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Wagner Tiso, caminhos múltiplos dos teclados

Dentro do ecletismo musical que movimenta este fim-de-semana curitibano - o rock do Legião Urbana (ginásio do Tarumã, hoje), a centenária tradição vocal dos Meninos Cantores de Viena (segunda-feira, auditório Bento Munhoz da Rocha Neto) - ambas promoções conduzidas, localmente, pela competência empresarial da elétrica Verinha Walflor - o panorama se complementa com aquilo que se poderia chamar de recital do multitecladista Wagner Tiso (auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, amanhã, 21 horas). Se os espetáculos do Legião Urbana e mesmo dos Meninos Cantores de Viena tem públicos-alvo definidos e, de certa forma, repertórios específicos, a presença de Wagner Tiso sempre pode significar o novo e o inusitado. Isto porque, numa trilha que vem sendo seguida por outros instrumentistas-compositores que procuraram se libertar da camisa-de-força de "músicos acompanhantes"dos chamados "canários" (cantores), Wagner está firmando cada vez mais um trabalho de raízes profundas, muita inventividade e harmonia. Com César Carmargo Mariano (com quem, aliás, já dividiu um disco avançadíssimo), Egberto Gismonti - este um balisador em termos de sonoridade capaz de atingir várias latitudes, mas sem deixar de ser brasileiro - Wagner Tiso Veiga, mineiro de Três Pontas, 43 anos incompletos (nasceu a 12 de dezembro de 1945) esteve por anos identificado ao chamado Clube da Esquina, pois afetiva e musicalmente foi com Milton Nascimento (hoje um superstar musical internacional, haja visto a excursão internacional por mais de 20 países que vem fazendo há meses) que teve os seus primeiros momentos, nos tempos dos chamados W's Boys, ainda em Alfenas (1958/1961). Espírito inquieto, passando por diferentes formações instrumentais, Wagner soube, a partir de 1964, quando chegou ao Rio de Janeiro (fazendo suas primeiras gravações, com o conjunto Sambacana) aprimorar-se musicalmente - o que levaria o passar do autodidatismo juvenil para uma segurança, buscando um mestre com o saxofonista Paulo Moura, com quem viria a trabalhar mais tarde (1965/1967). Muitos anos na estrada, trabalhando não apenas com o chamado "Clube da Esquina", mas com dezenas de cantores e, principalmente instrumentistas - além da manutenção, por anos, de um grupo inovador como foi o Som Imaginário, estabelecido a partir de 1970 com Robertinho Silva na bateria; Tavinho (Luís Otávio de Melo Carvalho, 40 anos) no violão; Luis Alves, no baixo; Laudir Oliveira, na percussão; Zé Rodrix, no órgão, percussão, voz e flauta e participações especiais de Nivaldo Ornelas (sax) e Toninho Horta (guitarra). Ao longo dos anos 70, o Som Imaginário sofreu mudanças, gravou quatro álbuns (na Odeon) documentalmente marcantes dentro dos caminhos instrumentais da MPB e foi a grande escola para cada um de seus integrantes - hoje, naturalmente em caminhos solos. Tiso, independente da fidelidade musical do amigo Milton (com quem viria a compor "Coração de Estudante", para a trilha do documentário "Jango", de Silvio Tendler, transformado no hino oficial da campanha das "Diretas Já"), desenvolveu uma linguagem própria. Assim é que nos últimos anos, seus trabalhos ficaram cada vez mais sólidos - entusiasmando-se pelas possibilidades das trilhas sonoras para cinema (a partir da primeira experiência em "Os Deuses e Os Mortos", 1970, de Ruy Guerra), sendo hoje um dos mais requisitados compositores para os mais importantes filmes nacionais. Tanto em seu último ("Manú Cruê - Uma Aventura Holística", Polygram), como nos espetáculos ao vivo desta temporada que inclui o concerto de amanhã à noite, Wagner procura mostrar as imensas possibilidades do convívio dos mais sofisticados recursos eletrônicos-informativos dos teclados, com a simplicidade do brasileiro de Três Pontas, que não perde (como Gismonti, em sua fidelidade fluminense ao Carmo) as raízes. Uma brasilidade patente nas homenagens feitas a Villa-Lobos, como em "Primeira Missa no Brasil" e um dos movimentos de "Descobrimento do Brasil", peças que o grande Villa compôs em 1936, para o filme "O Descobrimento do Brasil" de seu amigo Humberto Mauro (1987-1983), outro mineiro notável dentro de nossa cultura. A coincidência de se poder ouvir Wagner Tiso ao vivo, no momento em que seus trabalhos mais recentes estão no belíssimo álbum "Manú Caruê", faz com que se compreenda melhor os novos - e múltiplos - caminhos que os nossos mais talentosos instrumentistas buscam - e firmam (inclusive internacionalmente) na riqueza de suas temáticas e segurança de sonoridade. LEGENDA FOTO - Wagner Tiso: show e disco novos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
09/07/1988

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