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Zuza, o homem certo para iluminar a nossa cultura

Luzes acendendo-se no final do túnel da cultura oficial: ontem, em Brasília, tomou posse como diretor do Departamento de Cooperação e Difusão Cultural da Secretaria de Assuntos Culturais, o jornalista José Eduardo Homem de Mello. Em menos de um mês, entre sua apresentação ao secretário da Cultura do governo Collor, Ipojuca Pontes, ao decreto com sua nomeação - publicado no "Diário Oficial da União" no dia 2 do corrente, Zuza - forma afetiva com que José Eduardo é conhecido - teve aprovação imediata de seu nome. E a repercussão pela escolha não poderia ser melhor. xxx Ao preparar o curriculum-vitae enviado à Presidência da República, por solicitação de Ipojuca Pontes, Zuza Homem de Mello teve que usar a objetividade jornalística. Afinal, se fosse relacionar tudo o que já fez em mais de 30 anos de atividades culturais acabaria redigindo um calhamaço de dezenas de páginas. Jornalista, radialista, homem de televisão, organizador de festivais e eventos culturais, músico em sua juventude (estudou contrabaixo com Ray Brown, nos Estados Unidos), autor de um livro básico sobre a Bossa Nova, terceiro presidente da Associação de Pesquisadores de Música Popular, produtor fonográfico e de shows, Zuza tem sido uma das presenças mais ativas na vida cultural-artística brasileira. Filho de uma das mais tradicionais famílias de São Paulo, trocou um curso de engenharia pela paixão musical quando, no início dos anos 50, foi estudar na Berkeley University. Quando retornou ao Brasil, a Record sacudia o país com seus festivais e musicais, e Zuza, com a tecnologia que aprendera em cursos paralelos na área de áudio e vídeo nos Estados Unidos, se tornaria uma das pessoas básicas dos grandes programas da época. Daquele período, riquíssimo em termos musicais, ficou não só um relacionamento profundo com os artistas da área musical - que hoje superstars, eram praticamente estreantes na época - mas também registros em fitas de shows e festivais que poderão resultar em preciosos álbuns documentais. Durante mais de dez anos, Zuza produziu um dos programas de maior audiência da Jovem Pan, que só deixou, por sua iniciativa, há menos de dois anos - e cujo espaço ainda não pode ser preenchido por não ter aparecido ninguém que unisse a cultura, verve, improvisação e simpatia como ele caracterizou sempre sua audição. Profundamente identificado à vida cultural, sem preconceitos contra gêneros ou escolas, Zuza vem acompanhando os principais eventos musicais realizados nos vários estados - no Paraná, tem sido júri regular em todas as edições do Fercapo, e Cascavel - como é assessor direto das irmãs Silvia e Monique, da Dueto Produções, no Free Jazz Festival (anteriormente, havia assessorado os festivais São Paulo-Montreaux e Rio-Monterrey). José Maurício Machline, diretor de comunicação do grupo Sharp, ao idealizar o Prêmio Sharp de Música, agora a caminho de sua 4ª edição (a festa de entrega dos prêmios de 1989/90 será no dia 16 de agosto, no Hotel Nacional, RJ), convocou Zuza para o comitê diretor. Nestes anos, para a TV-Cultura, Zuza vem coordenando o Jazz Brasil, com uma audiência excelente, valorizando cantores e músicos. Com vários projetos artísticos para 1990 - inclusive alguns internacionais - Zuza decidiu aceitar um novo desafio: ocupar um cargo executivo na área cultural, "por acreditar nas propostas amplas, democráticas e renovadoras", que estão sendo feitas. Zuza, que nunca antes havia ocupado funções oficiais, está, a partir desta semana, na direção de um organismo novo, "que desejamos numa estrutura flexível e dinâmica" - nos explicava ontem, por telefone - e que desenvolverá um trabalho em várias frentes, visando especialmente descentralizar o Eixo Rio-São Paulo. Para um profissional de seu conhecimento e independência - que tem percorrido, sempre de forma independente, sem vínculos oficiais, Brasil de Norte a Sul, há, por certo, muito a fazer. Um de seus primeiros interesses está em vir a Curitiba, para manter um contato com o secretário René Dotti, da Cultura - que conheceu há algum tempo e do qual tem a melhor impressão. Quem conhece Zuza Homem de Mello sabe de que não aceitaria um cargo executivo, se não tivesse condições de produzir. Financeiramente independente, dono de um patrimônio que lhe permite anualmente fazer viagens ao Exterior - sempre programando roteiros culturais que coincidem com o melhor dos festivais de música, cinema, teatro, etc. - com amigos em vários países e, nacionalmente tendo sabido plantar sementes de amizade e admiração em todos os cantos, o primeiro diretor do recém criado Departamento de Cooperação e Difusão Cultural da Secretaria da Cultura do governo federal assume com condições de fazer muito. Desde que a inveja, a incompetência e o burocracia não prejudiquem o seu entusiasmo e otimismo. Deixem o Zuza trabalhar para ver que muita coisa boa vai acontecer em termos culturais neste país.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
8
08/05/1990

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