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Aramis

Uma chance de conhecer o novo cinema soviético

Poucas estréias mas, em compensação, mais um festival de filmes inéditos, vindos para exibições especiais. Desta vez "O cinema soviético dos anos 80", oportunidade para se conhecer o recente cinema da URSS, que começa a ter repercussão internacional - graças, especialmente, a política de abertura da era Grotchev e liberação de obras censuradas ao mesmo tempo que se possibilita aos realizadores maior liberdade de criação. Entre as estréias temos a comédia "A cegonha não pode esperar", de John G. Avildsen (Bristol) e "Mercadores da morte" de Tom Holland - com a interessante Woopie Goldberg (de "A cor púrpura") no elenco (Lido I). No mais, a programação continua com os filmes que vêm tendo bilheteria razoável - ou reprises capazes de levantar o vermelho dos borderôs. Felizmente, ao menos dois dos bons filmes brasileiros do ano - "Eternamente Pagu", de Norma Bengell (Ritz) e "Feliz ano velho", de Roberto Gervitz (Luz) continuam em cartaz. "Dedé Mamata", de Rodolfo Brandão, foi substituído no Condor por "Um príncipe em Nova York" - e ao que consta não tem relançamento previsto - já que a distribuição é da CIC - que só programa seus filmes em circuito próprio. Comédia jovem - John G. Advilsen, 52 anos, 21 de cinema, nos EUA foi uma revelação com "Joe" - um filme antimilitarista, de 1970, que nunca chegou ao Brasil. Com seu emocionante "Sonhos do passado" (Save the tiger, 73) deu chance a Jack Lemmon de ganhar o Oscar de melhor ator. Com uma filmografia que vai desde sucessos como "A hora da verdade" (The Karatê Kid, hoje já na terceira parte, mas com outro realizador) e "Rocky II" - até filmes menos conhecidos ou mesmo inéditos no Brasil ("Slow Dancing in the big city"), Avidsen é um cineasta que merece atenção. Portanto, sua presença na direção de "A cegonha não pode esperar" credencia esta comédia que, aparentemente, se insere na linha do cinema jovem, dentro do modismo que caracteriza 70% da produção mais comercial americana. Em "For Keeps" - título original - a história gira em torno de uma gravidez indesejada de Darcy Elliot (Molly Ringwald), que com Stan Bobrucz (Randall Batinkoff, estreante como ator principal) forma um "perfeito casal" na comunidade escolar de Kenosha, Wisconsin, a partir deste plot, o filme discute um problema comum a jovens de todo o mundo - o risco de uma gravidez precoce, apesar de há muito a pílula ter trazido a libertação para a mulher definir quando quer ou não engravidar. Mas, há sempre riscos... Molly Ringwald é uma atriz-mignom: morena, sensual, fez o musical "Annie" na Broadway e, no cinema, após "Tempestade" (de Paul Maruszrski) e "Caçador de andróides" (Blade Runner, em reprise no Cine Guarani) se transformaria na adolescente ideal para comédia como "A garota do vestido cor de rosa" (já a disposição em vídeo), "The Breackfast Club", "Sixteen Candles" e "O rei da paquera". Outra atração é a trilha sonora coordenada por Bill Conti e com participações que vão desde a orquestra de Lawrence Welk até a nostálgica Jo Stafford ("You belong to me"), grupos The Miklos Factor ("Dinossaur bondes") e Lemont Dozier ("Pow!"). Uma estréia simpática, que merece verificaçã! Cinema soviético - Com seis filmes - cada um em exibição em quatro sessões alternadas no Cine Groff - a mostra "O cinema soviético dos anos 80", proporciona que se conheça o cinema que começa ser revelado pela Glasnost e se mostra "especialmente interessado em ver as coisas com aquele mesmo olhar crítico do Eiseinstein de "Outubro", do Vertov de "Kinoglaz", do Dovjenko em "A Terra" - como diz o catálogo de apresentação de títulos. A primeira revelação veio em fevereiro de 1987 com a apresentação de "Tema" (Hoje, 16 e 22h; dia 9, 14 e 20h), direção de Gleb Panfilov, melhor filme e "Despedida de Matiora" (hoje, 14 e 20h) prêmio da crítica no Festival de Berlim. No fim de semana teremos dois outros filmes interessantes: "Os sinos de Chernobil", 1986, de Rolan Sergeenko - documentário atualíssimo realizado entre 28 de maio a 16 de junho de 1986, um mês depois da tragédia de Chernobyl (que aconteceu a 27/4/86). "Kin Dza Dza", 87, de Georgui Daniela, representou a URSS no último FestRio é um ficção científica um pouco chato: transportados para um outro planeta, dois homens se descobrem de repente numa região deserta onde um simples palito de fósforo é uma importante fonte de energia. "Os sinos de Chernobyl" será exibido às 14 e 20h de sábado e às 16 e 22h de domingo; "Kin Dza Dza" no sábado (16/22h) e 14 e 20h no domingo. O festival inclui ainda na seguda e terça-feira, "A lenda da fortaleza Suran", 86, de Dodo Abshidze e Sergei Paradjanov - adaptação de uma lenda georgiana e "Romance cruel", 86, de Elmar Riazanov - com ação ambientada no século XIX quando a filha de uma senhora outrora rica procura seu amor. Outras opções - Enquanto "9 1/2 semanas de amor", de Adrian Lyne, continua a exercer seu fascínio - em exibição agora no Cinema I, entusiasmando adolescentes que sonham em viver as fantasias sexuais de kim Basinger submetida ao erotismo yuppie de Mickey Rourke, no Astor, retorna "O exorcista" (The exorcist), 1973, de William Friedkim - que há 15 anos mostra como o diabo ajuda a faturar o medo do público. Mas se o exorcismo descrito por William Peter Blatty continua a assustar, pelo visto a demonologia de John Carpenter em "O príncipe das sombras" (Prince of darkness) não agradou: após uma magra semana no São João, este terror-movie ali foi substituído pelo medíocre "Ninja dos ninjas" (Diamond Ninja Force), na linha Kung-fu. Um terror-soft, na linha do humor, "Os fantasmas se divertem" (Beetlejuice), de Tim Burton, sucesso nos EUA, chega na próxima semana - mas amanhã, à meia-noite, tem pré-estréia no Astor. "Duro de matar" (Die hard), de John McTiernel continua no plaza, assim como "Monjas pecadoras", de Dario Donati - e que tem em seu elenco até a bela Eva Grimaldi (que acabou de filmar em São Paulo "Forever", de Walter Hugo Khouri) continua no Cine Itália. No palace-Itália, um sub-Rambo: "Bradock 3 - O resgate", de Aaron Norris, com o inexpressivo Chuck Norris. Para quem curte terror, "Poltergeist III" continua no Lido II. No circuito especial, na Cinemateca, uma mostra sobre "Cinema, comunidade, movimentos populares", que inclui hoje a exibição do documentário "Lages, a força do povo", 82, de Tetê de Moraes - a realizadora de "Terra para Rose", 87, finalmente em lançamento nacional - mas que só em fevereiro/88 chegará a Curitiba. LEGENDA FOTO - Whoopy Goldberg é Rita, uma detetive corajosa em "Mercadores da Morte", no Lido I.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
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1
04/11/1988

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