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Aramis

Vocalistas

Depois de alguns anos em que parece ter havido uma sobreposição de compositor como intérprete - sobre os vocalistas, parece estar havendo uma reação e bons cantores(as) estão aparecendo ou - o que é mais importante - reaparecer. Apenas vocalistas, que, seus estilos e procurando determinadas faixas de público, procuram dar o seu recado. A veteraníssima e admirável Isaurinha Garcia (São Paulo, 26 de fevereiro de 1919), 39 anos de carreira (começou em 1938 na rádio Record), uma estilista á qual problemas conjugais (o tumultuado casamento com o organista Walter Wanderley, desde 1963 residindo nos EUA) efetaram suas vida profissional, reapareceu, fulgurante, em novembro, no show "Seis e Meia"(Teatro João Caetano, Rio), pelas mãos de Hermínio Bello de Carvalho, o admirável poeta e produtor, que sabe das coisas. Três das cincos apresentações de Isaurinha foram gravadas pelo competente Frank Justo Acker, e seu filho André, técnico de larga experiência, e desse material, Hermínio selecionou o tempo para o LP "Nua & Crua " (Odeon, SMOFB 3921, março/77), um dos discos verdade do ano. Acompanhada por milson Godoy no piano, Itiberê no baixo, Milton na bateria, Isaurinha desfila o seu imenso repertório, canções dor-de-cotovelo onde, como diz Hemínio, "grafa dramaticamente cada sentimento, que enfatiza o óbvio sem resvalar nas redundâncias: porque tudo nela vem excessivamente de dentro a intenção antes do efeito; sem filtros, sem policiamento, sem pudores estéticos". O resultado é um disco belíssimo, sincero e humano com 14 canções, enfileiradas, entremeadas de respiração, de exclamação - documento maior de uma cantora que merece todo o respeito e admiração. Ao contrário de Isaurinha, a carioca Claudete (colbert) Soares (Rio, 31 de outubro de 1937), que começou no programa "Papel Carbono" em 1947, foi a "Princesinha do Baião"e teve projeção na fase da Bossa Nova, é uma cantora que sem perder a emotividade, es de um romantismo suave, tranquilo. Casada com o maestro e pianista Júlio César Figueiredo, uma pessoa maravilhosa e que por certo muito tem auxiliado sua carreira, Claudete é a vocalista em fase de maturidade: canta bem, emociona, diz as palavras certas. Depois de uma série de discos na Philips, hoje na Odeon, nos parece que Claudete não tem sido aproveitada na dimensão de seu trabalho: fez romântico disco com Dick Farney (em cujo grupo instrumental, Julinho César trabalhou até há pouco) e agora dedica todo um elepê a Tito Madi (Chauki Madi, Pirajuí, SP, 18 de julho de 1929), além de inspirado compositor, também um cantor de voz agradável. Assim, "Fiz do Amor Meu Canto"(Odeon, SMOFB 3925, dezembro/76) é um elepê reto, romântico - suave como as músicas de Madi - um romantismo anos 50, que nos diz, particularmente, muito - mas que, temos dúvidas, se chagará ao público mais jovem. Mas isso não importa, pois a voz gostosa de Claude, os arranjos de Júlio Figueiredo e as palavras e melodias bonitas de Tito, em canções como "Cansei de Ilusões", "Não Diga Não", "Gauchinha Bem Querer", "Canção dos Olhos Tristes" etc., sempre chagam suaves aos nossos olhos - concretizando as palavras da canção-título do LP: "Fiz do Amor Meu Canto". A paraense Fafá de Belém (descoberta há quatro anos, pelo produtor Roberto Santana) tornou-se, a partir de 1976, a nova supertar da música brasileira: a gorda-sexy, extremamente simpática, sorriso amigo, jovem e saudável, sabendo cantor o que de melhor existe - nos passado e no presente, com seu primeiro LP ("Tamba Tajá", Philips, 1976) ganhou o título de cantora do ano e entrou em todas as listas do melhores. Seu novo disco estava sendo aguardado com ansiedade e, felizmente, não decepcionou. Ao contrário, "Águas" (Philips, 6349324, março/77), produção de Santana, participação de excelentes instrumentistas (incluindo o criativo percussionista Djalma Corrêa) e até orquestra de cordas e coral, tem um equilibrio entre novos compositores do Pará - como Paulo André e Ruy Barata ("Foi Assim", "Pauapixuma") ao Rio Grande do Sul - como Luiz Coronel e Marco Aurélio Vasconcelos ("-Cordas de Espinho"), não esquecendo o goiano Rinaldo Barra ("Araguia"), passando pelos contemporâneos já consagrados - Aleivando Luz-Carlos Coqueijo ("Ave Maria dos Retirantes"), Milton Nascimento-Fernando Brant ("Raça" e "Sedução"), Caetano Veloso-Roberto Menescal ("Cidade Pequenina"), Dalton Vogeler-Orlando Silveira ("O Andarilho") e incluido, em justa homenagem, clássicos como Catulo da Paixão Cearense ("Ontem ao Luar", letra de Pedro de Alcântara, nome omitido na contracapa), Hakel Tavares-Joracy Camargo ("Leilão"), além de alcançar um novo nome - Luiz Violão ("Canção Passarinho"). Um disco-Brasil, gosto verde-amarelo, voz absorvente de Fafá - mulher e cantora fascinantes, no palco queimado voltagens de sensualidade, ritmo e harmonia - que também consegue transmitir mesmo na frieza da gravação. Um belíssimo LP. Como Fafá de Belém, o cantor Emílio Santiago encontrou em Roberto Santana o seu produtor-empresário, caopaz de lançá-lo nacionalmente. Santiago estreou com um extraordinário LP na CID, em 1975, o suficiente para que o considerássemos a revelação-vocal daquele ano. Santiago, um crioulo alto e simpático, voz personalíssima e bonita - tão bela, que houve quem o comparasse ao Wilsons Simonal de seus melhores anos. Bastante superior ao seu primeiro LP na Philips ("Brasileiríssimas", agosto/76), seu novo álbum ("Feito Para Ouvir" Philips, 6349319, março/77), embora produzido no mesmo estilo - regravações de canções consagradas, de otima qualidade - amparado em bons arranjos e instrumentistas da maior competência, ouvimos Emílio em interpretações de músicas marcantes como "Beijo Partido" (Toninho Horta), "O que é Amar" (Johny Art), "Última Forma" (Baden Powell-Paulo César Pereiro), "Tristeza de Nós Dois" ( Durval Ferreira-Maurício Einhorn-Bebeto), "Olha Maria" (Tom Vinícius de Moraes-Chico Buarque) e uma das menos conhecidas composições de Caymmi, parceria com Carlos Guinle (de quem se diz: "A parceir era Dorival entrando com música e letra e Guinle com o uísque"). Já que falamos, em passant, em Wilson Simonal (Rio, 26 de fevereiro de 1939), o cantor que envolveu-se em condenáveis problemas políciais, merecendo com isso condenação judicial e da classe - o que justifica o ostracismo a que foi relegado, continua tentando o retorno a sua época de glória. Na RCA Victor, que acredita em suas potencialidades comerciais, fez um novo LP ("A vida é só Pra Cantar", 103.0200, abril/77), reunindo antigos sucessos dos anos 60 ("Sá Marina", "Galha do Cajueiro", "Vesti Azul", "Mmamãe Passou Açúcar em Mim", "Tributo a Martin Luther King"), sambas otimistas ("Meu Oficio é Cantar", "A Vida e só Pra Cantar", "A Volta do Samba, Le, Lê") etc., tendo, em algumas faixas a participação do grupo Originais do Samba. A mesma RCA Victor tem na cantora Carmen Silva uma intérprete de boleros e versões na linha de Perla (Hoje uma cantora de grande prestígio popular, haja vista o êxito que conseguiu na única apresentação no Teatro Guaíra) e mesmo Cláudia Barroso. Carmen, em um novo LP (103.0199, abril/77), desfila versões como "Ayadame a passar a noche", "De amor para dar , além de músicas de Clayton, Ronaldo Adriano e até Gordinha ("Poema dos cabelos brancos"). Uma surpresa agradável: o cantor José Milton em "A Uma Dama Transitória" ( Odeon, SMOFB 3930, abril/77), mostra muito equilíbrio e bom gosto, gravando músicas novas de autores respeitabilíssimos - como Eduardo Gudim ("Verso Novo"), Paulo César Gyrão-Gerson ("-Diariamente"). Paulo César Pinheiro-Guinga ("Bolero de Satã"), Marcos Calazans ("Ausência"), além de clássicos como "Demais" (Tom-Aloysio de Oliveira), "Vingança"(Lupiscinio Rodrigues), "Canção da Volta" (Ismael Neto-Antônio Marias) e a música do bom Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa) e Ariano Suassuma, que dá título a este bonito LP: "A Uma Dama Transitória". FOTO LEGENDA- Água Fafá de Belém FOTO LEGENDA1- José Milton A Uma Dama Transitória FOTO LEGENDA2- Claudette Soares Fiz do Amor Meu Canto FOTO LEGENDA3- Emílio Santiago (") FOTO LEGENDA4- Claúdia Telles FOTO LEGENDA5- Isaurinha Garcia Nua & Crua FOTO LEGENDA6- Carmen Silva (") FOTO LEGENDA7- Wilson Simonal A Vida é só Pra Cantar
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
1
01/05/1977

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