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Um filme sobre conflitos da terra abriu o Festival

Brasília Apesar de recebido com rigor por parte de alguns críticos - especialmente Sérgio Bazzi, do "Correio Braziliense" e que integrou o júri de pré-seleção - o filme que abriu esta 23ª mostra competitiva - "Mais que a Terra", de Elizeu Ewald, não deixou de ser uma surpresa para quem procura ver o cinema com um olhar mais social. Com trabalhos realizados no Exterior, que lhe deram créditos para conseguir recursos internacionais (Holanda, Alemanha e França) para esta produção (que se arrastou por quatro anos), Ewald fez um filme sincero, bem intencionado, sobre os conflitos da terra nas chamadas "novas fronteiras" do Brasil. O roteiro (Alcione Araújo) mistura vários temas da atualidade - destruição do meio ambiente, invasão das multinacionais, prostituição, assassinatos de posseiros, corrupção das autoridades etc. O elenco é desigual. Stênio Garcia o ingênuo Cícero, um ex-agricultor que vivendo na cidade grande como motorista de ônibus, decide voltar a trabalhar na terra, atraído pela promessa de um primo mau caráter. Sua interpretação não convence, assim como a de Vanessa Alves, como a menina vendida pelos pais para um geólogo que, disfarçado como jornalista, faz prospecções sobre minérios na região e acaba assassinado. José Dumont, como Natalino, líder de um grupo de sem-terras que resistem aos grileiros, e Jandira - (Malu de Moraes, também atriz em "Césio 137" e "Círculo de Fogo", este dirigido por seu marido Geraldo de Moraes) estão, entretanto, bem no filme, que tem uma fotografia cuidada de Antônio Luís Soares e trilha sonora do compositor paulista Passoca. Em alguns momentos sente-se um toque fordiano, como um western contemporâneo e lembranças de dois outros filmes que se voltaram a temáticas próximas - "Iracema", de Jorge Bodanski e "Fronteiras das Almas", de Hermano Alves são referência - embora a intenção de Elizeu Ewald tenha sido a de fazer um filme com raízes próprias, "abordando uma temática que entusiasma, por sua atualidade, platéias internacionais". Possivelmente se fosse tratada como mini série de televisão, "Mais que a Terra" poderia ter recursos técnicos e cuidados finais que faltaram nesta produção rodada no Interior de Goiás, mas, por certo, não teria a sinceridade que seu realizador busca passar. Igualmente rodado no Interior de Goiás, no segundo semestre do ano passado, "Círculo de Fogo", de Geraldo de Moraes, abordando conflitos políticos e econômicos numa pequena cidade - com ingredientes de sexo e violência - será exibido hoje a noite, após os curtas "Festa de Casamento", do gaúcho Sérgio Silva e "Manhã", dos catarinenses José Henrique Pirese e Norberto Depizzolatti.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
13/10/1990

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