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Aramis

Viaje a Pindorama e ao mundo de Rodolfo

Lamentável que o tão aguardado elepê do violonista Paulo Bellinati com músicas de Garoto (Augusto Sardinha, 1925-1955) não tenha uma distribuição regular (até hoje não conseguimos localizá-lo em nenhuma loja) - pois assim, independente do trabalho em conjunto - admirado tanto em disco ("Pindorama", Nova Copacabana), como no palco (Teatro do Paiol, ainda hoje, 21 horas) poderia-se também apreciar os talentos individuais dos integrantes do Pau Brasil, que estão na cidade desde quinta-feira Nelson Ayres, um paulista tão mineiro que passa a maior parte do tempo em sua fazenda nos pés da Serra da Mantiqueira, é o líder do grupo Pau Brasil, formado há mais ou menos cinco anos e que após um primeiro (e excelente) elepê gravado há três anos, com selo Lira Paulistana (distribuição da Continental), retornou no pacote inaugural do projeto "Bom Tempo", que Eduardo Gudin e Helton Altman desenvolveram para a Nova Copacabana. Nelsinho, pianista e compositor, vários cursos no Exterior, já em 1978 fazia um elepê-solo dentro do projeto Música Popular Brasileira Contemporânea, da Philips e, posteriormente, no Nosso Estúdio, gravaria o belíssimo "Mantiqueira" (1983), ao qual se seguiria um álbum dividido com saxofonista Roberto Sion (Selo Eldorado, 1983). No ano passado, houve o "Prisma" (RCA), dividido com César Camargo Mariano. Considerando-se sempre um "músico de equipe", Nelson Ayres sente-se a vontade num trabalho de conjunto e isto fez com que "Pindorama" ganhasse uma estrutura especial, já que além da faixa-título ser um trabalho criativo do quinteto, todas as faixas têm um sabor de extraordinária brasilidade: "Alakai" de Hermeto Paschoal (com a participação especial do bruxo albino), o "Lundu" de Paulo Bellinati ganhou as presenças de Dirceu Medeiros (berimbau, percussão), Oswaldinho da Cuíca (congas) e Ubaldo (agogô, surdo). O repertório, aliás, não poderia ser melhor: Bellinati é autor de uma suave "Modinha", Nelson fez "Fogo no Baile" e há três regravações marcantes: a "Dança (Martelo)" das Bachianas Brasileiras nº 5, de Heitor Villa-Lobos; o "Só por Amor" (Baden/Vinícius/) e, por último, uma antológica visão instrumental de "Bye Bye Brasil" (Menescal/Chico Buarque), para nós o melhor momento deste disco magnífico. O baixista Rodolfo Stroeter, que integra o Pau Brasil desde o início levou quase dois anos para realizar o seu lp-solo ("Mundo", Continental), mas a espera compensou. Trata-se daqueles projetos musicais extremamente pessoais, que refletem o pensamento e a musicalidade de um instrumentista e compositor da maior seriedade. Cada nota, cada música, cada participação especial faz com que "Mundo" seja, realmente, o reflexo de uma carreira criativa - traduzida já a partir da belíssima capa idealizada por Cafi, com fotos e símbolos dos anos 70/80, tão intensamente curtidos por Stroeter. Abrindo com "No Céu com Noel", o disco engrena com "Poeira Morena" (parceria com Nelson Ayres), "Hino", "Tina e Diego" e encerrando com "Pessoa", nova parceria com Nelson - e na qual a voz encantadora de Joyce integra-se como um instrumento perfeito. Marlui Miranda, pesquisadora da música indígena, lançando agora seu terceiro elepê solo, é uma presença marcante tanto no elepê do Pau Brasil (na faixa "Alakai"), como no disco de Stroeter, ao cantar a faixa-título, parceria de Rodolfo e Vicente Salvia. "Pérola" é dedicada a Edgar Poças e Machado de Assis e "Conforme o Dia" tem uma estrutura muito simples. Encerrando, "Repentista" de Zeca Assunção. Dois discos excelentes e emocionantes em termos instrumentais. Agora, vamos aguardar o elepê de Paulo Bellinati, enquanto Sion e Bob Wyatt (bateria) não fazem seus projetos individuais. Talento, todos têm para dar e emprestar nos discos de quem for competente para viabilizar uma produção de qualidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
02/11/1986

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