Vídeo de Pabla vai abrir Rio Cine-Fest
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de novembro de 1990
O sonho acabou: videomakers e curtametragistas que anunciaram que seus filmes e vídeos seriam apresentados no Rio Cine Festival tiveram que amargar frustrações: "De Bona - Cara Palavra", dos irmãos Schumann, e "Lápis - de cor e salteado", de Nivaldo Lopes (Palito), foram cortados pela comissão de pré-seleção dos trabalhos que a partir do dia 15 estarão sendo apresentados no festival organizado por Valkiria Barbosa, que este ano acontecerá no Hotel Glória.
Os irmãos Schumann tiveram ao menos um consolo: "Femininas", vídeo de 30 minutos que Werner realizou a base de longos depoimentos com mulheres curitibanas que atuam em vários setores - das mais humildes profissões até cargos de destaque - acabou sendo aceito.
Mas a grande presença do Paraná nesta mostra competitiva nacional será um vídeo inquieto, criativo e que foi realizado sem a mínima promoção e muito menos ajuda de quem quer que seja: "As Crianças Não Choram", de Pabla Allesandre.
Em 30 minutos, com imagens contundentes, Pabla mostra a vida de uma família de 19 pessoas que vivem do que conseguem juntar no lixo da cidade. Através de uma personagem-símbolo - única intérprete que não é autêntica da família, a talentosa garota Roberta Santiago, 11 anos - Pabla conduz um documentário emotivo e social, flagrando os sonhos, a linguagem, a dura vida dos catadores de papéis.
Pabla Allesandre, curitibana que viveu por mais de 30 anos entre o Rio e várias cidades da Europa e Estados Unidos, de curriculum externo, como toda pessoa que realmente tem talento e é modesta, simples e foge do oba-oba oficialesco. Tanto é que para fazer este vídeo ela e seu marido, Jorge Aunetto Attas, investiram US$ 10 mil. Há quatro meses, entre 13 e 17 de junho, o vídeo representou o Brasil no Festival de Vídeo de Montbiliards, na França. Agora, foi escolhido, por seus méritos, para a programação de abertura do Rio Cine Festival, área de vídeo, sendo já cotado a sair com alguma premiação, embora Pabla modestamente não alimente ilusões.
- "O importante é que o trabalho seja visto" - explica.
Por uma opção de vida, Pabla e Jorge preferiram morar em Curitiba há três anos. Uma pessoa com seu know-how e, principalmente curriculum profissional - produtora da TVE por três aos, co-realizadora de um vídeo premiado em Tóquio, no qual participaram 27 países - era de se esperar que há muito Pabla já estivesse tendo seu talento e competência melhor aproveitados. Entretanto, dentro da antropofagia local - em que tantas pessoas de valor afastam-se dos danos do poder Pabla tem feito um trabalho solitário. Só agora, numa produtora privada - a Guaíra, de Júlio Kruger - Pabla está trabalhando na realização de alguns vídeos comerciais, mas com projetos para desenvolver obras de maior fôlego. Talento para tanto não lhe falta e quem assistir ao seu vídeo saberá quanto ela pode contribuir para nosso incipiente mercado de imagens. Basta que a tratem com o profissionalismo e respeito que merece.
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