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Aramis

Uma Tese sobre a Codepar

Apresentada como dissertação para a obtenção do grau de Mestre junto ao Departamento de Ciências Sociais (Sociologia) da Faculdade de Filosofia, letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, a tese "Intervencionismo Estatal e Ideologia Desenvolvimentista", de autoria da professora Maria Helena Oliva Augusto, sai agora em livro (Edições Símbolo, coleção Ensaio e Memória, volume 7, 233 páginas, Cr$ 100,00), em momento que não poderia ser dos mais oportunos. Quando se questiona a validade da ação do Banco de Desenvolvimento do Paraná, sofrendo pesadas acusações de alguns empresários e mesmo economistas, defendida, naturalmente, por outros, a professora Maria Helena, com sua independência universitária, sem qualquer preconceito ou posição política, apresenta um estudo da maior seriedade, ao qual se dedicou por mais de cinco anos. Pois escolheu como sua tese, a elaboração de um estudo de profundidade sobre a Companhia de Desenvolvimento Econômico do Paraná - a Codepar, a partir de sua criação em março de 1962, mas não a enfocando isoladamente. Ao contrário, baseada em ampla bibliografia, inclusive exaustiva pesquisa desenvolvida nas coleções de O ESTADO DO PARANÁ, efetuada por seu irmão, o jornalista José Roberto Oliva, ela pode situar aquela companhia de economia mista, com justa perfeição, dentro de toda a estrutura econômica-social, do início dos anos 60 - acompanhando e procurando entender a evolução sofrida, até atingir a condição de Banco de Desenvolvimento, há 10 anos passados. xxx Ao longo de três capítulos, calcada em números, relatórios, entrevistas pessoais, estudos comparativos, Maria Helena Oliva Augusto mostra como o desenvolvimento do Paraná, um dos pólos de expansão da economia brasileira, reproduz em sua dinâmica as especificidades do capitalismo brasileiro. Ao negar a condição de economia periférica de nosso Estado em relação ao "centro" São Paulo retoma implicitamente a discussão sobre a tão propalada "dependência". Ao mesmo tempo, torna patentes a progressiva intervenção do Estado na economia e a reformulação havida na ideologia do desenvolvimento - de "nacionalista" para "associacionista" - expressões de forma como se verifica a expansão capitalista no Brasil. Maria Helena Oliva Augusto, desde 1967 residindo em São Paulo, onde é professora da USP, dividiu seu trabalho em três partes: nas primeiras 24 páginas estuda as desigualdades regionais, depois, em 60 páginas, apresenta a formulação do projeto do Desenvolvimento Paranaense, para, finalmente, em 130 páginas dissecar aquilo que classifica de "A implementação do Projeto", chegando, a final a 12 páginas de conclusões. Seu estudo é de nível universitário, com uma linguagem específica. Não se trata, evidentemente, de um simples relato sobre a criação da Codepar e seus resultados. Ela vai além daquilo que dizem os relatórios e números oficiais, exaustivamente analisados e busca interpretar os fatos de forma ampla, global colocando a experiência desenvolvida naquilo que classifica de "intervencionismo Estatal" dentro da realidade brasileira - nestas duas últimas décadas. O resultado é que, pela primeira vez, a Codepar, e indiretamente, outros instrumentos de economia mista, criados a partir de 1961 - como a Companhia Agropecuária de Fomento Econômico do Paraná (Café do Paraná, agosto de 1961), Fundepar - Fundação Educacional do Paraná (julho de 1962), Sanepar Companhia de Saneamento do Paraná (janeiro de 1963), Telepar - Companhia de Telecomunicações do Paraná (março de 1963), Centro Eletrônico de Processamento de Dados -Celepar (outubro de 1964) e Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar, maio de 1965), são analisadas de uma forma como nunca, antes, haviam sido estudadas. Ou seja: com a maior insenção, mas também com um apurado espírito crítico, motivado não por posições políticas, mas sim calcado em estudos comparativos. No momento que uma editora de alcance nacional como a Símbolo, dirigida pelo Sr. Moysés Baunstein, preocupado em lançar apenas obras de autores nacionais, investe muitos mil cruzeiros na edição de uma obra como esta, fica provado que muito mais do que uma simples tese para dissertação enfocando um assunto regional, Maria Helena Oliva Augusto levantou um problema que, conservadas as devidas proporções, interessa nacionalmente, a todos que se preocupam (ou deveriam se) com a economia, a sociedade e, principalmente, os tão falados planos e projetos de desenvolvimento. xxx Difícil, quase impossível, pinçar conclusões do trabalho de Maria Helena, já que todos integram uma linha de raciocínio, que exige a atenta leitura de seu livro. Mas, na página 222, ela faz uma afirmação que mercê reflexão. Referindo-se a evolução da Codepar para Banco de Desenvolvimento diz: "Também, se a rentabilidade do Banco não aparece como critério definidor de sua atuação, na medida em que se trata de um organismo estatal de fomento ao desenvolvimento, este critério está presente, na realidade. O Badep é dos poucos empreendimentos desse tipo a apresentar uma taxa de lucro considerada alta. É necessário reconhecer, porém, que a rentabilidade, é diferente no setor " privado" e no setor "público": neste é um meio para continuar a existir como um dos sustentadores da rentabilidade do "privado"; para o setor "privado", a rentabilidade é um fim". xxx Paulista de Botucatu, mas vindo ainda criança para Curitiba, Maria Helena Oliva Augusto formou-se, em 1966, em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná. Quem, como nós, que a conhecemos como nossa colega de turma, sabe que Maria Helena foi sempre uma pesquisadora inquieta, buscando a verdade atrás dos números. Fez pós-graduação na USP, onde leciona e pesquisa no Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, juntamente com outra colega, Maria Célia Pinheiro Machado, também já com teses publicadas. Ao decidir-se estudar o que chama de "o caso do Paraná - a Codepar", fez mais do que por razões sentimentais: viu, neste exemplo de intervenção estatal e ideologia desenvolvimentista, um exemplo excelente, mas merecedor de debates e análises mais amplas. Por coincidência, no momento em que sua tese deixa o restrito círculo universitário para, em forma de livro, podendo chegar as mãos de todos os interessados, o Banco de Desenvolvimento do Paraná tem muito de sua filosofia e linhas de créditos, contestadas, discutidas e denunciadas. Sem querer, Maria Oliva fornece a todas as partes envolvidas, um excelente material de análise e debate. O que garantirá a "Intervencionismo Estatal e Ideologia Desenvolvimentista", pelo menos a colocação de uma centena de exemplares no Paraná. Afinal, os técnicos do Badep, os empresários a ele ligados e, até mesmo, os deputados da CPI que estuda o problema da "desparanização" de nossa Economia, terão que gastar algumas horas para ler aquilo que Maria Helena escreveu. A não ser que, realmente, não tenham nenhuma intenção de conhecerem melhor o campo em que atuam.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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14/05/1978
Estou interessada por notícias sobre o que aconteceu à Companhia Agropecuária de Fomento Econômico do Paraná - Café do Paraná. Meu marido trabalhou para essa companhia de economia mista de 1961 a 1964 ou final de 1963. Precisa de uma certidão comprovando seu tempo de trabalho, para apresentar ao INSS para efeitos de aposentadoria. Consta em carteira de trabalho o contrato dele: DIÓGENES AGRA TENÓRIO. Se alguém tiver idéia em que se transformou a referida empresa, ou qual caminho para solicitar tal certidão, agradeço muito. Informações para o meu email: anatenorio@uol.com.br

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