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Aramis

Uma festa atrapalhada na guerra de estrelas

A atriz curitibana, Malu Maeder esperava, por certo, que ao ser escolhida, para dividir com o ator Denis Carvalho as funções de mestre de cerimônias do encerramento do FestRio, teria chances de ganhar maior promoção a sua carreira. O tiro saiu pela culatra a pobre starlet acabou vivendo momentos de aflição, numa festa que parecia ter direção de Renato Aragão, tanto foram as trapalhadas da noite. Malu começou seu festival de gafes quando anunciou o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Alencar, como presidente da Assembléia Legislativa - justificando o erro porque estava no script". Depois de confundir Marcelo Alencar com o deputado Eduardo Chuahy (PDT) , presidente do Legislativo fluminense, Malu cometeu outra gafe: apresou-se e não deixou que o diretor do Festival Internacional do Filme Documentário de Leipzig (um dos três homenageados pela ajuda que tem dado a promoção do cinema brasileiro no Exterior), Wolfgang Harkental, agradecesse a distinção (mais tarde, Wolfgang foi chamado ao palco para um replay da homenagem). Mas a confusão maior foi provocada quando, irritado pela falta de traquejo de Malu e Denis, que anunciaram a premiação da melhor atriz, dividido entre a canadense Christina Pak ("90 Days") e a inglesa Glenda Jackson ( "O Diário da Tartaruga") - e ninguém havia sido chamado para receber os prêmios em seus nomes ( afinal, elas não vieram ao FestRio), o produtor Luis Carlos Barreto apanhou o microfone e pediu que, em nome de Glenda, a atriz Ellen Burstyn, integrante do júri, subisse ao palco. Barreto acrescentou que "desta forma duas grandes atrizes se conhecerão", referindo-se ao fato de que Fernanda Montenegro faria a entrega do troféu a Glenda. Sem entender o que estava acontecendo, Ellen Burstyn - e que durante todo o festival havia permanecido esquiva, preferindo assistir aos filmes do camarote especial para o júri (ao invés de ficar na platéia, como os outros membros), subiu ao palco mas exigiu tradução. As explicações que lhe foram dadas ao pé do ouvido parece que não a satisfizeram, pois, ao contrário, ela falou, em inglês, que "não tinha havido divisão da premiação de melhor atriz". Não passou nem um minuto para que Norma Benguel, também integrante do júri, subisse ao palco e, como uma leoa ferida, fosse esbravejando contra "senhora que não entendeu nada: houve um empate e decidimos dividir o prêmio". Entre vaias do público e gritos de jornalistas e fotógrafos, uma frase do jornalista argentino Carlos Hugo Aztarahien, correspondente do "Hollywood Reporter". - "Saia do palco. Ellen é uma grande atriz. Calate!" Furiosíssima, preparando-se para responder com palavrões, Norma só pode dizer que "sou uma grande atriz, com 30 anos de carreira", antes que Barreto, preocupado com o rumo das coisas, tomasse o microfone de suas mãos e, invocando sua autoridade de presidente do júri, chamasse os outros membros para confirmarem a votação. Assim, a atriz francesa Bernadette Lafont, os cineastas chileno Miguel Littin e o húngaro Istvan Szabó, subiram ao palco para confirmar que realmente tinha havido um empate na questão da premiação das atrizes (Gian Maria Volonté, também jurado, que durante todo o festival se mostrou arredio e irritado , devido a séria doença que o atormenta, já havia se afastado da platéia, assim como aconteceu na noite de abertura). Confirmada a premiação e dadas as explicações, Ellen desculpou-se - mas as vais foram grandes e, por certo, tão cedo não esquecera o lamentável incidente que provocou. No hall de entrada da sala Glauber Rocha - e depois, durante o coquetel na beira da piscina do Hotel Nacional, o incidente ganhava novos contornos e desdobramentos. Para Norma, Ellen havia agido de má fé, influenciada por Harry Stone (que representa a Motion Pictures, há 30 anos, no Brasil). Ellen teria estranhado o baixo nível dos dois filmes que representaram os EUA ("O Alvo", de Arthur Penn e "Plenty/ O mundo de Uma Mulher", de Fred Schepisi) e, segundo as fofocas, Stone teria dito que "como o festival tem tendências esquerdistas, os Estados Unidos não iriam prestigiá-lo com os seus melhores filmes". O fato é que os incidentes - entre verdades e mentiras - fez com que o clima meio desanimado da festa, provocada também pelo pouco impacto dos filmes concorrentes, ganhasse seus "potins" ( o próprio Denis Carvalho, tentou, brincando, explicar: "Festival é isto mesmo"). Para compensar, o filme que o público viu a seguir foi o melhor de todos: "Tangos - O Exílio de Gardel", uma obra-prima de Fernando Solanas, música de Astor Piazolla, falando de exilados argentinos em Paris, a música porteña, um elenco internacional (as francesas Maria Lafóret e Marina Vlady e vários atores argentinos ) e uma fotografia inesquecível, capturando as mais belas imagens da Cidade Luz. Para muitos, só a oportunidade de assistir "El Exílio de Gardel" compensou o festival. E este filme, felizmente, já tem lançamento garantido nos cinemas brasileiros em 1986.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
11
04/12/1985

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