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Aramis

As trovas grossas e gauchescas de Gildo

"Me chamam de grosso e não tiro a razão Eu reconheço a minha grossura Mas sei tratar qualquer cidadão Até representa que tenha cultura Eu aprendi na escola do mundo Não foi falquejado em bancos colegiais Eu não tive tempo de ser vagabundo Porque quem trabalha vergonha não faz". (Gildo de Freitas) Há quase dois anos, na coleção Esses Gaúchos, criada pelo editor Airton Ortiz, na Tchê (a editora de bombacha), dentro dos projetos culturais alusivos às comemorações do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha, foi incluído, como volume 22, um livro dedicado a Gildo de Freitas (105 páginas, capa de Canini). Se os outros gaúchos incluídos na coleção, da área musical, eram nomes famosos mesmo fora do Rio Grande do Sul - Lupiscinio Rodrigues, Elis Regina, Teixeirinha, Pedro Raimundo etc. - de Gildo de Freitas poucos saberiam fora das fronteiras gaúchas. Entretanto, ao mergulhar em sua obra e vida, o jornalista Juarez Fonseca, 41 anos, gaúcho de Cangussu, desde 1964 em Porto Alegre, 18 anos de jornalismo - ex-Folha da Tarde, hoje Zero Hora, soube resgatar e valorizar uma figura marcante da cultura popular do Sul. Afinal, Gildo de Freitas é considerado no Rio Grande do Sul como "o maior trovador que já pisou este chão". E diz Juarez que antes de Gildo só houve outro mito: Pedro Muniz Fagundes, o Pedro Canga, nascido na região da Campanha cem anos antes e personagem da história da Revolução Farroupilha. Se no Nordeste há os repentistas - motivo de toda uma ampla bibliografia (e, infelizmente, escassa discografia, já que é uma tradição pouco valorizada pelos meios de preservação gravada), no Sul os cantores de improviso se integram há uma tradição de origens milenares, como um bom estudo a respeito pode revelar. Falecido há quatro anos (Porto Alegre, 04.12.1983), aos 64 anos (nasceu em 19 de junho de 1919, no subúrbio de Passo D'Areia, também em Porto Alegre), Gildo de Freitas deixou muitas gravações a maioria na Continental, que ainda hoje estão em catálogos. São discos interessantes (e indispensáveis) para se conhecer um dos aspectos da cultura popular gaúcha, com um trovador que acima de qualquer preocupação estética falava, a sua maneira das coisas da vida. E que por isto mesmo mantém, anos após a sua morte, um público fiel. Pela Discoteca, da Nilo Odone Selin, um cantor da nova geração gaúcha, Luiz Fernando, homenageia o velho trovador ("Os Maiores Sucessos de Gildo de Freitas"), dele gravando momentos inspirados (e como sempre bem humorados) como "Briga no Carregamento", "Baile do Chico Torto", "Baile dos Cabeludos", "Recordação", "Gabriela", "Todos Devemos Rezar", "Saudades dos Pagos", "Prova e Amor" e o seu mais conhecido "Reconheço que sou grosso", verdadeiro auto-retrato no qual coloca a sua visão de homem do povo, ignorante a qualquer regra pré-estabelecida, mas autêntico em sua visão do mundo. Claro que para entender melhor a Gildo de Freitas o ideal é ouvir as suas próprias gravações ("O Trovador dos Pampas", "O Rei dos Trovadores", "O Ídolo", entre outros elepês feitos na Continental), embora Luiz Fernando, cantor e acordeonista, procure ser fiel nesta homenagem prestada ao poeta popular.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
29/03/1987
Que belo texto camarada, Gostaria apenas considerasse a produção de discos dos repentistas nordestinos com ampla, tanto nos pimórdios como atualmente. O antigo selo Campeiro era quase exclusivamente dedicado a esse tema. Cordiais abraços, Chico Leite Trovador.

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