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Aramis

"A vida" destaca-se entre as três estréias

Apenas três estréias nesta semana de muitas continuações. Em compensação, são três filmes que merecem ser conferidos. No Plaza, apenas nas sessões noturnas (20/22 horas), "armadilhas do Amor" que, finalmente, dá chance de se conhecer no circuito comercial o trabalho de um dos mais elogiados cineastas da nova geração, discípulo de Robert Altman e cujos longas permaneciam inéditos no Brasil: Alan Rudolph. Desde 1977, quando fez "Welcome To L.A", enaltecido pela crítica americana, Rudolph vem sendo bem recebido em suas observações da vida americana e agora chega este seu filme com Tom Berenger, Elizabeth Perkins e Anne Archer. No Astor, apenas nas sessões noturnas, estréia "Gritos de Revolta" (Miles From Home), cuja maior atração para o público é a presença de Richard Gere, que nos anos 70 foi o galã que teve melhores chances de se tornar um superstar - sem conseguir. O diretor é um novato, Gary Sinise e no elenco está também Kevin Anderson. A Vida segundo Tavernier - O Cine Luz (5 sessões) inicia hoje a exibição do imperdível filme "A Vida e Nada Mais", de Bertrand Tavernier. A lamentar, no entanto, que o excelente "Jesus de Montreal" seja substituído após apenas duas semanas em cartaz. Uma prova de incompetência da Fucucu que também continua a ofender o público ao programar intervalos de 25 minutos entre uma sessão e outra. É o caso de "A Lua Sangrenta" em exibição no Groff. Basta lembrar dois dos quatorze filmes que Bertrand Tavernier (Lyon, 25/4/1941) realizou a partir de 1984 para credenciar este La Vie Et Rien D'Autre e como obra imperdível: "Round About Midnight", um clássico sobre jazz. "Un Dimanche a la campagne" (1984), que teve apenas quatro esquálidas exibições no Groff, dentro de um festival do cinema francês. Tavernier é autor também de um documentário recebido com entusiasmo internacionalmente. "Mississipi Blues"(em parceria com o americano Robert Parish), que dificilmente chegará ao Brasil. Em "a Vida é Nada Mais", Tavernier trabalhando com o roteirista Jean Cosmos, aborda um tema que pode ser transposto ao Brasil recente: mortos sem sepulturas. Ambientado em 1920, duas mulheres, Irene (Sabine Azema, vista em "Melô" de Resnais), uma burguesa e Alice (Pascale Vignal), provinciana humilde, procuram pelos seus homens, dois entre os 350 mil desaparecidos na I Guerra Mundial, cem mil dos quais jamais identificados. Assim, o túmulo do Soldado Desconhecido ao lado do Arco do Triunfo, em Paris, tem a sua razão de existir - e a partir desta simbologia, Tavernier desenvolveu um filme de muita emoção e que, passados 71 anos, conserva intensa atualidade: a estupidez da guerra e o desaparecimento de seres queridos. A ação é concentrada em menos de uma semana (6 a 10 de novembro de 1920), na qual Irene e Alice encontram-se com o comandante Dellaplane (Phillipe Noiret, em seu 100o. filme), chefe do Centro de Procura e Identificação de Militares Mortos e Desaparecidos. [Deste] encontro de duas mulheres angustiadas pela ausência dos homens que amaram com um militar responsável por uma difícil missão, nasce o clima para uma obra que exige grandes intérpretes e muita segurança na direção. Como fundo deste encontro, um cenário de destruição: o exército exuma em Grezancourt o que restou de um trem sanitário, destruído numa explosão num túnel convertido em túmulo. Famílias de luto, vindas das províncias e misturadas a militares cuja juventude lhes traz sempre uma canção aos lábios, uma malícia no olhar à passagem das moças - mas num momento de tensão: o túnel está afundado e no comboio ainda restam caixas de explosivos e gazes tóxicos que ameaçam aumentar a catástrofe. A fotografia é de Bruno De Keyzer e a trilha sonora de Oswald D'Andrea, um compositor ainda pouco conhecido no Brasil. LEGENDA FOTO: Philippe Noiret e Sabine Azéma em "A vida e nada mais", no cine Luz a partir de hoje.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
26/07/1991

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