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Aramis

Três bons LPS de Samba

Três bons elepes de música brasileira, para quem está interessado em conhecer o que há de novo. MIRIAM BATUCADA - Inexpressiva artisticamente até há algum tempo, com pouca personalidade artística, Míriam Batucada parece ter encontrado no produtor Coelho Netto (não confundir com o romancista, já falecido) um homem capaz de orientar inteligentemente sua carreira. Assim é que neste seu novo lp ("Amanhã Ninguém Sabe", Chantecler, 2-09-404-057), apresenta, com muito equilíbrio, um repertório de bom gosto, valorizando veteranos sambistas como a admirável dupla Wilson Batista-Geraldo Pereira, legítimos criadores da malandragem no Samba, com "Acertei no Milhar" (um dos grandes êxitos de Moreira da Silva) e Noel Rosa ("Você Vai Se Quiser"). Mas há outras músicas interessantíssimas, que Míriam incluiu neste seu disco: "Tudo Em P" de Jorge Nóbrega-Angelo Delatre; "Conversa de Samba", de Denis Bream-Oswaldo Guilherme; "Apanhei Um Resfriado" de Leonel Azevedo e Sá Roris; "Felicidade" de Lupicínio Rodrigues; "Meu Romance" de J. Cascata; "Chuá Chuá" de Pedro Sá Pereira-Ary Pavão; "O Que Vier Eu Traço" de Alvaiade-Zé Maria e "Teco Teco" de Pereira da Costa. De Chico Buarque, Míriam gravou a música que dá titulo ao elepe, de Erasmo/Roberto Carlos, valoriza "O Show Já Terminou" e de Sérgio Sampaio é "Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua". Ela própria também mostra uma razoável composição: "Você é Meu Melhor Amigo". David Drew Zing fez as (boas) fotos de capa/contra-capa. DEFINITIVAMENTE parece que Antônio Carlos (Pinto) e Jocafi (José Carlos Figueiredo) encontraram o caminho da mina. Depois de muito lutarem, estes dois baianos especialistas em criarem refrães de fácil comunicabilidade, estão hoje entre os compositores-cantores que mais faturam (cada um tira, limpo, mais de Cr$ 200 mil por mês) e que vem seu público crescer cada vez mais em todo o Brasil. O novo elepe da dupla ("Definitivamente", RCA Victor 110.005, dezembro/74), é uma produção bem cuidada, trabalho como sempre de Rildo Hora, excelente record-man da Victor, ao qual eles muito devem. Com arranjos e regências de Leonardo Bruno, amparados em bons instrumentistas (incluindo Rildo na harmônica e Leonardo Bruno no violão e guitarra), Antônio Carlos Jocafi trazem um repertório novo, incluindo uma música com a qual tentaram participar de uma escola de samba da Guanabara que homenageou Jorge Amado ("Dona Flor e seus dois maridos"), a música com a qual ganharam um festival de música popular no Japão ("Diacho de dor", que gravaram com a participação especial de Maria Creusa, esposa de Antônio Carlos) e "O Poeta e o Cobertor", a música de maiores pretensões com uma internacional "chupada" de um canto gregoriano. As demais faixas são; "Alarme falso", "Chuculatera", "Sexto sentido", "Maldita Hora", "Terceiro ato"(Romance teatral), "Meia noite", "Toró de lágrimas", "Uma ordem sim senhor" e "Definitivamente". CANDEIA/SAMBA DE RODA - Como diz Juarez Barroso ("Jornal do Brasil", 20/12/74), para o povo do samba seu nome é conhecido há mais de 20 anos, mais precisamente a partir de 1953, quando a Portela venceu um carnaval com samba seu e de Valdir 59, "Seis Datas Magnas". Fora do âmbito das escolas ou dos iniciados do samba, ele começaria a se impor em 1970, quando lançou o seu primeiro Lp individual (já tinha várias músicas gravadas, inclusive o "Minhas Madrugadas"). E Candeia, por extenso Antônio Candeia Filho, um dos maiores sambistas vivos, notável melodista, dono de um estilo próprio dentro do samba tradicional, eufórico, cheio de imprevisibilidades rítmicas ("Não tem Veneno", por exemplo). Pela Tapecar, há alguns meses, saiu seu terceiro LP individual, "Na Roda de Samba", no qual aprofunda uma linha de trabalho já esboçada em seu segundo disco, "Raízes"; a criação dentro de outros ritmos afro-brasileiros, como o jongo, o caxambu, a capoeira. Vale ouvir mestre Candeia, cantando ou falando, pois ele é aquele artista que sabe das coisas. Homem que sempre se recusou a ser o crioulo folclórico, consciente operário musical, ele dá uma aula de cultura popular, fala de seu amor à escola, local onde o sambista deve permanecer e lutar, apesar das descaracterizações: "Nosso lugar é lá dentro".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
14
27/03/1975

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