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Aramis

Veja o filme, leia o livro e ouça o disco

Há dois anos, a premiação de "Entre Dois Amores" (Out of Africa, 85, de Sidney Pollack) provocou o "descobrimento" da escritora dinamarquesa Isak Dinensen, em cujos livros autobiográficos o roteirista Kurt Leudke baseou-se para "Out of Africa" que levou os Oscars de melhor filme, direção, roteiro adaptado, fotografia (David Watkin), trilha sonora (John Barry), direção de arte e som. Só meses depois que o filme chegou ao Brasil, foi que as editoras animaram-se a começar s publicar os romances de Isak Dinensen, uma das grandes escritoras deste século. Agora, as editoras estão mais ligadas aos dividendos literários do Oscar. Tanto é que mesmo antes de "O Último Imperador" ter estreado no eixo Rio-São Paulo, na semana passada, nada menos que três editoras lançaram biografias de Pu-Yi, o personagem do filme de Bertolucci: a de Edward Behr, na qual Bertolucci/Mark Peolple buscaram muitas informações para o roteiro, saiu pela Record, (281 páginas, tradução de Luís Carlos do Nascimento Silva), enquanto duas outras editoras brigaram por dois outros livros: "O Último Imperador da China" (Marco Zero, 385 páginas, Cz$ 1.490,00) e "Autobiografia de Pu-Yi" (Civilização Brasileira, 320 páginas). O livro da Record, vendido a Cz$ 850,00, saiu na frente e com maiores possibilidades de venda, trazendo inclusive na capa a cena mais divulgada do filme: a criança-imperador, aos 3 anos, frente a milhares de súditos, na cerimônia de sua coroação. Edward Behr, jornalista do "Newsweek Internacional", escreveu seu livro motivado pela própria produção do filme - cujo roteiro também se amparou no livro-reportagem do tutor de Pu-Yi, o escocês Reginald Johnson (interpretado por Peter O'Toole), intitulado "Crepúsculo na Cidade Proibida" e que até agora ainda não teve sua publicação no Brasil anunciada. Como observou Federico Mengozzi, da revista "Veja", assim como as editoras brigaram pelos livros, também a grafia do nome do imperador foi feita de forma diferente. Behr grafa P'u-i, a Marco Zero - ou Felipe José Lindoso, que coordenou a tradução - prefere Pu Yi e a Civilização - ou Raul de Sá Barbosa, o tradutor - o P'u Yi. Grafias a parte, o fato é que o interesse pelo(s) livro(s) deve ser grande e, de repente, graças a força do cinema um personagem histórico, esquecido por tantos anos - e cuja notícia da morte, em 1967, vítima de câncer - passou desapercebida, passa a ser discutido. xxx Também as trilhas sonoras dos filmes indicados ao Oscar ganham uma motivação extra, mas nesta área também aconteceram lerdezas no aproveitamento do material. Este ano, as categorias musicais foram reduzidas: há apenas Oscars para melhor canção e melhor partitura original. As premiações divididas entre trilha sonora para filmes dramáticos e musicais foram fundidas numa só, principalmente porque os musicais foram se reduzindo e praticamente desapareceram. Assim, das cinco trilhas que concorrem a "melhor partitura original", apenas uma está há meses na praça: a que o italiano Ennio Morricone criou para "Os Intocáveis" - realmente um belíssimo trabalho, aqui editado pela Polygram. A WEA deve colocar nas lojas por estes dias a trilha de "O Império do Sol" (John Williams), enquanto a RCA prometeu a edição da trilha que o japonês Ryuchi Skamoto e Cong Su, mais o americano David "Talking Heads" Byrne criaram para "O Último Imperador". Williams, já premiado duas vezes com o Oscar concorre duplamente: além de "O Império do Sol", é também o autor da música de "As Bruxas de Eastwick", filme lançado há seis meses e cuja trilha, na época, não interessou às gravadoras. Entre as canções, ao menos duas já são conhecidas, pois as trilhas sonoras nas quais estão aqui foram lançadas: "The Time of my Life", de "Dirty Dancing" (a trilha saiu pela RCA, em fevereiro); "Nothing Gonna" e "Shakedown" de "Beverly Hills Cop II" (trilha editada pela WEA). O medíocre filme "Manequim" teve a canção "Nothing Gonna Stop Us Now" incluída como uma das candidatas ao Oscar, o que mostra a decadência desta área. "Cry Freedom", do filme homônimo, ainda não conhecemos: o filme ainda é inédito em Curitiba e a trilha, embora programada, não saiu até agora no Brasil. Em compensação, uma trilha que mereceria ter sido indicada é a do excelente guitarrista-compositor Mark Knopfler, integrante do grupo Dire Straits, e que pela quarta vez faz um belo trabalho sonoro, no caso para "The Pricess Bride", de Rob Reiner (o mesmo diretor de "Conte Comigo", um dos melhores filmes de 1987). Autor das trilhas de "Hero Cal" e "Local Hero" (editadas no Brasil também pela Polygram, que nesta semana lançou o álbum com a sound track de "The Pricess Bride"), Mark Knopfler desenvolve uma trilha magnífica, ótima em seu conjunto. Entretanto, só ganhou indicação na categoria de canção ("Storybook Love"), quando merecia duas indicações: por este tema e pela trilha integral. Antonio Carlos Duncan, da SBK Edições, está aproveitando um bom espaço no mercado - justamente o das trilhas sonoras, e lança na próxima semana a moderna música que Stewart Copland criou para "Wall Street - Poder e Cobiça", de Oliver Stone. A SBK entrou no mercado de trilhas sonoras em fevereiro último, editando oito trilhas, duas das quais emplacaram ótimas vendas - "A Testemunha", música de Maurice Jarre e "Veludo Azul" de Angelo Badalamenti - além daquela que é, até agora, a melhor de todas: "Esperança e Glória" (Hope and Glory), de Peter Martin.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
08/04/1988

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