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Titane e Rubinho, o belo canto mineiro

Minas Gerais é um dos Estados mais musicais do Brasil. Qualquer levantamento indicaria dezenas de grandes nomes, do passado e do presente, que nasceram nas alterosas e trouxeram uma imensa contribuição a musicografia. Uma energia criativa que só tem aumentado nos últimos anos, com novas gerações se sucedendo, em diferentes estilos. Há os que dali saíram e obtiveram projeção nacional - alguns (como o próprio Milton Nascimento) retornando depois, enquanto outros, por razões diversas tem preferido a tranquilidade mineira. Um dos melhores compositores dos anos 60, Pacífico Mascarenhas, apesar de vários discos gravados, nunca quis deixar Belo Horizonte, onde é grande industrial. Paulinho Pedra Azul, após ter feito um (antológico) elepê na RCA, que passou despercebido, voltou-se a trabalhar em seu Estado onde é dos mais populares, com meia-dúzia de discos gravados que nem se preocupa em vender fora de seu circuito de apresentações. Carlos Felipe, editor de música d'O Estado de Minas, há muito já deveria ter publicado um "who's who" da música de seu Estado, ele que tanto estimula e apóia a cultura. Uma empresa de Belo Horizonte, Letra & Música, agencia e agiliza o trabalho de dezenas de artistas regionais e a Bemol, moderno estúdio de BH, tem proporcionado a gravação de dezenas de discos, mas que sofrem a falta de divulgação, pois, na maioria das vezes, são trabalhos independentes. E a qualidade é da melhor - indo desde o som mais puro, rural, de Teo Azevedo ou Zé Coco do Riachão (que há alguns anos chegou a fazer dois LPs na WEA) até propostas urbanas. Através de um bom amigo, Adriano, da cidade de Montes Claros (um celeiro de cineastas, poetas, modinheiros e compositores) sabemos que Zé Coco está lançando um novo disco e que Aline, talentosa compositora (que há algumas semanas, aliás, fez apresentações em Curitiba) também tem novo elepê. Em termos de revelação vocal, a mais grata surpresa é ouvir Titane, cantora afinadíssima, lembrando um pouco a mato-grossense Tetê Espíndola, que num disco belíssimo traz um punhado de composições inéditas, com gosto de Brasil, falando de temas regionais, utilizando-se inclusive de grupos que se dedicam a uma pesquisa musical - como Uakti, Curare e a Guarda Moçambique de N. S. Do Rosário, integrando as composições de autores jovens, mas voltados à tradição do rico cancioneiro mineiro, temas de domínio público, como acontece por exemplo em "Fujão" (de Zé Neto) acrescentando uma canção perpetuada pelos cangaceiros da cidade de Oliveira. Emocionante a audição deste disco de Titane, pela brasilidade das canções, envolvimento dos compositores com o melhor da tradição - nos quais mesmo um compositor urbano, como Juca Filho (ex-parceiro de Zé Renato, já tendo feito um elepê) volta-se a visão interiorana em "barranco", enquanto Eugênio Gomez homenageia ao grande Adoniran Barbosa (1910-1982) com "Adoniran no Céu". Excelentes instrumentistas, em formações diferentes - como os dois violoncelos em "Canção para Nascer de Novo", ou o coral em "Enredo da Fé" conseguiram dar uma personalidade especial a cada faixa. Uma das presenças fortes no disco é Rubinho do Vale, autor de "Canção da Lua Nova", um dos melhores compositores-intérpretes mineiros, do mesmo grupo de Titane. Tanto que a cantora está presente em várias faixas dos elepês "Violas e Tambores" (gravada em 1984) e "Viva o Povo Brasileiro" (produzido em 1986). Rubinho é um compositor incrível, um cantador que nos remete na melhor tradição da busca da simplicidade das coisas do povo, com uma obra que há muito mereceria ser divulgada em plano nacional (que faz um projeto que integrasse melhor autores como estes num intercâmbio Estado a Estado).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
17
17/04/1988

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