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Aramis

Um filme sem happy-end: fazer curtas no Paraná

A novela dos quatro curtas-metragens de cineastas locais, iniciada há dois anos quando a Secretaria da Cultura fez um convênio com a finada Embrafilme, ainda não terminou: nenhum dos filmes pode ainda ser devidamente concluído e o clima de desânimo desceu sobre os realizadores. Fernanda Mori, por exemplo, após gastar todas suas economias para tentar finalizar "A Loira Fantasma", acabou, prudentemente, aceitando o convite do empresário Henrique Almeida e se integrando a sua equipe no Amapá, por onde o irmão do empreiteiro Cecílio é candidato ao Senado. Como está faturando em dólares, é possível que Fernanda retorne com um saldo bancário que possibilite terminar o seu curta, baseado nos fatos que há 11 anos foram manchete dos jornais locais quando uma bela loira fantasma andou assustando motoristas e policiais na madrugada. Apesar de todas as premiações que "O Mundo Perdido de Kozak" obteve há dois anos no circuito dos festivais, o rigoroso Fernando Severo não conseguiu recursos suficientes para finalizar seu "Longas Sombras no Fim da Estrada", que rodou há meses no Litoral paranaense e com o qual pretende trazer novos prêmios. Mesmo com apoio de um amigo rico e generoso, não deu para terminar o filme. "A Flor", filme de animação dos irmãos Wagner, também está em compasso de espera e "Lápis de Cor e Salteado", de Nivaldo Lopes (Palito), embora concluído precariamente, precisaria uma melhor montagem final para não ser cortado nos festivais em que for inscrito - como aconteceu em Gramado, onde a comissão de pré-seleção considerou "primitiva" a forma com que o curta foi finalizado. Aliás, em Gramado, o único curta em 35mm, de realizador paranaense, aceito foi "Vamos Juntos Comer Defunto", de Eloi Pires Pereira que, infelizmente, não conseguiu maior repercussão. Assim, 1990 mostra-se trágico para os realizadores audiovisuais no Paraná - reflexo, aliás, de uma crise nacional num ano em que a Embrafilme/Fundação do Cinema Brasileiro foram extintas a 16 de março, desativada a Lei Sarney e cortados projetos de mais de 50 filmes - entre longas e curtas e dos seis festivais de cinema, três deles já foram cancelados: ou adiados: a 6ª edição do FestRio (em novembro), O Rio-Cine Festival (em agosto) e o Festival de Cinema Brasileiro de Curitiba, que com patrocínio da Lufthansa/Texaco aconteceu no ano passado - mas que segue o destino de tantas outras promoções locais, condenadas a não passarem da primeira edição. Não somente os curtas-metragens que vem tendo suas produções arrastando-se há dois anos estão condenados, ao menos a curto prazo, ao indeditismo, mas até a produção de vídeos, mais econômicos e práticos, também se reduziu - embora em Maringá se promova um Festival nesta bitola. Os irmãos Schulmann vêm tentando concluir um documentário sobre Theodoro De Bonna, que sonhavam até lhes desse uma viagem a Veneza - para documentar trabalhos que o artista morretense ali realizou nos anos 30, durante os anos que viveu na Itália. Entretanto, o vídeo ainda não pode ser concluído. Eloi Pires Ferreira só pode finalizar o seu curta, em 35mm, "Vamos Juntos Comer Defunto?", fazendo empréstimos pessoais. Outros exemplos poderiam serem lembrados, mas bastam estes. A situação não poderia ser um pouco menos asfixiante para talentos que, em 16mm, 35mm ou vídeo, poderiam levar nossas imagens a eventos nacionais? Mesmo com toda a crise econômica, não haveria recursos para se fazer algum projeto viável? Uma questão que pode oferecer algumas respostas. Uma experiente produtora local, calejada com orçamentos de miséria sempre que se faz projetos culturais, chocou-se com o que se vem desperdiçando em filmes e vídeos nas campanhas políticas. "Com 10% que se está gastando em algumas campanhas milionárias daria para fazer 4 bons curtas" completa. A Prefeitura de Curitiba, que dispõe de um moderno equipamento de vídeo - desativado e jogado nos depósitos da Fucucu, sem qualquer utilização por mais de um ano (agora, junto a Secretaria da Comunicação, documenta as inaugurações e outras atividades do prefeito Jaime Lerner), não só impede que esta aparelhagem possa ser utilizada por nossos videomakers como a Fucucu, apesar de ter se comprometido oficialmente a regulamentar a lei que criou o Fundo Municipal de Cinema (com recursos dos cinemas que explora comercialmente), passados 10 meses, nada fez. Um desrespeito, inclusive ao vereador Mario Celso, que apresentou pedido de informações a respeito, recebeu uma resposta evasiva e agora vai exigir providências a respeito. Enquanto o panorama de criação cinematográfica em Curitiba é de desânimo (apesar do prefeito Jaime Lerner ser um cinéfilo entusiasmado), em Florianópolis as perspectivas são animadoras. Conforme registramos em outro texto nesta mesma coluna.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
02/09/1990

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