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Advogada de Curitiba vai sustar as filmagens da vida Chico Mendes

Na semana em que foi lembrado o primeiro ano do assassinato do líder sindical e ecologista Chico Mendes - ocorrido no entardecer de 22 de dezembro de 1988, em Xapuri, Estado do Acre - e quando os produtores Joffre e Nelson Rodrigues Filho anunciam que estarão iniciando as filmagens de sua cinebiografia nas próximas semanas, a novela que envolve os direitos de levar à tela a sua vida está longe de ter um happy end. Nos últimos dias, a advogada Zelia Gianello Oliveira, 46 anos, paranaense de Ponta Grossa, iniciou uma série de contatos internacionais e nacionais, para advertir de que os direitos para qualquer utilização do nome do líder ambientalista, "em absoluto não pertencem à J. N. Filmes, mas, sim, estão em questão judicial, em decorrência de ações legais que eu propus em nome de minhas clientes a legítima esposa e a filha, herdeiras de Francisco Alves Mendes Filho". Em seu escritório em Curitiba (Rua Comendador Macedo, 39), Zélia Oliveira já recebeu os primeiros telex de executivos da indústria cinematográfica americana - como Ted Warner, a Destinity Productions, de Los Angeles - que continuam interessados em obter os direitos da vida de Chico Mendes. Contatos com realizadores do porte de Costa Gravas e, especialmente, Robert Redford, que há alguns meses estiveram diretamente disputando os direitos, deverão ser retomados, já que, como diz Zélia, "agora a situação sofreu uma total reviravolta e apesar da J. N. Filmes ter assinado um contrato com a segunda mulher de Chico Mendes, Ilzamar Mendes, e estar associada a dois dos mais famosos produtores americanos, Peter Guber e John Peters, nossa intervenção faz com que a situação retorne ao ponto zero". Advogada da turma de 1965 da Universidade Federal do Paraná, com 25 anos de profissão, atuando principalmente como civilista e integrante da Associação Internacional das Mulheres de Carreira Jurídica, Zélia Oliveira já deu entrada no fórum de Xapuri, de nada menos que oito ações "visando resguardar o direito de minhas duas clientes". Uma delas - e de reconhecimento do primeiro casamento de Chico Mendes e Eunice Feitosa, ocorrida em 7 de fevereiro de 1969, já foi julgada em 10 de novembro último. xxx A pedido de um colega e amigo, o advogado (e também deputado estadual no Acre pelo PFL) João Batista Tezza, que já vinha funcionando como advogado na intrincada questão envolvendo os direitos sobre Chico Mendes, a advogada Zélia Oliveira passou quase três meses entre Curitiba - Rio Branco, acompanhando as várias ações impetradas. A primeira delas - uma ação de restauração do assento de casamento civil, ao ter a sentença do juiz Aldair José Longuine, da Comarca de Xapuri, em 10 de novembro último, colocou Chico Mendes na condição de bígamo e Eunice Feitosa e a sua filha, Angela Mendes, 19 anos, como legítimas herdeiras dos bens materiais, da imagem e da memória do líder sindical. Chico Mendes, mesmo com a existência de Eunice Feitosa e Angela Mendes, era casado com Ilzamar Gadelha Mendes, com quem tinha um casal de filhos, Sandino, 3 anos e Elenira, 4. xxx A advogada Zélia Oliveira vem procurando, de todas as maneiras, evitar a exploração do aspecto de bigamia de Chico Mendes, "pois eu apenas atuo em favor de sua primeira esposa, Eunice Feitosa, mas não pretendo, em absoluto, denegrir a imagem internacional do líder ambientalista e sindical, que se tornou um verdadeiro símbolo da resitência contra a devastação da Amazônia". Acrescenta a advogada: - "Em momento algum eu gostaria de dizer que o líder sindical cometeu um crime de bigamia. Acho que a atitude dele foi mais arroubo de juventude." Entretanto, para poder resguardar os direitos de suas clientes, Zélia foi obrigada a lembrar que Chico Mendes abandonou Eunice Feitosa e duas crianças, Angela e Rosângela (que viria a morrer de inanição) no seringal. Eunice, por absoluta falta de condições de criar a filha, a doou para sua irmã, Dione Menezes Farrapo, que a registrou. Operária do Depósito Barriga Verde, na capital acreana, ganhando salário mínimo, Angela é desde o dia 2 de setembro mãe de Angélica, cujo nascimento teve ampla cobertura não só dos jornais do Acre, mas também na revista "Manchete". xxx Assim, reconhecida a primeira família de Chico Mendes - a quem cabem os direitos de nome e imagem do líder ambientalista assassinado, robusteceram-se as condições legais de serem invalidadas as negociações feitas pela segunda mulher de Chico Mendes, Ilzamara, que já no primeiro semestre deste ano, acabou interferindo em termos pessoais, para que a J. N. Filmes, com sede no Rio de Janeiro, de propriedade de dois filhos do dramaturgo Nelson Rodrigues, fosse vencedora na concorrência internacional aberta para a venda dos direitos do filme. Das 15 produtoras interessadas no projeto, seis permaneceram na seleção final (ver box nesta mesma página) e a decisão de Ilzamara e do secretário-executivo da Fundação Chico Mendes, o ex-padre Gilson Pescador, em preferir a proposta dos irmãos Rodrigues, foi considerada pela imprensa nacional e mesmo entidades ambientalistas "a mais infeliz possível". Prova disto é que em nota oficial publicada em vários jornais no dia 3 de julho de 1989, seis das entidades que dirigem a Fundação Chico Mendes, denunciaram que Ilzamara Mendes e Gilson Pescador não tinham respaldo legal para assinar os contratos - que, ao que consta, daria cerca de US$ 500 mil à família e a Fundação, mais direitos conexos (resultados de premiações que o futuro filme venha a obter, negociações para vídeo e televisão internacional, etc). Ante o protesto do Conselho Nacional dos Seringueiros, União das Nações Indígenas, Centro de Trabalhadores da Amazônia, Instituto de Estudos da Amazônia, Comissão Pró Índio e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri - que compõe o conselho diretivo da instituição, Ilzamara ameaçou extingui-la. A extinção da mesma fundação foi também proposta pela advogada Zélia Oliveira, mas por outra razão: a da não concordância da primeira mulher do ambientalista na utilização do nome e imagem sem a sua aquiescência. Há três semanas, Zélia já registrou uma nova fundação, "esta sim de acordo com a decisão da primeira família de Chico Mendes", explica. Entre as oito ações propostas por Zélia Oliveira junto à comarca de Xapuri - fórum legal para todas as discussões em primeira entrância - estão além da ação de reconhecimento do primeiro casamento (já com a sentença dada pelo juiz Aldair Longuine há 45 dias) e de extinção da Fundação Chico Mendes, também a prestação de contas da mesma, com detalhados esclarecimentos sobre aplicações dos recursos recebidos; a exibição de todos os documentos relativos às negociações desenvolvidas - inclusive dos contratos com a J. N. Filmes e suas possíveis associações internacionais, além da total proibição do uso do nome de Francisco Alves Mendes Filho - o Chico Mendes. - "Desta forma, diz Zélia, buscamos preservar direitos e evitar que em torno da morte de um grande líder ambientalista se estabeleça um leilão cada vez mais indigno envolvendo centenas de pessoas, que somente denigrem a sua imagem em termos internacionais." LEGENDA FOTO - Advogada Zélia Oliveira, a filha de Chico Mendes, Angela Maria e a neta do líder ambientalista, Angélica, 4 meses.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/12/1989
queremos fotos da família de Chico mendes

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