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Aramis

Afinal, o projeto como o brasileiro Jobim merecia

Por certo nem o próprio Antonio Carlos Jobim imaginava que os números fossem tão altos. Há mais ou menos três anos, impressionado com a organização de Jairo Severiano, primeiro pesquisador da música popular brasileira a utilizar os recursos da informática em seus estudos, Tom começou a confiar-lhe todas as informações, discos e registros que tinha de sua obra espalhada pelo mundo. A bibliotecária e pesquisadora Vera de Alencar, que havia dividido com Marília L. Barbosa o livro-pesquisa "Caymmi - Som, Imagem, Magia" e já vinha trabalhando nos arquivos de Tom aprofundou os estudos e afinal alguns dados foram coletados: quase três mil gravações das quase 200 composições de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, 60 anos, 46 de música - dos quais pelo menos 35 exclusivamente profissional. Entretanto, nada é definitivo. Na última página do livro "Tom Jobim" - que acompanha o álbum duplo com 23 de suas mais conhecidas composições, em lançamento exclusivo patrocinado pela CBPO e que só começou a ser distribuído há duas semanas, há uma advertência do próprio Jairo Severiano: "É absolutamente impraticável o levantamento completo da discografia de compositores de sucesso internacional como Tom Jobim. Assim, este trabalho apresenta um inventário de cerca de 60% (2053) fonogramas do total das gravações de suas músicas. xxx 1987 iniciou com as comemorações de seu 60º aniversário - carioca, nasceu a 25 de janeiro de 1927 - e termina com Antônio Carlos, sua esposa, a fotógrafa Ana Lontra Jobim, e os 2 filhos - João Francisco, 7 anos e Maria Luiza, 10 meses, nos EUA, país em que o casal pretende passar seis meses por ano, "talvez até mais" como tem revelado aos amigos. Por estar, justamente, nos EUA, o lançamento da maior homenagem editorial já feita a Tom não teve as festas que mereceria. No dia 28 de novembro último, os diretores da Fundação Emílio Odebrecht e da Companhia Brasileira de Projetos e Obras, receberam os primeiros exemplares do projeto ao qual Jairo Severiano se dedicou durante mais de um ano: um álbum duplo com gravações especiais de canções escolhidas pelo próprio Tom, mais um volume de 218 páginas, com textos em português e inglês (versão de Marina Cunha Brenner), no qual o jornalista, ex-vereador, pesquisador da MPB e atual secretário de Esportes do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, faz uma linear biografia do mais famoso e importante compositor brasileiro. O álbum duplo e o livro estão acondicionados numa bela caixa, pesando mais de três quilos. Um projeto realizado com o mesmo carinho com que entre 1985/86 Jairo desenvolveu em homenagem a outro gigante da MPB, o baiano Dorival Caymmi, também com dois elepês e um livro biográfico escrito por Vera de Azevedo e Marília L. Barbosa, que teve o título de "Caymmi" - Som/Imagem/Magia". xxx Um dos maiores grupos empresariais do Brasil, a Norberto Odebrecht já tem uma tradição de investir milhões de cruzados em trabalhos culturais definitivos. Durante pelo menos quatro anos, o respeitado crítico de artes plásticas Clarival do Prado Valadares (1918-1979) realizou exaustivos e amplos estudos sobre a arquitetura, as artes plásticas e a cultura do Nordeste, que foram editadas em livros valiosíssimos, exclusivamente para distribuição pela Odebrecht. Com a morte de Valadares e já através da Fundação Emílio Odebrecht, com patrocínio oficial da Companhia Brasileira de Projetos e Obras - uma das muitas empresas do poderoso grupo - seus diretores, impressionados com a qualidade e seriedade das pesquisas desenvolvidas por Jairo Severiano, confiram projetos ligados à música popular. O primeiro foi em homenagem a Caymmi e o segundo é este pacote sobre Tom Jobim. xxx Com tantas obras de arte, produzidas por empresas poderosas e que mesmo antes do advento da Lei Sarney já vinham abrigando projetos culturais, as edições da Fundação Emílio Odebrecht tem uma tiragem limitada - no caso 3 mil unidades, distribuídas a entidades culturais, alguns poucos pesquisadores e estudiosos de música, clientes e autoridades ligadas a CBPO, tanto no Brasil como no Exterior (o que justifica a edição do livro em português e inglês). Bancando os custos de uma produção caríssima como esta - pagamento dos direitos autorais, pesquisas, produção industrial etc. - o patrocinador reserva-se, naturalmente os direitos de comercialização. No caso, há planos de, futuramente, tanto "Som/Imagem/Magia" como "Tom Jobim" virem a ter edições menos luxuosas, colocadas ao alcance do público interessado. Realmente, pela importância destes trabalhos, profundidade das pesquisas e beleza tanto das músicas gravadas como dos textos e imagens dos livros que acompanham os álbuns é natural que a disputa por um brinde (e que brinde!) como "Tom Jobim" seja das maiores, deixando os executivos da CBPO, no Rio de Janeiro, quase malucos, tal a pressão, pois, mesmo antes do trabalho ficar concluído já recebiam apelos desesperados de interessados em possuírem tal preciosidade. xxx Desde que Marcos Pereira (1930-1980), um apaixonado pela MPB que acabou trocando a publicidade pela produção cultural fonográfica, inventou o chamado brinde musical, começando com um disco em que reunia "Onze Sambas e uma Capoeira" de seu amigo Paulo Vanzolini, em 1972, a produção de discos fora de série comercial, destinados a distribuição exclusiva entre clientes e amigos dos patrocinadores, cresceu de forma impressionante. A cada ano, os projetos vem sofisticando-se, com álbuns duplos e até triplos, acompanhados de livros (como fez a CBPO) e, mesmo, gravações em compact-disc (laser). Este ano, apesar de todas as restrições econômicas, novos projetos foram desenvolvidos (assim como dezenas de livros, álbuns de arte, calendários artísticos etc). Em termos musicais, além de Jairo Severiano, três outros pesquisadores da MPB foram convocados para produzirem álbuns especiais. Pelão (João Carlos Botezelli) para a Elebra, deu seqüência à série "Memória" com um disco reunindo músicas que falam de telefone, e para o Makro produziu um álbum em homenagem a Carlos Drummond de Andrade. Ricardo Cravo Albim, ex-diretor do MIS-RJ, produziu para o Banco do Brasil um álbum sobre músicas que tem mulheres como tema e Aluísio Falcão, ex-diretor artístico no Estúdio Eldorado, criou uma firma especialmente para realizar discos-brinde, começando com dois projetos, um deles com gravações inéditas do violonista Baden Powell. Outros produtos culturais na área musical também foram realizados graças a diferentes mecenas e só agora, quando começam a serem distribuídos para segmentos privilegiados, toma-se conhecimento (ao menos jornalístico) destas realizações.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
15/12/1987

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