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Vinholes, 70 anos de um intalectual

Há algumas (raras) pessoas que sem nunca terem escrito um livro influenciaram mais leitores do que autores de uma grande obra. O gaúcho Aristides de Oliveira Vinholes é uma destas pessoas e por isso a homenagem que receberá hoje a noite, comemorando seus 70 anos, é das mais justas. Na Livraria Dario Velloso da Fundação Cultural de Curitiba haverá o descerramento de uma placa marcando esta efeméride e, posteriormente, seus amigos se reúnem num jantar ho Humel Humel ( as listas de adesões esta livraria). Pessoa de várias faixas etárias, classes sociais e, principalmente, posições políticas, estarão reunidas, pois Vinholes, na sapiência de seus 70 anos, reúne admirados heterogêneos e fiéis X Em outubro de 1982, numa deliciosa crônica publicada no suplemento "Fim de Semana" aqui em o ESTADO DO PARANÁ, JAMIL Snege , escritor e publicitário, falando com bom humor sôbre "os candidatos" que gostaria de ver eleito, dizia que para governador o seu nome preferido seria Vinholes, "gaúcho de Pelotas, ex-militar, ex-funcionário de editora, ex-campeão de sinuca. Há trinta anos, no Paraná, foi livreiro, bom garfo, professor, admirador de mulatas, esteta, cineclubista, fã de Joyce, de Vivaldi, de Erik satie. Tem muito bom gosto, senso estético apurado, cabelo curto e idéia longas, portou-se com incrível dignidade durante o transe de 64 mas tem um ponto fraco imperdoável: Hadock ao molho de manteiga e alcaparras, regado com um bom verde por X Choveram telefonemas pedindo maiores informações sobre Vinholes - nome que nos dias mais negros da ditadura político-militar era tido como subversivo, quando na verdade ele, mesmo sem negar suas convicções marxistas, sempre foi antes de tudo um humanista e um liberal. Entrevistado pela equipe que aqui fazia o "Fim de Semana"- Dante Mendonça, Mai Nascimento e este colunista , mais a participação amiga do intelectual Carlos Alberto Pessoa, Vinholes falou durante quase seis horas sobre sua vida, de andança como militar - de Pelotas a Amazônas, até que se fixou em Curitiba há 30 anos passados. X Em maio de 1950 Vinholes saiu do Exército, reformado com 2 tenente e iniciou sua carreira na Editora do Globo, na época uma das maiores do Brasil e que editava uma revista de atualidades tão influentes quanto é hoje a "Veja". Vinholes ali trabalhou na administração, tornou-se amigo do mais famoso nome da editora - o escritor Érico Veríssimo e fez uma boa carreira, ao ponto de em junho de 1954 ser designado pelo presidente da empresa, Henrique Betazzo, para reestruturar a filial de Curitiba, que funcionando numa loja do edifício do Clube Curitibano, andava em difícil situação. E por quatro anos, Vinholes transformou aquele ponto - onde depois instalaria a Livrobrás, em sociedade com Ocyron Cunha (que acabaria reitor da Universidade Federal) num ponto de encontro de intelectuais, professores e políticos - de Flávio Suplicy de Lacerda ao desembargador Lacerda Pinto, "Sem qualquer discriminação político-ideológico", recorda. Apenas de ter saneado a filial, a Editora do Globo decidiu fechar a loja e Vinholes voltou ao Rio Grande, passando um ano em Pelotas e voltando definitivamente para Curitiba há 25 anos, para fundar, a Livrobrás. Preso e perseguido nos anos mais duros da revolução, Vinholes chegou a abrir uma pequena livraria na Praça Tiradentes (1966/67), mas que fechou quando foi preso novamente. Posteriormente, Vinholes viria a dirigir a Rodofer, empresa pertencente hoje a família de uma de suas filhas. Aos 70 anos, rijos e forte, Vinholes continua um voraz devorador de livros - de todos os gêneros e tendências. Sua biblioteca esta entre as melhores do Oaís, não apenas em quantidade mas, especialmente, em qualidade, pois são mais de 50 anos em que vem selecionando o que encontrar de mais importante. Mas ao lado do intelectual, do livreiro -hoje executivo do setor publicitário em auti-door - existe um homem Vinholes, de posições rígidas mas abertas, que sempre externou o que pensa. Isto lhe fez ter muitas brigas mas sempre de forma leal que justificou sempre a reconciliação amiga. X Uma homenagem simples e espontânea, traduzida numa placa afixada num espaço muito caro a Vinholes: uma livraria. Um jantar de amigos, talvez alguns discursos bem humorados. Mas sobretudo uma lembrança a quem soube se integrar a cidade que acolheu, que deu sua contribuição pessoal e aqui viu crescerem suas filhas e nascerem seus netos. Este é o cidadão Aristides de Oliveira Vinholes, 70 anos, que merece os abraços que hoje estará recebendo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
05/07/1984

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