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Aramis

Um laboratório sem teto encaixotado no depósito

- "O que mais fez com que Eny ficasse doente foi o fato de ela ter sido afastada daquilo que mais ama: o ensino". Com a devoção que dedica há mais de 25 anos a sua mestre e amiga, a capixaba Noemia Leal, faz uma confidência: - "Desde que Eny deixou de exercer o seu trabalho diário no ensino, sentiu-se amputada. Especialmente porque a idade nunca a impediu de trabalhar". O que mais magoou a professora Eny Caldeira foi o fato de que o seu Laboratório de Pesquisas e Experimentações Pedagógicas, que montou graças ao seu relacionamento e com recursos próprios, foi simplesmente despejado da sala que ocupava no 5º andar do Edifício D. Pedro II, onde funcionou por mais de 20 anos. Sem a menor sensibilidade a respeito, uma jovem - cujo nome, elegantemente, evita dizer - com a autoridade temporária e a ignorância característica de pessoas que não sabem respeitar ao grandes mestres, simplesmente expulsou a professora Eny de seu laboratório, quando, antes que fosse aposentada compulsoriamente por idade limite (70 anos) requereu seu afastamento, há dois anos passados. Livros, relatórios, dezenas de pesquisas e mesmo peças que compunham um dos mais completos laboratórios sobre educação no país teriam sido perdidos se não fosse a generosidade do síndico do Edifício André de Barros, onde a professora residia até o ano passado, que entendendo o drama que a mestra passava - por não dispor em sua residência de espaço para guardar este valioso acervo - permitiu que o mesmo, encaixotado, fosse depositado num depósito no último andar do edifício. - "E ali está este material precioso, que mesmo tendo sido bem encaixotado, corre o risco de se deteriorar com o tempo" - lamenta a professora Eny, que se cansou de, nestes últimos anos, procurar sensibilizar tanto o Estado como a Prefeitura, a lhe dar um espaço em que possa montar novamente o laboratório. Mulher sempre atualizada com novos métodos, tem uma visão objetiva da importância deste laboratório. - "Há 15 anos, fui a primeira educadora no Paraná - e creio que uma das primeiras do Brasil - a me ligar na importância da informática no ensino. Procurei trazer computadores para a educação e só pela eterna falta de recursos é que não pude desenvolver um trabalho que teria colocado o setor de Educação da Universidade Federal do Paraná na vanguarda desta área". Assim, somada a sua experiência e o valor do acervo que reuniu ao longo de uma vida, a professora Eny se dispôs a, generosamente, supervisionar sua implantação "em qualquer espaço condigno que me seja oferecido", naturalmente com pessoas competentes para a auxiliarem. Ou seja, um presente para a educação no Paraná - que merece, no mínimo, a atenção do novo secretário Abrão Elias. Um dos irmãos de Eny, o advogado José Caldeira, pessoa bastante relacionada na cidade, também se empenhou para conseguir um espaço para o Laboratório de Pesquisas e Experimentações Pedagógicas, mas não conseguiu resultados práticos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/03/1991

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