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Aramis

Um violão, uma flauta & muito talento

Num país de pianistas e violinistas como o Brasil, os executantes de metais são raros. Pela falta de condições profissionais, inexistência de um mercado estimulante e criatividade instrumental, os saxofonistas, pianistas, clarinetistas, trombonistas e flautistas escasseariam. Não só no plano regional, mas mesmo em termos nacionais, onde, por exemplo, dá para se contar nos dedos os flautistas do 1.º time - como mestre Copinha, o veterano Altamiro Carrilho, ou os jovens Franklim ou Sando (ex-Quinteto Violado). Assim em Curitiba, a existência de um flautista da dimensão de Alaor de Oliveira, 36 anos, é algo que ainda não merece o devido prestigiamento. Absolutamente original em seu fraseado, de extrema criatividade, Alaor é um instrumentista autodidata, que a partir de 1945, com o instrumento que conserva até hoje, vem desenvolvendo uma carreira bissexta, interrompida, infelizmente, por problemas de ordem particular. Se fossem outras as circunstâncias, Alaor seria hoje um músico de projeção nacional, de sólida situação financeira - pois talento para tanto não lhe falta. Entre tanto, só agora obteve a chance de desenvolver um trabalho regular, graças a visão do violonista e seresteiro Mário Trevor, que o contratou para o regional do Marito`S (Rua Dr. Murici, 1111), hoje o melhor endereço gastronomico-musical da cidade. Ali, todas as noites, ao lado de outros instrumentistas admiráveis - como os veteranos Arlindo (violão de 7 cordas), Bento (bandolim) e Janguito do Rosário (cavaquinho), Alaor dá shows de absoluto virtuosismo, improvisando ao mais difíceis choros do mestre Patapio Silva até a temas da Bossa Nova. Musico aclético, capaz de se integrar com perfeição tanto a um grupo de chorões , como o do Marito`s, ma também de acompanhar novas tendências sonoras, Alaor encontrou, há alguns meses, durante uma sessão de gravação no Sir - Laboratório de Som e Imagem, outro talento da cidade, o violonista e compositor Reinaldinho, moço de muita quilometragem de vivência e que há alguns meses vem tentando sobreviver, exclusivamente de sua música entre Alaor e Reinaldinho nasceu a idéia de um espetáculo - "Um Violão, Uma Flauta e Uma Voz, Simplesmente Nós"- que após um tímido lançamento, na série "Seis e Meia", no Teatro Universitário, terá agora uma reprise, segunda-feira à noite, no Guairinha (21 horas, ingresso a apenas Cr$ 5,00). A maioria dos músicos a serem apresentados é inédita - exceção de "Velho Baltazar", "Canção Para Ela", "O Encontro" e "Só", anteriormente mostradas em shows do grupo "Arco Íris Noturno", também de Reinaldinho, em show no Paiol. Ouvir Reinaldinho ao violão - com seu lirismo e belas harmonias, e a flauta de Alaor, com imagens belíssimas - numa enternecedora "Valsa dos Tolos", digna do melhor Nino Rota num filme de Fellini - é acreditar que há muito de bom em nossa música popular. Pena que instrumentistas como Alaor e Reinaldinho tenham, até hoje, um público tão restrito - e poucos souberam entendê-los na dimensão que marcarem. *** É bom lembrar: hoje e amanhã, no Teatro do Paiol, apresenta-se um dos mais sólidos talentos da música popular- o compositor-cantor Luiz Gonzaga Júnior. Um espetáculo que ninguém deve perder. FOTO LEGENDA- Alaor O exemplo da "Industria" Uma comprovação de que uma entidade pode editar uma publicação de altíssimo nível, sem "oba-oba" promocionais, sem ridículas badalações ilustradas com fotos de diretorias, amigos do presidente etc. é a revista "Indústria", que está comemorando seu segundo aniversário de interruptas edições. O presidente Altavir Zaniollo, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, em 1975, soube entregar a coordenação da publicação ao jornalismo Eddy Antônio Franciosi que, profissional experiente, com vivência em vários setores - da dramaturgia ao colunista social, que excerceu com dignidade durante quase 10 anos, conferiu a "Indústria" uma seriedade e objetividade que a faz, hoje, uma publicação de respeito nacional. Há um ano, um número especial, com o título de "Pequena História". Focalizava a industrialização no Paraná, tendo o texto leve e agradável de Eddy uma visualização perfeita nos desenhos perfeitos de mestre Poty Lazarotto. Agora, novo número especial, desta vez dedicado a Roberto Simonsen (1889-1948), industrial, engenheiro, sociólogo, parlamentar, economista, e escritor, além de idealizador do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senaí) e o Serviço Social da Indústria (Sesi), hoje espalhados por todo o Brasil. O primeiro para suprir de operários qualificados a industria nacional, o segundo para prestar-lhes assistência social. Entre uma e outra edição especial de "Indústria", todos os números trouxeram materiais opoetunas, análises corretas do setor, enriquecendo, assim, a literatura especializada, com uma publicação digna e correta. Importante em termos de informação, principalmente agora, que a Revista Paranaense de Desenvolvimento editada pelo Badep, vem há meses capengando, com matériais insonsas e cansativas, necessitando há muito de uma reformulação e com uma editora ágil, capaz de dinamizá-la, a exemplo da "Indústria", uma revista dirigida que justifique o investimento. FOTO LEGENDA- Indústria. O Semeador. A vida e obra de Roberto Simonsen. Mais uma polêmica em termos de patrimônio histórico: em Ponta Grossa, o plano elaborado pelo clero para demolir a Igreja Matriz dividiu não só os fiéis mas os próprios sacerdotes, alguns dos quais já manifestaram sua irritação à medida. A Igreja, cuja construção data de 1852, à averá ser demolida para a construção de uma nova matriz - mais ampla e moderna - e entre a corrente favorável a essa "modernização" está e monsenhor Vicente Vitola, de Curitiba, membro do Conselho do Patrimônio. A Câmara dos Vereadores já solicitou ao arquiteto Sérgio Todeschini Alves, diretor do Departamento do Patrimônio Histórico, para que impeça a demolição "de mais este monumento que pode ser considerado como o único patrimônio histórico existente em Ponta Grossa, conforme diz um dos documentos. Sérgio viajou na quinta-feira a Ponta Grossa para fazer um levantamento da Igreja e tomar uma posição. Recorda-se que há alguns meses, houve semelhante polêmica em Curitiba, quando foi apresentado o projeto para "modernização" da Catedral, que revoltou parte do clero e fiéis.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
04/06/1977

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