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Aramis

Vivaldi, o veneziano

Poucas vezes uma obra musical refletiu tão bem uma cidade: "As Quatro Estações" de Antonio Vivaldi (1678-1741) será sempre a imagem sonora de Veneza, uma das mais belas cidades do mundo. E esta obra-prima continua encantando gerações nas mais diferentes interpretações. Ainda agora, simultaneamente, aparecem dois novos registros de "As Quatro Estações": com Lorin Maazel como solista e regente, mais a Orquestra Nacional da França (CBS) e com a The Academy Of Ancient Music, tendo como violinistas Christopher Hirons e John Holloway, mais o regente Chirtopher Hogwood também no cravo e órgão e Nigel North no alaúde e guitarra barroca (Editions de L'Oiseau-Lyre/Polygram). Vivaldi, dizem seus [biógrafos], tinha o espírito de um contador de história. Grande número de seus concertos (compôs 454) levam títulos e sem qualquer dúvida os nomes de muitos outros se perderam ou jamais chegaram a ser escritos. Os doze concertos do Opus 8 - dos quais fazem parte "As Estações" - foram publicados em Amsterdam em 1725 sob o título "O Conflito entre a Harmonia e a Invenção (II Cimento dellármonia e dellínvenzione)". Aparentemente, a intenção de Vivaldi era indicar assim a intransigência da "harmonia" ou música pura, enquanto "invenção" ou faculdade imaginativa tenta lhe [impor significados extramusicais]. Poucas obras de programa foram mais amplamente anotadas pelo seu autor quanto "As Estações". Não apenas um soneto descritivo é juntado a cada um dos concertos, mas os versos respectivos dos sonetos são impressos abaixo da música destinada a ilustrá-los. Outra preciosa gravação identificada também com Veneza - e igualmente de autoria de Vivaldi - é a que nos traz Jean-Pierre Rampal (flauta), Dorothy Linell (torba) e a I Solisti Veneti, sob regência de Claudio Scimone, interpretando [os seis concertos para flautas], opus 10. Vivaldi foi possivelmente a mais significativa figura na evolução do concerto barroco, pois devido às suas responsabilidades profissionais, ele teve uma posição única para experimentar a forma do concerto tal como a encontrou nas obras de seus compatriotar Arcangelo Corelli e Giuseppe Torelli. Como virtuose do violino, estava agudamente cônscio das potencialidades quanto das limitações da técnica das cordas, podendo assim, explorar essa técnica de maneira confiante para se adequar aos seus propósitos artísticos. E, como compositor e dirigente orquestral por quase quatro décadas em La Pietá, um dos quatro conservatórios venezianos de música de todo tipo para uma ampla variedade de instrumento. Além disso, seu interesse pela ópera (ele forneceu quase cinquenta para teatros de Veneza e outras cidades) se reflete em sua principal contribuição à forma do concerto - o desenvolvimento do contraste dramático. Embora Vivaldi não tivesse inventado o concerto de solista - o Opus 8 de Torelli, de 1709, incluía seus concertos para solo de violino - ele foi um inovador ao concebê-lo para uso de tão ampla variedade de instrumentos. Além de concertos de solista para violino, escreveu concertos para viola d'amore, violoncelo, flauta, oboé, fagote e bandolim. E foi o primeiro a publicar concertos para flauta: seu Opus 10, contendo os seis concertos, foi impresso em Amsterdam por volta de 1730 e foi destinado especificamente para crescentemente popular flauta transversal (precursora do nosso instrumento moderno) em oposição à flauta doce firmada por longo tempo. São estes seis concertos, criados há mais de 250 anos que nos chegam agora na interpretação de um virtuose da flauta, Rampal - por sinal, artista que mais uma vez vem agora ao Brasil, para concertos em São Paulo, na Sociedade de Cultura Artística, exibindo-se com o curitibano Norton Morozowicz, hoje primeiro flautista da Sinfônica Brasileira, virtuose maior deste instrumento e também regente da Orquestra de Câmara de Blumenau.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
16/06/1985

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