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Aramis

Um feliz Natal ouvindo Nat Cole, Rogers e brasileiros

Houve um tempo em que a música sazonal ditava as regras no mercado fonográfico. Compositores como Braguinha compunham de acordo com as estações e as efemérides: as canções juninas, os sambas carnavalescos e, naturalmente, as músicas de Natal. Hoje, com a mudança do mercado, poucas vezes se dá importância às datas para lançamentos especiais - a começar pelo Carnaval, cuja música se restringe aos sambas-de-enredo das escolas do Rio de Janeiro e São Paulo (eventualmente, algum outro Estado tenta apresentar discos com músicas de seu Carnaval mas o fracasso é grande). Entretanto, a EMI/Odeon, dirigindo o setor de marketing especial, encontra-se hoje com um record-man de sensibilidade e inteligente, que buscando o equilíbrio entre o artístico e o comercial vem fazendo as melhores reedições do ano: Francisco Rodrigues. No ano passado, ofereceu aos fãs do pianista-cantor Nat King Cole um belíssimo presente de fim de ano - uma caixa com 5 elepês ("Songs We'll Never Forget") em que Cole (Montgomery, Alabama, 17/03/1919 - Santa Mônica, Califórnia, 12/02/1965) interpretava 70 clássicos de seu repertório. Uma produção tão cuidadosa quanto foi a originalmente lançada pela Capitol nos EUA (só que aquela, com 20 elepês, com a íntegra da obra gravada por Cole), que não nos cansamos de enaltecer e que continua agora, um ano depois, como uma excelente opção de presente fino e de extremo bom gosto - pois é possível ainda encontrar esta edição nas boas lojas, entretanto, o competente Chiquinho não ficou nesta reedição: após reunir momentos culminantes de Milton Nascimento na faixa "Travessia" (também com cinco elepês), supervisionou mais de dez importantes reedições. E agora, para este final de ano, entre três reedições natalinas, temos "Cole, Christmas & Kids", montado originalmente por Kin Niemi, com 13 canções alusivas à data magna da cristandade e cuidadas remixagens. Assim, temos desde o "Mr. Sant Claus" (Fulton Steele / Houle), num registro de 12/10/1953, na qual Nat era acompanhado pela orquestra de Nelson Riddle a uma faixa inédita - descoberta nos arquivos da Capital - "Brahm's Lullaby", sobre um tema de Johannes Brahms que Nat registrou em 22/08/1947. Outra preciosidade desta gravação - o que por si só, a torna indispensável para os apreciadores de Cole - é a faixa "Toys for Tots", uma produção criada para a campanha "Brinquedos para as Criancinhas", do serviço público para a reserva da marinha americana. No mergulho que fez para pinçar as canções identificadas ao chamado "Espírito de Natal", Ron Furmanek trouxe registros em que Nat era acompanhado por diferentes formações: por exemplo, com o seu trio e o coral The Starlighters é "All I Want for Christmas" (Donald Gardner), gravado em 03/10/1949. A histórica orquestra de Pete Rugolo o acompanha numa composição de - vejam só - Mickey Rooney - "The Little Christmas Tree", registrada em 25/09/1950. Dave Cavanaugh e Orquestra oferece o belo emolduramento a voz redonda de Nat em "Buon Natale" (Means Merry Christmas to You, 12/11/1959), "The Happiest Christmas Tree", de Cathy Lynn (gravado em julho de 1959, mas só lançado em novembro). Outra orquestra notável, a de Ralph Carmichael, com afinadíssimo coro, foi convocada outras vezes por Cole: "Come all ye Faithful", um tema tradicional, gravado em 05/06/1960 - mas que nesta versão nunca antes havia sido editada; "God Rest ye Merry Gentlemann", com arranjo do próprio Cole, em registro de julho de 1960. Um grande sucesso em 1951 foi "Frosty the Snowman" (Nelson / Collins), que gravado em agosto/50 com acompanhamento de Rugolo, orquestra e o grupo The Singing Pussycats, chegou ao terceiro lugar na parada em 06/05/1951. Nelson Riddle e Orquestra pode ser ouvido ainda em "The Little Boy that Sant Claus Forgot" (outubro/53), "The Christmas Song" (Tormé / Wells, outubro/53) e "Take me Back to Outland" (Mann / Lowell), lançado em dezembro de 1955 e que duas semanas depois já escalava as paradas de sucesso. xxx Depois deste histórico álbum de Natal com o imortal Nat King Cole, temos um álbum de um único astro interpretando canções natalinas: o country Kenny Rogers ("Christmas", Liberty/EMI/Odeon), recria desde o mais famoso hino natalino - "White Christmas" de Irving Berlin (marca registrada de Bing Crosby, sempre relançado no Natal), a músicas típicas do Oeste americano como "Kentucky Homemade Christmas" (Kin Vassy / Billi Cawell). Outros standards desfilam neste disco de grande afetividade, como "Sweet Little Jesus Boy", " Christmas is my Favorite Time", "O Holly Night", "When a Child is Born" e, num arranjo especial, "My Favorite Things" (Rodgers / Hammerstein), da trilha de "The Sound of Music". xxx Em termos de Brasil, a música de Natal tem um hino maior "Boas Festas", de Assis Valente (1911-1958), que Carlos Galhardo (1913-1985) lançou em 1933 e, hoje, 57 anos depois, continua eterna. Mas o nosso cancioneiro não se reúne a este clássico e por isto Francisco Rodrigues ao idealizar "Noite de Paz", numa embalagem em que o programador gráfico Egeu Laus previu até a capa (de Mário Bag) com espaço para dedicatória, escolheu outros temas, mostrando que a data maior teve várias canções. Começa por "Ave Maria" (Jayme Redondo / Vicente Paiva), na interpretação de Dalva de Oliveira e seu filho, Pery Ribeiro. "Prelúdio para Ninar Gente Grande" (Luiz Vieira) vem numa interpretação instrumental de Waldir Azevedo, enquanto "O Velhinho" faz com que ouçamos o há muito esquecido João Dias. Evaldo Gouveia / Jair Amorim compuseram uma "Balada a Qualquer Natal", que Altemar Dutra gravou, enquanto Mauro Duarte / Paulo César Pinheiro deram sua visão no samba "Menino Deus", gravada por Clara Nunes. Num arranjo notável do sempre lembrado maestro Lindolfo Gaya (1921-1987) com o Coral das Meninas da Casa de Lázaro, temos "Natal das Crianças" e "Boas Festas". O potpourrit natalino prossegue misturando clássicos internacionais e brasileiros - "Adeste Fideles", "Pinheirinho de Natal", "Jingle Bells", etc., enquanto canções de sentido espiritual, com belas letras, também entram nesta montagem: "Prelúdio nº 2" (Paz do Teu Amor) de Luiz Vieira, com Taiguara; "Vamos Dar as Mãos... e Cantar" de (e com) Silvio César; "Fim de Ano", "Valsa da Despedida" e até "Está Chegando a Hora" - estas já apropriadas ao reveillon. Três discos marcantes, trilhas sonoras ideais para as festas deste final de ano. Bela idéia de Francisco Rodrigues em colocá-los no mercado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
6
23/12/1990

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