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Aramis

Uma grande estréia e última chance para ver "O Grito"

Com o Brasil partindo para as quartas-de-final - dependendo do resultado do jogo de ontem, com a França (impossível de prever, quando editávamos esta página), é natural que a programação cinematográfica continue precária - já que é preferível manter os filmes que ainda dão alguma resposta em termos de bilheteria ao invés de fazer chutes fora do gol - isto é, queimar filmes que podem faturar mais a partir de agosto - já que o mês de julho será reservado para as fitas de censura livre, aproveitando as férias. A surpresa é a decisão da UIP em lançar no Condor, substituindo a "Posições Comprometedoras", de Frank Perry, uma produção sofisticada, com uma atriz que já garante uma afluência de público exigente: Meryl Streep. Selecionado para representar os Estados Unidos no FestRio-85, "Plenty" não teve nenhuma premiação naquela mostra - embora se falasse em Meryl para o troféu de melhor atriz. Também a sua criação da complexa Susan Traherne, da peça de David Hare, na qual o australiano Fred Schepisi baseou o roteiro, poderia lhe ter valido uma indicação ao Oscar de melhor atriz - se a atuação como a escritora dinamarquesa Isak Denisen em "Entre Dois Amores" (Out of Africa) já não tivesse justificado a mesma indicação. No final, a premiada, merecidamente, foi a veterana Geraldine Page, 62 anos, que pela oitava vez aguardava a chance de levar para casa o boneco dourado. Afora "O Mundo de uma Mulher", a outra novidade da semana é um filme rodado há 16 anos - e aqui lançado há 21: "O Grito", de Michelangelo Antonione (Cinemateca do Museu Guido Viaro, ainda hoje, 20h30min). Os demais são reprises e filmes em continuação. O Mundo de Meryl Cada vez cresce mais o prestígio de Meryl Streep. Ela é, sem favor, hoje a grande atriz do cinema americano, catapultuada [catapultada] por filmes da maior dignidade e que lhe tem valido sucessivas indicações ao Oscar - além de duas premiações: melhor coadjuvante por "Kramer x Kramer" de principal por "A Escolha de Sofia". Em "Plenty" - que no Brasil a UIP chamou de "O Mundo de uma Mulher", Meryl é Susan Traherne, que no começo aparece ajudando os compatriotas ingleses que chegam para se juntar à resistência contra os alemães. De um primeiro envolvimento com um membro da resistência, Lazar (Sam Neill), a ação se transfere para quase uma década depois, já nos ambientes diplomáticos, quando Susan conhece o diplomata Raymond Brock (Charles Dance), em Bruxelas, com quem viria a se casar anos depois. Outros envolvimentos - com o jovem Mike (interpretação de Sting, ex-Police), a profunda amizade com uma colega de serviço, em Londres, Alice Park (Tracey Ullman), envolvimentos que têm por pano de fundo, e político, a crise do Canal de Suez em 1956, compõe todo um painel amplo, fazendo de "O Mundo de uma Mulher", um filme fascinante. Aliás, pela ampla ação - seqüências rodadas na Inglaterra, França, Bélgica e Tunísia - é de se imaginar que David Hare deve ter modificado muito a estrutura de sua peça original, encenada com sucesso na Broadway. Fred Schepisi - a exemplo de Peter Weir e Bruce Humperbstone - e mais um cineasta australiano que catapultuado [catapultado] pelo boom daquele cinema, aproveitou a chance para se fixar nos Estados Unidos. A produção é de Edward Pressman e Joseph Papp - este um dos mais notáveis animadores da vida cultural nova-iorquina, inclusive responsável pela força que seu amigo e empregado, Fausto Canosa, tem podido dar ao cinema brasileiro em suas casas de exibição. Produção realizada com capital inglês - tanto é que a Thorn EMI é co-produtora - "O Mundo de Uma Mulher" tem apresentação da RKO, mostrando assim que o histórico estúdio (que teve Howard Hughes como um de seus proprietários nos anos 40) ainda existe - ao menos oficialmente. No elenco de "Plenty" ao menos dois nomes importantes: o inglês Sir John Gielgud e Sting, que a exemplo de David Bowie, está procurando cada vez mais solidificar sua carreira de ator (nos Estados unidos, acaba de estrear, um novo filme em que atua: "Bring On The Night", de Michael Apted). Tracey Ullman, que interpreta a amiga de Susan, - Alice Park, - é uma cantora e atriz que começa a aparecer, internacionalmente. Já foi vista ao lado de Paul McCartney em "Mande-me lembranças da Broad Street". Antonione na Cinemateca Hoje, ainda, às 20h30min, a chance única de (re)ver um dos mais profundos momentos do cinema do italiano Michelangelo Antonione, 64 anos - a serem completados no próximo dia 29 de setembro. "O Grito", realizado entre 1956/1957 - portanto anterior a trilogia que o consagraria entre 59/61 ("A Aventura", "A Noite" e "O Eclipse"), como um dos renovadores do cinema italiano, foi um filme marcante para toda uma geração. Denso, profundo, amargo, é, entretanto um filme com os elementos característicos da obra de Michelangelo Antonione, cineasta que ao longo de toda sua carreira - iniciada em 1950 com "Cronaca di un amore" - sempre buscou a alma do ser humano, realizando em termos do cinema italiano, filmes tão sérios quanto os do sueco Ingmar Bergman. "O Grito" só foi lançado no Brasil em 1965 - e isto devido ao sucesso de "A Noite" e "O Eclipse". Coincidentemente, quando o filme estreou no antigo cine Glória - então uma casa lançadora de obras de arte, diversa dos dias atuais - morria no golfo do México, num misterioso acidente em seu iate, "The Rogue", o ator Steve Cohran, então com 48 anos. Embora tendo estreado no cinema americano em 1945 e participado de obras importantes como "Os Melhores Anos de Nossas Vidas", seria em "O Grito" que Steve teria o melhor trabalho de sua carreira - ao lado de uma das mais belas e competentes atrizes italianas - Alida Valli. Também no elenco de "O Grito", Dorian Gray e a americana Betsy Blair. Um filme marcante, histórico e que merece ser (re)visto. Boas reprises A partir de terça-feira, a Cinemateca continua a reprisar bons filmes. Dia 24, numa homenagem à atriz Lilian Lemertz - atriz gaúcha, falecida há duas semanas, no Rio de Janeiro, será exibido "As Deusas", 1972, de Walter Hugo Khouri. Um dos quatro filmes que fez com Khouri, "As Deusas" trouxe Lilian numa de suas grandes interpretações. Dia 25, quarta-feira, um clássico western de John Ford (1895-1973): "Força Apache", 1948, naturalmente com John Wayne no auge de sua carreira. Mas o melhor filme é o que está marcado para o dia 27: "Sabrina", de Billy Wilder, realizado em 1954, com Humphrey Bogart (1899-1957), a Audrey Hepburn, então com 29 anos e também em pleno apogeu. Um filme lírico, enternecedor, de revisão obrigatória. No dia 27, "Maldita Coincidência", primeiro longa-metragem de Sérgio Bianchi - e que se transformou num cult movie junto às platéias cinematograficamente ligadas do Rio e São Paulo. Finalmente, dias 28 e 29, a chance de (re)ver Marlene Dietrich no papel mais marcante de sua carreira: "Anjo Azul", de Joseph Von Sternberg (1894-1969) que fez com que o mundo inteiro admirasse Marlene cantando "Lili Marlene". "Der Blaue Angel" é de 1930 e o ator que contracena com Marlene Dietrich é Emil Jannings. LEGENDA FOTO 1 - Meryl Streep, Sir John Gielgud e Charles Dance em "O Mundo de uma Mulher". A boa estréia, no Cine Condor. LEGENDA FOTO 2 - Entre os filmes que continuam em exibição, "Voluntários da Fuzarca", no Lido II, com Tom Hanks e Shakti. No Lido II. LEGENDA FOTO 3 - Chuck Norris em "Braddock - O Super Comando", que continua em cartaz no Palace-Itália.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Seção de Cinema
7
22/06/1986

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