Login do usuário

Aramis

Uma homenagem às irmãs Gish

Nas múltiplas homenagens que, como bom cinemaníaco que é, presta ao longo de "A Noite Americana" cine Scala, segunda semana, ao próprio cinema, François Truffaut abre o seu filme, com uma foto das irmãs Lilian e Dorothy Gish, a quem, humildemente, oferece a sua nostálgica obra, que lhe valeu o Oscar de melhor filme estrangeiro de 1973. Fazendo um filme sobre um filme, Truffaut, 42 anos, apaixonado pelo cinema desde 8 anos, depois de fases cineclubistas e de crítico de Cahiers du Cinema, estrearia realizando uma média metragem em 1958: "Les Mistons". Antes de conseguir recursos para o seu primeiro longa-metragem ("Os Incompreendidos/Les quatre centes coups, 59), fez, associado a outro enfant terrible da Nouvelle Vague, Jean LucGodard o inédito (no Brasil): "Une histoire d' eau". Em todas sua respeitável filmografia, o cinema sempre foi mencionado e reverenciado, mas atinge o climax neste "A Noite Americana" , - em que ele próprio, da mesma forma que fez Peter Bogdanovich em sua fita de estréia ("Na Mira da Morte/Targets", 1967), interpreta o próprio papel de atribulado diretor. Citação de livros, cartazes e uma seqüência de sonho - em um que ele, garotinho, rouba os cartazes e fotos do maior clássico da história do cinema - "Cidadão Kane" (Citzen Kane, 1940, de Orson Welles) marcam em "La Nuitte Americaine" toda a sua curtição cinematográfica - que inicia, muit apropriadamente com a referência as irmãs Gish, nomes estranhos para a garotada qus está adorando o filme de Truffaut mas, por falta de cultura cinematográfica desconhecem quem elas foram. Dorothy Gish, na verdade Dorothy de guiche, nasceu em Massilon, em Ohio, em 1898 e faleceu em 1968, em Rapalho, Itália. Irmã menor de Lilian, nascida em Springfield, Ohio, em 1896, e ainda viva, começou a trabalhar com seis anos, com o nome de Florence Niles. Em 1912, as duas foram apresentadas pela atriz Marty Pickford - hoje aos 80 anos, atriz a partir de 1909 e que junto com Douglas Fairbanks (1883-1939), David W. Griffith, que as contratou imediatamente para a sua companhia. E sob as ordens do grande cineasta elas fizeram o seu primeiro filme, "O Inimigo Invencível" (An Unsen Enemy). Enquanto Dorothy permaneceu obscurecida nos diversos filmes ao lado de Lilian, sob as ordens de Griffith - entre os quais "Órfãs da Tempestade" (Orphans of the storn, 1922), sua irmã mais velha, em 1915 já era estrela ao interpretar o clássico "O Nascimento de uma nação" (The birth of a nation) - que junto com "Intolerância" - são os filmes de Griffith mais constantemente apresentados em cinematecas e cine-clubes de todo o mundo. Uma série de outros filmes - "Lírio Partido" (Broken Blossoms, 1920), "A Irmã Branca" (The White Sister, 1923, de Henry King), "La Boheme" (1926, de King Vidor) e "O Vento" (The Wind, de victor Sjostron, 1928) - entre outros títulos - a consagraram nos anos 20 como "A Incomparável" , a "Sarah Berhardt do cinema", "A primeira Dama do Cinema" e "A Duse da celuloide", e como as revistas de cinema da época - pródigas em adjetivos e frases retóricas - a chamavam. Em 1930, com o desaparecimento do cinema mudo - tão propício para o seu estilo de interpretação - Lilian voltou-se para o teatro, só fazendo nos anos 30 um filme: "His Double Life" de Arthur Hopkings e William de Mile em 1942, entretanto, voltava ao cinema em "Comandos Strike at Dawn" dirigido por John Farrow (1904-1963), pai da atriz Mia Farrow. A partir de então, apareceu, sem destaque, em alguns filmes, entre os quais um dos mais famosos westerns da história do cinema: "Duelo ao Sol" (Duel in the Sun), 1947, de King Vidor. No ano seguinte faria "Retrato de Jennie"de William Dieterle. Depois de ter feito uma pequena ponta no único filme dirigido por charles Laughton (1899-1962), "O Mensageiro do Diabo" (The Night of The Hunter, 1955), Lilian Gish seria convidada para melancólicos e pequenos papéis em novas provações: "Ordem de Matar" (Orders to Kill) em 1958 do inglês Anthony Asquith, "O Passado Não Perdoa" (The Unforgiven, 1959, de John Huston) e o recente "Os Farsantes" (The Comedians, 1966, de Peter Glenville), onde apareceu, em rápidas seqüências, ao lado de Liz Taylor e Richard Burton. Dorothy Gish fez o seu primeiro papel independente do prestígio de sua irmã há 60 anos, em "Armadilha da Montanha" (The mountain rat) de James Kirkwood. Em 1920 protagonizou o curioso "Remodelling her husband", única experiência que Lillian fez como diretora. No cinema mudo chegou a fazer ainda dois outros filmes famosos: "Fury", em 1923, de Henry King e "Nell Gwynn", em 1926, de Herbert Wilcox. De 1922 a 1944 dedico-se exclusivamente ao teatro, só voltando ao cinema em 1946 para atuar em "Centennial Summer"e, há 11 anos, em sua última aparição, convocada por Otto Preminger para interpretar Célia, mãe de Stephen Fermoyle (Tom Tryon), "O Cardeal", inspirado no célebre romance de Henry Morton Robinson. Cinco anos depois, na Itália,Dorothy faleceria.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
05/05/1974

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br