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Aramis

Um festival modesto que merece estímulo

A modéstia do I Festival Estadual da Canção Popular, realizado no último sábado pelo Diretório Acadêmico Clotário Portugal, não retira a validade desta promoção. A exemplo de centenas de outros eventos semelhantes que há quase 20 anos vêm sendo promovido em centenas de cidades, nos mais diferentes segmentos - clubes, faculdades, escolas, associações profissionais etc. - é um escoadouro da produção musical de jovens em busca de oportunidade de mostrarem suas músicas. Este é o primeiro aspecto que faz com que se analise com simpatia - e mesmo uma dose generosidade crítica - as canções inscritas. O jovem Raul Vaz da Silva Portugal, estudante da Faculdade de Direito de Curitiba e coordenador deste I Festival, teve a dificuldade de, pela modéstia dos prêmios oferecidos, encontrei muitos candidatos: apenas 28 inscritos. Assim, a seleção das 15 concorrentes foi bastante tolerante, possibilitando que músicas ingênuas, amadorísticas, chegassem a ser apresentadas - o que não ocorreria se tivesse havido maior número de candidatos, possibilitando pré-seleção mais rigorosa. De qualquer forma, só o esforço de ver moças e rapazes fazendo suas canções e as apresentando num palco justifica o evento. xxx Uma música de letra ingênua e ritmo agradável, com uma certa dose de ironia foi a classificada em primeiro lugar - << Prosopopéia >> de Beto e Osni Cercal. Falando do amor de uma forma agradável, os autores conseguiram grande comunicação e a melhor votação por parte da comissão julgadora. << Ponto Brilhante>, da dupla Ricardo Pereira e Paulo Costa, penúltima concorrente na noite, segunda classificada, apresentou uma estrutura mais trabalhada e uma bela letra, perdendo o primeiro lugar por apenas sete pontos. Um trecho desta música já demonstra a sua beleza. Quem sabe a gente se encontra Lá no fim, começo do mundo A gente se cruze No mar, no céu, no olhar E em cada gosto um coração E em cada beijo uma canção Que pode ser ponto brilhante Do nosso amor Também falando de amor e com um fácil refrão, Jussara Solange da Silva e Célio Armando Janczeski em << Volta Logo >> ficaram em terceiro lugar. Já o promissor Milton Karan, jovem que tem se destacado em vários festivais musicais realizados no Paraná, ofereceu a melhor contribuição da noite: a política canção << Vera>. Acompanhando-se ao violão, dizendo os longos versos de uma canção bem construída, Milton Karan apresentou aquela que foi, em nosso entender, a mais interessante participação do festival. Mas como no julgamento, pesa a soma de todos os jurados - ficou com apenas 139 pontos e um distante quarto lugar - quando, no entender do experiente radialista Antônio Carlos Rocha (Metropolitana FM), um dos mais requisitados membros de júris de festivais de MPB no Paraná, merecia o primeiro lugar. Milton Karan é uma promessa musical, capaz de se destacar vigorosamente neste universo. Também com conotações sociais - << Angustia de migrante>., de Carlos Alexandre Ogg, defendido pelo grupo Acauã, ficou em quinto lugar. xxx A comissão julgadora foi formada por Raul Vaz Portugal, o compositor Lidio Roberto Silva, Antônio Carlos Rocha, o veterano músico Janguito do Rosário, a professora Altamira da Costa Manadori e este repórter. O comunicativo Cláudio Ribeiro funcionou como apresentador do festival. Independente do nível da maioria das músicas inscritas - o que tornou praticamente pacífica a premiação das 5 melhores - a iniciativa do Diretório Acadêmico Clotário Portugal merece estímulo, principalmente, que tenha continuidade - pois a grande falha nas promoções artístico-culturais realizadas no Paraná e sua temporalidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
18/10/1983

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