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Aramis

Afinal, o resgate da poesia de Pena Filho

"Então, pintei de azul os meus sapatos por não poder de azul pintar as ruas, depois, vesti meus gestos insensatos e colori as minas mãos e as tuas" xxx Esta poesia correu no Brasil há mais de 20 anos, tornando famoso um poeta pernambucano, falecido em plena juventude - Carlos Pena Filho (1931-1960), deixando uma obra importante - embora dispersa - e algumas históricas parcerias musicais, como a belíssima "A Mesma Rosa Amarela", que seu amigo, Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa) musicou em 1964. Agora, quando o compositor completa seu bem vividos 79 anos, há também uma homenagem a Carlos Pena Filho. E quem o faz é um escritor de estreitas ligações curitibanas, Edilberto Coutinho, em "O Livro de Carlos" (Editora José Olympio, 152 páginas). Diz Edilberto: - "Com "O Livro de Carlos", procurei fazer que as novas gerações tomem conhecimento da obra do gande poeta Carlos Pena Filho, que morreu tão jovem mas deixou uma contribuição que Manuel Bandeira considerou "eterna" e conta com admiradores incondicionais do nível de um Gilberto Freyre, um Mauro Mota, um Jorge Amado e um João Cabral de Mello Neto, entre outros". Edilberto fala do vigésimo livro de sua produção literária, em 1984 - chegando às livrarias simultaneamente a outra de suas obras, "A Imaginação do Real", sua tese de Doutoado em Literatura Brasileira, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e a terceira edição da antologia crítica "Presença Poética do Recife". xxx Virgílio Moretzsohn Moreira, em recente ensaio sobre Edilberto Coutinho, lembrou que o autor de "O Livro de Carlos" publica desde a adolescência (quando morou em Curitiba, e foi o primeiro locutor animador do histórico Clube Juvenil M-5, na Rádio Guairacá), assinalando que "foi também com 16 anos que Álvares de Azevedo começou a escrever, ao tempo - ambos - em que o acnes perturbam o rosto e, às vezes, a visão. Logo, outros acnes - os institucionais - iriam determinar que Edilberto, em seus livros, andasse sempre mordendo o que tem que ser mordido: o mando discricionário". Nos contos de Coutinho - veja-se as coletâneas "Maracanã, Adeus" (premiado pela Casa das Américas, Cuba) e "O Jogo Terminado" - ressaltam a par da fina elaboração literária, uma preocupação social permanente, sempre denunciado e propondo novas formas de relacionamento, menos injustas e fora das máscaras no cotidiano". xxx Para "O Livro de Carlos", Edilberto Coutinho escreveu um longo estudo que ocupa metade do volume, situando o poeta pernambucano Carlos Pena Filho, que morreu há 24 anos, num acidente de automóvel no Recife, justamente quando sua obra começava a obter um lírico apaixonado e, ao mesmo tempo, um autor profundamente engajado nas lutas do seu tempo. - "Carlos fugiu à dicção mais alienada da denominada Geração de 45, oferecendo, sobretudo nos últimos textos publicados em vida, uma visão dramática do Nordeste". Edilberto quis que o volume sobre Carlos Pena Filho fosse uma espécie de livro-homenagem, contendo - além de iconografia, seleta de poemas e prosa, crônicas recolhidas em jornais da época e, pela primeira vez publicados em volume - uma parte da crítica e poesia, reunindo vários testemunhos importantes sobre o poeta que dizia com tanto lirismo em "Soneto do Desmantelo Azul". Para extinguir em nós o azul ausente e aprisionar no azul as coisas gratas, enfim, nós derramamos simplesmente azul sobre os vestidos e as gravatas. E afogados em nós, nem nos lembramos que no excesso que havia em nosso espaço pudesse haver de azul também cansaço. E perdidos de azul nos contemplamos e vimos que entre nós nascia um sul vertiginosamente azul. Azul.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
25/01/1984

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