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Aramis

Uma escola que vive em crises

Retirar a Escola de Música e Belas Artes do Paraná da crítica situação em que se encontra há alguns anos será, sem dúvida, uma das primeiras missões de Belmiro Castor, futuro secretário da Educação no governo Álvaro Dias. Isto porque no saldo negativo da administração José Richa, a EMBAP, fundada em 3 de outubro de 1949 também foi uma das vítimas. Quando, em 30 de abril de 1985, a secretária Gilda Poli, da Educação, numa decisão autoritária (bem de acordo com sua polêmica personalidade) decidiu designar como interventora da Escola de Música e Belas Artes do Paraná uma advogada, Lilian Mello Schell, que até então exercia cinzentas atividades burocráticas na Secretaria (vindo de Londrina, meses antes), praticamente toda a comunidade da Escola de Música e Belas Artes do Paraná foi agredida. Afinal, duas semanas antes, a 19 de março de 1985, os 105 docentes da EMBAP haviam participado da votação para a formação da lista tríplice, da qual o governador José Richa, deveria nomear o novo diretor. Na lista, estavam três nomes do mais alto respeito: o arquiteto e professor Fernando Carneiro e os pintores e professores Fernando Calderari e João Osório Brzezinski. Intempestuosamente, a secretária Gilda Poli vetou as indicações e nomeou um interventora que, passados quase dois anos, continua nas funções, numa atitude ditatorial, e totalmente incompreensível num governo que sempre fez apologia das eleições diretas e defendeu a liberdade de opinião. xxx A crise havia se agravado, é bom lembrar, com a renúncia do diretor anterior, o compositor, pianista e professor Henrique Morozowicz, 56 anos. Compositor consagrado internacionalmente, Henrique não é, entretanto, um homem talhado para funções administrativas e, irritado e nervoso, sentindo-se acuado pela situação que se formou frente a discutida fusão da Escola de Música e Belas Artes do Paraná com a Faculdade de Educação Musical, não viu outra solução do que renunciar. Antes, porém, havia assinado, já em 2 de janeiro de 1984, um ofício dirigido ao Conselho Estadual de Educação, no qual chegava a propor a extinção da EMBAP, favorecendo assim a corrente que desejava a sua integração a Faculdade de Educação Musical do Paraná. O fato chegou a ser denunciado no boletim da Associação dos Docentes da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, formado justamente para reagir a esta fusão altamente discutível e que, para beneficiar a Femp - outra escola superior envolvida em sérias crises - pretendia acabar, pura e simplesmente, com uma instituição com quase 40 anos de tradição, e pela qual passaram muitos nomes de nossas artes plásticas e da música. xxx A reação dos professores e alunos da Embap - que chegou as ruas, em organizadas manifestações, impediu que a fusão se concretizasse. A Faculdade de Educação Musical, por sua vez, após muitas brigas internas - com acusações a sua diretora, professora Icleia Rodrigues, - pretendeu tomar como sede o terminal do Portão, um elefante-branco construído pela Prefeitura para servir ao sistema de ônibus integrados, mas que nunca funcionou. Só que a pretensão foi frustrada, pois o prefeito Roberto Requião não só recusou a cessão do imóvel, como, alertado de sua importância, decidiu transformá-lo numa unidade cultural, inclusive, para sede de um museu formado exclusivamente com o magnífico acervo doado pelo artista Poty Lazarotto. xxx Assim, a Escola de Música e Belas Artes do Paraná continua independente - embora submetida a quase dois anos a uma interventora que não tem qualquer vínculo com a mesma. Instalada num prédio construído nos anos 30, há muito que a Embap enfrenta problemas de espaço, poluição sonora etc. Várias propostas para seu deslocamento a uma sede condigna esbarraram na intolerância e, especialmente desinteresse dos donos do poder. Há alguns anos, acenou-se a possibilidade da mesma vir a se localizar junto ao Centro de Treinamento do Magistério, no Boqueirão. Em 1979, quando o arquiteto Jaime Lerner iniciou sua segunda administração, na Prefeitura de Curitiba, o primeiro projeto foi de transformar as antigas instalações da fábrica Estearina Paranaense, na área do Centro Cívico, num teatro infantil e sede da Escola de Música. O então todo poderoso secretário de Planejamento do governo Ney Braga, Véspero Mendes, vetou o projeto, com a ridícula alegação de que não era conveniente ter "concentração de estudantes" na área do Palácio Iguaçu (sic, sic). Assim, ironicamente, a Escola de Música e Belas Artes, que pelo seu próprio espírito, deveria funcionar numa área tranqüila, com amplos jardins, salas espaçosas e confortáveis, continua num edifício decadente, num dos quarteirões com maior nível de poluição sonora da cidade. xxx Quando assumiu o cargo, a interventora Lilian Schell, falava que sua presença seria temporária, "Apenas o tempo suficiente para que fosse elaborado o novo regimento interno". Após muitas delongas, uma eficiente comissão mista, formada por dois professores da Embap e representantes da Secretaria da Educação e do Conselho Estadual de Ensino aprontou, em 45 dias, o documento. Entregue no dia 16 de outubro último, até hoje o regimento interno nem sequer foi apreciado pelo Conselho. E o mais grave: mordida pela mosca azul do poder, a interventora Lilian Schell já teria comentado com algumas pessoas, sua disposição de continuar na função para a qual foi designada, arbitrariamente, há dois anos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
24/12/1986

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