Coragem de uma Raça" (Cine Groff, 2ª semana) e o lírico, belíssimo e, indiscutivelmente, um dos 10 melhores lançamentos de 1991, "Sonhos" (Cinema I), que só um gênio (Akira Kurosawa) na maturidade plena (80 anos) poderia realizar. São dois exemplos de filmes dignificantes, de visão indispensável. Em ambos, um grande apelo pela paz - justamente por mostrarem a insanidade da guerra e a poluição do meio ambiente. Qualquer um dos dois vale por dez mil discursos dos ecologistas de plantão. Por outro lado, para se entender melhor a cultura e o povo japonês é preciso conhecer a sua história. E é isto, justamente, que uma inteligente nissei, Tereza Hatue de Rezende (o sobrenome brasileiro é por conta de seu casamento com o jornalista político Claret de Rezende), paulista de Itaí mas londrinense por adoção (e nos últimos anos curitibano por opção) faz em "Ryu Mizuno - Saga Japonesa em Terras Brasileiras" (Secretaria da Cultura / Minc-Pró Leitura / Instituto Nacional do Livro, 115 páginas), que tem seu lançamento nacional (Nikkey Palace Hotel, São Paulo, sexta-feira; em Curitiba, dia 11, na Sociedade Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira, ex-Bun-Enko) . Professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira formada pela Universidade de Londrina, onde lecionou a partir de 1971, há três anos na coordenadoria de Pesquisa e Documentação da Secretaria da Cultura - Teresa Hatue, pelas suas próprias origens japonesas, começou ainda adolescente a se interessar pela história da imigração. Após a leitura de um livro sobre a biografia de Ryu Mizuno (Sagawa, 11/11/1859 - São Paulo, 14/08/1951), responsável pela imigração nipônica para o Brasil, escrita por um nipo-londrinense, Seishiro Ushikuo, Tereza decidiu revisitar, com maior profundidade, o assunto que lhe pareceu rico demais para ficar apenas no modesto trabalho existente numa mínima edição. Assim, com a permissão de Ushikuo, Tereza empreendeu pesquisas em São Paulo, Rio de Janeiro, Suzano, Londrina e buscou compor todo um painel da época (1904) em que o relatório do ministro plenipotenciário da época, Fukashi Suguimura, discute as possibilidades de imigração japonesa ao Brasil (inclusive a íntegra deste documento é transcrita). Em dois capítulos, Teresa analisa as relações históricas do Brasil e o Japão, para, após mostrar a personalidade de Mizuno, sua ação político-estudantil, tendências socialistas e sua luta para fazer a primeira emigração ao Brasil. Particularmente importante a análise da situação das colônias pioneiras no Paraná - especialmente a de Cacatu, as margens do rio do mesmo nome, no município de Antonina - até hoje pouco conhecida - já que seria no Norte do Estado que os japoneses se fixariam e influiriam inclusive economicamente. Em sua visão ampla, Tereza encerra o livro fazendo um approach em torno dos chamados "dekasseguis", ou seja, os jovens de uma emergente terceira geração que, em busca de melhores oportunidades, estão fazendo a imigração inversa - ou seja, voltando ao Japão - em busca de fortuna - já que hoje aquele país é o mais rico do mundo. Inteligente, profundo, bem escrito, "Ryu Mizuno - Saga Japonesa em Terras Brasileiras" é um exemplo de obra referencial, importante, e que realmente merece ser editada com patrocínio oficial.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
06/03/1991

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