Login do usuário

Aramis

Tributo a Zé Maria, o grande homem do teatro

José Maria Santos não morreu. Oito meses após aquele trágico 4 de janeiro que, tão tristemente, marcou o início do ano, quando o mais estimado profissional de nossos homens de teatro foi sepultado no Jardim da Saudade, seus amigos e discípulos reúnem-se neste sábado, para lembrá-lo em seus grandes momentos artísticos e, principalmente, promover uma grande manifestação para que o seu nome seja, definitivamente, dado ao teatro que idealizou e construiu na Rua 13 de Maio. Embora as obras de reforma do antigo Teatro da Classe estejam ainda em ponto zero - e mesmo com toda boa vontade do Banestado em assumir a sua construção, dificilmente virá a ser concluído, ao menos numa primeira etapa, nesta administração. Os jornalistas Ulisses Yarochineski e Jorge de Oliveira e a atriz Claudete Oliveira, estão entre os 17 jovens que tiveram em José Maria Santos, quando alunos da antiga Escola Técnica Federal do Paraná, mais do que o professor de cadeira (optativa) de teatro, o amigo e orientador que soube faze-los aprender a conhecer a beleza do teatro - e que organizam, agora, esta manifestação. Ulisses Yarochineski, 31 anos, jornalista e ator, redator do "Jornal do Estado" - cujo editor de arte, Ruy Barroso, tem sido um dos grandes batalhadores pelo movimento em favor de que o nome de José Maria Santos seja, o quanto antes, oficializado para o teatro, recorda: - "Quando estudava telecomunicações na Escola Técnica foi que comecei a me interessar por teatro. Graças a José Maria, aprendi muito. Além de algumas montagens do Teatro dos Estudantes da Escola Técnica - "A Invasão" e "Os Pequenos Burgueses" - posteriormente participei, nos bastidores especialmente, de várias outras montagens feitas por José Maria". Integrando hoje a assessoria de comunicação da Volvo, mas sem ter abandonado o teatro, Ulisses recorda outra fato importante: - "Foi também José Maria quem estimulou-me e ao Jorge Oliveira, hoje na equipe da TV Paranaense, a fazer jornalismo. Eu seria talvez um engenheiro em telecomunicações, financeiramente mais bem remunerado, mas possivelmente frustrado, se o José não tivesse sido o amigo certo naquela hora". Com curso de especialização em jornalismo feito no período 1986/87 na Universidade de Barcelona, batalhando pelo nosso teatro, Ulisses foi um dos idealizadores da programação que será apresentada no auditório do Cefet, neste sábado. Além de uma montagem, em vídeos, longas e curta-metragens - além de "Mal", último vídeo em que José Maria atuou - serão lidos vários textos, incluindo uma "autobiografia poética" de "Doce Primavera", peça de Manoel Carlos Karam que José Maria levou, inclusive, ao Rio de Janeiro. Dois outros poemas - "O que Passou, Passou" de Paulo Leminski e "E Agora, José?", de Carlos Drummond de Andrade, também serão apresentados". xxx Na segunda parte do evento, se discutirá a criação de um grupo de ação para mobilizar a comunidade sobre a justiça de se dar o nome de José Maria Santos ao teatro que idealizou e praticamente construiu, bem como demonstrar o repúdio aos medíocres - inclusive da área oficial do "poder cultural" - que, inexplicavelmente, vem procurando boicotar a homenagem. O professor Ivo Mezadri, diretor da Escola Técnica Federal do Paraná quando, há 17 anos, José Maria Santos ali iniciou seu trabalho de extensão cultural, deverá ser uma das presenças. Os organizadores da homenagem - além da viúva Rute Santos, e seus filhos - também estão esperançosos de que René Dotti, secretário da Cultura e ator em sua juventude - portanto contemporâneo de José Maria desde que ele aqui chegou nos anos 50, vindo da Lapa (nasceu em Guarapuava, mas se considerava lapiano de coração) também compareça. Nos 17 anos em que foi professor na Escola Técnica Federal - José Maria montou nada menos que 26 peças de teatro, que, direta ou indiretamente, envolveram mais de 700 jovens. Destes, mesmo que só alguns tenham feito carreira no teatro (o que não era, aliás, objetivo das atividades), se conseguiu uma coisa muita importante: despertar o interesse cultural, formando-se, assim, não apenas os excelentes técnicos de nível médio (e superior) que o Cefet gradua, graças a ser uma instituição-modelo, mas também pessoas sensíveis à cultura e às artes. xxx As encenações que José Maria Santos fez com o grupo de teatro estudantil representavam as únicas chances de se levar ao palco textos com dezenas de intérpretes, impossíveis de serem reunidas em montagens profissionais. Também devido ao bom preparo técnico dos jovens - e as excelentes instalações da Escola - os cenários, recursos de iluminação, sonoplastia, etc., também sempre foram esmerados. Motivos de sobra para que, neste sábado, com emoção, se preste esta homenagem a José Maria Santos. E que se inicie um plano decisivo para que os frustrados que tentam reduzir sua importância cultural e artística - inclusive com covardes mentiras e infâmias - voltem aos esgotos de onde nunca, aliás, deveriam ter saído.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
02/08/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br