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Aramis

Troféu Kikito ao vencedor, mas sem dinheiro

GRAMADO - A seriedade e prestígio do Festival de Cinema que desde 1973 se realiza nesta paradisíaca cidade serrana é hoje tão forte que nem o fato do cancelamento dos prêmios em dinheiro aos vencedores desta 15ª edição fez com que se reduzisse o interesse pelo evento. Ao contrário, o nível dos participantes, a presença maciça de estrelas, galãs, realizadores, técnicos e jornalistas que já se encontram aqui, desde segunda-feira - e que aumentarão no final de semana - confirma a definição de Gramado como o grande evento cinematográfico não só do Brasil, mas mesmo da América do Sul - apesar da idéia de uma mostra paralela de filmes de outros países do continente, ter sido abandonada após duas tentativas. Em compensação, uma amostragem do cinema para a infância, com filmes de grande apelo - como dos Trapalhões e de Mônica e Sua Turma - oferecem nas sessões da tarde do Cine Embaixador, uma opção para milhares de crianças de toda esta região. O presidente da comissão executiva do festival, vice-prefeito Enoir Orzanello a cujo entusiasmo e organização se deve o fortalecimento cada vez maior do evento, explica que "o grande prêmio deste festival é o Kikito". Este ano, ao contrário das edições anteriores, não haverá prêmios em dinheiro, instituídos, desde o seu início, pelo governo do Rio Grande do Sul. - "O cancelamento é atribuído às grandes dificuldades financeiras do Estado e ocorre também porque a organização não dispõe de mais dinheiro para esta promoção". O custo do 15º Festival - incluindo sua estrutura, hospedagem e passagem para cerca de 500 pessoas - aproxima-se dos 10 milhões de cruzados. Romeu Dutra, ex-secretário de Turismo de Gramado - responsável pela implantação do festival em janeiro de 1973 e ex-diretor da Companhia Riograndense de Turismo, voltou este ano a integrar a comissão executiva e comentava conosco, na noite de domingo: - "Os recursos financeiros são obtidos em várias fontes. A Embrafilmes entrou com Cz$ 2 milhões e o resto foi um somatório da iniciativa privada, empresariado de Gramado e o governo gaúcho. O importante é que o festival não pode mais ser interrompido". Se não há prêmios em dinheiro, o recebimento do troféu Kikito (o Deus da Alegria), esculpido em madeira pelo artesão gramadense Xixo, da criação original da artista plástica Elisabeth Rosenfeld, já falecida, significa uma consagração. Os júris - são três este ano - procurarão manter os nomes dos vencedores nas várias categorias e bitolas (35/16mm/Super 8) em segredo até a hora final - no sábado, dia 2 - quando os apresentadores oficiais - Yania Carvalho e Clóvis Duarte - estarão chamando no palco do Cine Embaixador os ganhadores. Isto após a projeção de "A Cor Do Seu Destino", de Jorge Duran - o grande premiado no último festival de Brasília no ano passado e um dos três filmes hors concours programados para este ano. NOVA ESTRUTURA - Com a inauguração do moderno e amplo centro de convenções do Hotel Serrano, o "QG" do festival transferiu-se para este agradabilíssimo quatro estrelas. O Serra Azul, que vinha sendo a principal sede social do festival, há 14 anos, está em obras - mas ainda continua movimentado. Seus apartamentos estão todos ocupados - assim como os demais hotéis não só de Gramado, mas também da vizinha Canela. O novo centro de convenções do Hotel Serrano, com salas que homenageiam grandes nomes da cultura gaúcha como o escritor Érico Veríssimo e o pioneiro cineasta Eduardo Abelim (biografado no belo "Sonho Sem Fim", de Lauro Escorel, aqui premiado no ano passado e já exibido em Curitiba) oferece seus amplos espaços com condições para os debates à tarde com os realizadores dos filmes em competição, encontro de mulheres cineastas, uma mostra experimental de vídeo e exposição do fotógrafo Sérgio Bonfante sobre o tema "Natal Luz". Uma experiência interessante também é a que os artistas plásticos Jailton Moreira, Carlos Wladimirsky, Maria Ivone dos Santos, Cíntia Vasconcelos, Mário Rohnet e Milton Kurtz realizam a doze mãos: um grande painel tendo como tema o filme "A Cor De Seu Destino". A obra será montada amanhã, dia 30, sendo posteriormente a renda revertida para as campanhas da Unicef. O jovem ator do filme, Gil Guilherme Fontes, é um artista plástico e isto motivou mais este marketing em torno deste filme que aborda os conflitos de uma família de exilados chilenos vivendo no Rio de Janeiro (Duran, o diretor, é chileno, foi assistente de Costa Gravas em "Estado De Sítio", rodado em Santiago, e mora no Brasil há 12 anos). A idéia de aproximar a criação de artistas plásticos do filme será repetida na próxima terça-feira, dia 5, no Palácio dos Leilões, no Rio de Janeiro, com a participação dos artistas Carlos Scliar, Glauco Rodrigues, Adriano de Aquino, Daniel Senisse e Florinda Grassi também com fins beneficientes: o trabalho será leiloado em favor do comitê de solidariedade ao povo chileno. Em Curitiba, quando o filme for lançado - não se sabe ainda a data - poderá também se montar um esquema semelhante, desde que alguma organização pró-solidariedade ao Chile se movimente e entre em contato com o cineasta Jorge Duran. LEGENDA FOTO - Maurício de Souza trouxe os filmes de Mônica e sua Turma para o "festivalzinho" que ocorre paralelamente a mostra competitiva. Sessões lotadas no Cine Embaixador.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
15
29/04/1987

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