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Aramis

Uma viagem musical pelo Brasil sonoro

Ao idealizar "Brasil Musical - Viagem pelos Sonhos e Ritmos Populares", Rita Cáurio da Art Bureau (Rua Siqueira Campos, 43, 1004, Copacabana, RJ) participa do princípio de que sendo uma obra bilíngüe, destinada a um público leigo - e patrocinada por um banco internacional (Chase Manhattan), deveria se ter uma visão abrangente, didática, da própria evolução de nossa música. Assim, dentro de nossa bibliografia musical - que tem crescido, felizmente, nestes últimos 15 anos principalmente a partir do I Encontro de Pesquisadores da MPB (Curitiba, 28 de fevereiro a 2 de março de 1974, o livro que agora chegará aos interessados, numa edição mais econômica, é bastante didático. xxx Ary Vasconcelos, 63 anos, nome maior da pesquisa e crítica musical, 46 anos de jornalismo, quase sempre voltado à música, mais uma dezena de livros publicados, teve as tarefas de desenvolver os capítulos introdutórios, para o que contou sua familiaridade a pesquisas que desenvolve há tantos anos. Com a colaboração da própria Rita Cáurio, nas 26 páginas das "Raízes da Nossa Música", com belíssimas reproduções de quadros e desenhos (quase todos a cores), é mostrada a música do índio, os instrumentos indígenas, o legado português, a contribuição do negro, instrumentos de origem afro, influência dos jesuítas e os afluentes secundários. No segundo capítulo ("Aculturação e Ressonância"), estuda-se o Lundu e a Modinha, o Fado Brasileiro, o Século XIX e a Chegada da Corte Portuguesa, modinhas imperiais, contribuição européia à modinha e textos especiais sobre pioneiros como Xisto Bahia a colaboração de Carlos Gomes e os Cardoso de Menezes e a modinha segundo Catulo da Paixão Cearense. Com o capítulo do choro ("Um Ritmo bem Brasileiro"), além de Rita Cáurio, houve a colaboração de Tárik de Souza, 43 anos, 21 anos de jornalismo musical, ex-Veja, desde os anos 70 no "Jornal do Brasil", e cuja participação se espraia em vários outros capítulos: com Roberto M. Moura, estuda o "Samba: A Alma Brasileira" e, sozinho, analisa os movimentos mais contemporâneos - "A Bossa Nova e o Fino da Bossa", a importante fase da "Aliança Televisiva e os Festivais" e "A Polifonia dos 70 & 80". Em sua linguagem clara - que o faz um dos jornalistas mais admirados na arte musical, a contribuição de Tárik foi impressionante para este livro (assim como no livro-álbum "Do barquinho ao avião: 30 anos de Bossa Nova", edição Líder, que amanhã estaremos aqui registrando em detalhes). Por exemplo, nas páginas dedicadas a Bossa Nova e o Fino da Bossa, Tarik consegue, com exatidão, fazer as colocações do momento histórico (1961/66), em que a Bossa Nova surgiu, sua primeira penetração no Brasil e o tempo de ascensão, seguida já daquilo que chama de "Aliança Televisiva e os Festivais". Interessantíssima também suas colocações sobre os movimentos dos anos 70 & 80, com o enfoque do que chama "A Escola Mineira e a Geração do Sufoco", "Regionalismo: o Sotaque Eletrificado", "A MPB Planetária", "Instrumental em Alta". Roberto Muggiati, 50 anos, curitibano, desde 1975 diretor-editor da Manchete, saxofonista amador e autor de importantíssimos livros sobre jazz e rock (e que, na imprensa curitibana, nos anos 50, foi o primeiro a escrever sobre jazz) ficou encarregado de analisar a Tropicália - um movimento curto mas fundamental em 2 anos de transição. Roberto M. Moura, 47 anos, que acompanha profissionalmente o Carnaval carioca há 22 anos, produtor de discos e diretor de espetáculos, autor de "Carnaval - da Redentora à Praça do Apocalipse" (1986), profissional dos mais ativos, dividiu com Ary o capítulo sobre o Carnaval e com Tárik o dedicado ao Samba ("A Alma Brasileira"), cuidando exclusivamente das 14 páginas dedicadas às escolas de samba. Ary Vasconcelos em "A Vez da Voz" rastreou a trajetória dos grandes cantores - desde os pioneiros do disco, a época do teatro para o rádio e a fase de ouro, enquanto João Máximo, 53 anos, jornalista profissional desde 1960, principalmente nos domínios da música e dos esportes, pesquisador dos mais sérios, estudou a deliciosa Era do Rádio. Para fazer uma apreciação do rock Brasil - dos primórdios aos dias atuais - a editora Rita Cáurio confiou o setor ao Luís Carlos Mansur, 39 anos, do Jornal do Brasil, no qual escreve especialmente sobre a música pop. Enfeixando tudo, o violonista Turíbio Santos, 46 anos, mostra que é tão bom de texto quanto de violão, ao mostrar em "O Encontro das Águas" a junção do popular ao erudito, especialmente através de Heitor Villa-Lobos, de cuja obra tem sido um dos maiores divulgadores em todo o mundo. LEGENDA FOTO - Na ampla pesquisa para ilustrar "Brasil Musical", foram encontradas fotos preciosas. Por exemplo, este registro dos históricos Os Oito Batutas, de 1919, aparecendo da esquerda para a direta, de pé, José Alves, Pixinguinha, Luís Silva, Jacó Palmieri; sentados - Otávio Viana (o China, irmão de Pixinguinha), Nelson Alves, João Pernambuco, Raul Palmieri e Donga.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/03/1989

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