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Aramis

Uma [Ópera] Jagunça

Uma [Ópera Jagunça] é a mais feliz e correta definição de "A Noite do Espantalho" (Cine Scala, hoje, 4 sessões, último dia em exibição) um dos mais belos e inteligentes filmes já realizados no Brasil - país onde, infelizmente, dificilmente será compreendido em toda sua dimensão. Sergio Ricardo, 41 anos, 3 longa-metragens, compositor-cineasta-cantor, realizou este filmusical mágico e fantástico consciente dos riscos financeiros do empreendimento (Cr$ 1.108.000,00) e de que apenas uma reduzida faixa de espectadores aceitaria a sua linguagem inovadora. Embora linearmente exista uma história a camponesa (Rejane Medeiros) disputada pelo amor do vaqueiro (Gilson Moura) e do jagunço (José Pimentel) e o conflito de terras toda a estrutura de "A Noite do Espantalho" é construída numa dimensão mágica internacional, em que o cineasta-compositor roteirista, fundiu elementos da tragédia e mitologia grega, do teatro romano com a cultura e [violência] nordestina, numa simbiose perfeita de poético e conscientes resultados. XXX O cenário impressionante da Fazenda Nova Jerusalem, no agreste pernambucano, onde um ex-jornalista (Plinio Pacheco) construiu o maior cenário do mundo para a Vila Crucis (ali representada há 18 anos, na Semana Santa) completa perfeitamente as imagens do realismo contemporâneo que Sergio Ricardo quis dar a este seu fantástico filmusical sertanejo, em que os jagunços usam capacetes romanos e ao invés de montarem cavalos pilotam aladas motocicletas. A aceitação que "A Noite do Espantalho" teve nos festivais de Nova York (onde ao lado de filmes de Bruñuel e Cassavetes, era o [único] representante do cinema latino-americano) e em Toulon, na França (onde foi premiado) deverá repetir-se no lançamento comercial na França e Nova York (no Cinema 1, a mais valorizada casa de filmes naquela metrópole). O envolvimento mágico do filme, o simbolismo e a dimensão que Sergio Ricardo conseguiu criar com um roteiro perfeito, uma fotografia de irmão de sangue e idéias (Dib Lufti, o mais famoso [fotógrafo] brasileiro) e uma trilha-sonora da maior força, fazem com que esta fita atinja uma categoria única dentro do cinema nacional só comparável a "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", ambas de Glauber Rocha, baiano-amigo de Sergio, que para ele fez as inesquecíveis trilhas-sonoras.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
13/11/1974

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