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Aramis

Um pólo batateiro para ajudar nossa economia

Há alguns anos o Paraná sonhava com a implantação de um pólo petroquímico, que acabou, por razões políticas e graças a uma presença maior das lideranças gaúchas - indo parar em Porto Alegre. Agora, são os catarinenses que reivindicam o poço de petróleo da Petrobrás no Atlântico - e que pertence ao Paraná. Antes que alguém leve vantagem, está na hora de se falar na criação de um outro pólo: o da Batata. E ninguém ironize, dizendo: Vá plantar batatas! xxx Há vários meses que já está nas mãos dos dirigentes do Banco Regional de Desenvolvimento Econômico um sério, amplo e bem fundamentado projeto sobre a criação do Pólo Batateiro do Paraná. Foi elaborado pela Meerk Consultoria, coordenado por um dos mais respeitados engenheiros químicos do Paraná, o professor Léo da Rocha Lima. Mestre há 37 anos da cadeira de Aparelhos e Operações Industriais do curso de química da Universidade Federal do Paraná, Léo é um homem da maior experiência em setores vitais, especialmente da área de produção de energia e combustível. Integrou o grupo de planejamento para implantação da Usina de Xisto Pirobetuminoso de São Mateus do Sul, foi membro do Conselho da Petrobrás e diretor técnico da primeira grande fábrica de produção de álcool de fontes alternativas - implantada em Mato Grosso do Sul - entre outras atividades. xxx Técnico da maior competência, ampla visão das questões que desafiam o mundo neste final de século - a produção de alimentos e de energia alternativa - o professor Léo da Rocha Lima foi um dos principais responsáveis pela usina de produção de álcool que o grupo Sinop Agro-Química implantou em Mato Grosso do Sul, a partir de 1975, num investimento (na época) de US$ 40 milhões. Buscando tecnologia na Europa - em especial na Noruega e, com assessoria da GebbBecker (indústria alemã fundada em 1750) que, num certo momento, chegou a se associar ao projeto - a Usina começou utilizando a raiz de mandioca como matéria-prima para a obtenção do álcool. Com uma produção de 175 litros/tonelada de mandioca (enquanto a cana-de-açúcar dá 65 litros/tonelada), apresentou um problema: a impossibilidade da colheita mecanizada, o que inviabilizou a sua utilização dentro de quantidade necessária para a capacidade da usina. Testou-se, então, a batata-doce - com uma produtividade maior (188 litros por tonelada), chegando-se depois ao grão de sorgo - este com o melhor resultado na produção: 425 litros por tonelada. Cultura relativamente recente, de origem asiática e introduzida no Brasil a partir do Rio Grande do Sul, o sorgo revelou-se a melhor matéria prima para a produção de álcool. Infelizmente, o programa apresentou problemas a partir de 1985 e hoje a Sinop (que recorreu a empréstimos internacionais, em dólar, para implantar a indústria) tenta equacionar-se dentro de uma nova realidade. xxx A experiência que teve como diretor-industrial da usina, especialmente na pesquisa da batata, como matéria prima para o álcool, fez com que o professor Léo da Rocha Lima aprofundasse ainda mais seus conhecimentos em torno do tubérculo, que, em sua potencialidade, "não tem sido aproveitado como deveria". O fato da produção da batata ser das mais expressivas no Paraná - especialmente na região de Curitiba - e com uma política agro-econômica que não beneficia os agricultores, que a ela se dedicam, foram fatores que subsidiaram a elaboração de um amplo estudo, mostrando as possibilidades deste produto - e justificando a criação de um pólo batateiro. Em depoimento a um grupo de jornalistas, gravando para a série Memória História do Paraná, patrocinada pelo Bamerindus, o professor Léo da Rocha Lima, demonstrou as várias opções para que, a partir da produção da batata no Paraná - e através de núcleos em Contenda (região metropolitana de Curitiba), Lapa e Guarapuava, se abra uma nova frente de economia. Ao lado da política oficial - razão pela qual, pela primeira vez, o BRDE dispõe nas mãos de um estudo técnico do mais alto nível - a própria associação dos produtores numa forte cooperativa, viabilizaria o pólo. Pois, assim raciocina Léo: - "Temos que considerar sempre três aspectos: a existência da matéria prima; sua tecnologia de aproveitamento e o capital-comercialização para o produto final". Nascido em Goiás Velho, mas em Curitiba desde sua juventude - aqui chegou para fazer seus estudos a partir do ginásio, formando-se em engenharia química na turma de 1948 ("não completei o curso antes porque devido a II Guerra Mundial estive mobilizado por três anos"), Léo da Rocha Lima teve na indústria siderúrgica, em seus primeiros passos no Brasil, ainda nos anos 40, sua primeira experiência profissional. A partir da década de 50, acompanhou a área do xisto betuminoso, da energia por carvão - na usina da Utelfa, em Figueira - e vários outros projetos. Professor da antiga Escola de Química da UFP desde 1950, tem quatro livros publicados. Um deles, "Aplicação Técnica da Régua de Cálculo" (Editora Edgard Blucher, 1971, 97 páginas) é o único existente no mundo. Já teve traduções para o inglês e o alemão e até os japoneses entusiasmaram-se com seu trabalho: - "Mesmo com a era da informática, meu manual continua atual" - comenta. Aos 68 anos, impressionante vigor e dedicação ao trabalho, Léo da Rocha Lima aderiu a era da informática: em seu Apple Unitron, organiza milhares de informações técnicas, produto de uma vida profissional de estudos e pesquisas - planejando projetos e estruturando também novos livros técnicos. Atualmente, como titular da cadeira de Operações Industriais - "e tendo a tranqüilidade de contar com três assistentes do mais alto nível" - o professor Léo da Rocha Lima se dedica a pesquisa do amigo e, especialmente, no novo campo da ciclodistrinas - tecnologia avançadíssima da química fina que, entre inúmeras aplicações, abre possibilidades amplas para a conservação e melhoria (especialmente na aromatização) dos alimentos. Léo é um dos pouquíssimos brasileiros que recebe regularmente as restritas publicações da Institut of Food Tecnology, em Londres - com as mais recentes informações sobre as pesquisas nesta área. Técnico, professor e pesquisador que ao longo de uma vida profissional das mais ativas - lembrando sempre a importância que teve no Paraná o Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas (no qual trabalhou por anos, ali desenvolvendo inúmeros projetos), Léo da Rocha Lima mostra-se otimista em relação ao novo mundo deste final de século: - "O importante é, jamais, deixar de pesquisar e estudar todas as possibilidades que tragam benefício ao homem e seu meio ambiente".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
14/10/1988

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