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Aramis

Airto, de surpresa, na orquestra de Gil Evans

A surpresa não poderia ser maior: entre os 24 instrumentistas da orquestra de Gil Evans, que na noite de terça-feira, 8, apresentou-se no Hotel Nacional, no encerramento do III Free Jazz Festival, em sua fase carioca, o percussionista era nada mais, nada menos, do que o nosso Airto Moreira. Amanhã, sábado, Airto volta a tocar com a orquestra de Gil, no penúltimo espetáculo da fase paulista do Free Jazz (Anhembi, a partir das 21 horas). A participação de Airto no Free Jazz foi mantida em total sigilo por sua própria exigência. Contactado em maio último, pelas irmãs Monique e Sylvia Gardenberg, para tomar parte, com Flora e seu grupo na parte nacional do evento, as negociações não chegaram a bom termo e o convite foi declinado. Acontece que há algumas semanas, um dos maiores amigos de Airto, o pianista, arranjador e maestro Gil Evans lhe telefonou perguntando se não toparia repetir o que já havia feito há alguns meses, na Inglaterra: integrar como side man sua orquestra, na abertura do Free Jazz. Numa prova de humildade e, sobretudo, amizade e admiração a Evans, confirmando seu bom caratismo, Airto topou. Afinal, Evans é um mestre querido, que, há 4 anos, em novembro de 1983, participou de seu projeto "Missa Espiritual", realizado na Igreja de St. Michel, em Colônia, RFA. Em maio último, dentro das comemorações dos 75 anos de Gil Evans (Ian Ernest Gilmont Green, Toronto, 13/05/1912), aconteceram dois concertos especiais, um no Teatro Humme's Smith, em Londres e outro em Westminster, dos quais Airto participou "com imensa satisfação". Assim, o convite para vir ao Brasil e integrar, novamente, sua orquestra, o pegou pelo coração. Na semana passada, Airto e Flora se apresentavam no Café Hard Rock (uma grande casa de espetáculos, apesar do nome modesto), em Dallas. Flora retornou a Los Angeles, enquanto Airto voou para Miami, na quinta-feira, para vir ao Brasil. Houve atraso no vôo e ele julgava já ter perdido a chance de tocar na abertura do Festival, com Gil Evans. - "Numa daquelas coincidências do destino, Gil e os outros músicos também não puderam voar no dia marcado, e assim nosso concerto passou da abertura para o encerramento". A vinda de Airto foi condicionada a não divulgar sua participação. - "De princípio, porque seria uma deselegância para com os outros músicos da orquestra, meus bons amigos e ótimos músicos. Depois, porque, espero vir, no futuro, mas com Flora e o meu próprio grupo". O fato é que o concerto de amanhã a noite ganha assim uma atração especial. Airto ficará mais dois dias em São Paulo, acertando com dois amigos, os músicos Alan e o executivo Manfred (da Volkswagen), negociações relativas a reabertura de uma grande casa noturna, "Stardust" (que marcou época nos anos 60), e da qual agora é associado. A boate será inaugurada no final de outubro, mas Airto não decidiu ainda se retornará, já que tem compromissos profissionais nos EUA que o conduzirão inclusive ao Canadá. xxx Airto chegou ao Rio na sexta-feira, 3, e veio diretamente para Curitiba. Sua mãe, dona Zelinda, havia sido operada e convalescia no Hospital Nossa Senhora das Graças, e ele, como bom filho, ficou ao seu lado, junto com sua irmã, cunhado e sobrinhos. xxx Airto está em esplêndida forma, tendo concluído há pouco um novo disco ("The Sun is Out", Concord Records), que deve sair nos próximos dias, simultaneamente a uma gravação feita há quase 2 anos, com o falecido Joe Farrel, flautista e saxofonista, mas que permanecia inédita. Formando um novo grupo (o curitibano Celso Alberti, que o acompanhou ao Brasil no ano passado deixou ainda em 1986 o seu conjunto) - na base do baixo (Bob Marrisom) e piano (a ser ainda definido), Airto e Flora preparam uma nova linha musical, "calçada basicamente em temas inéditos, num som bem jazzístico" que marcará a atuação do casal nos próximos meses. É lamentável que a passagem de Airto por Curitiba seja tão rápida. Afinal, o Blue Note Jazz Club gostaria de homenageá-lo na reunião de amanhã, sábado (Old Friend's, a partir das 16 horas). E o bom Airto há muito merece uma homenagem - inclusive os títulos de cidadanias honorárias de Curitiba e do Paraná. Pena que nenhum vereador ou deputado tenha, até agora, pensado no assunto. Também se tivesse mais tempo, Airto poderia se encontrar, no Rio, com Fernando Falcão, pernambucano, ainda pouco conhecido no Brasil, mas que faz um trabalho originalíssimo na percussão. Outro pernambucano bom de percussão é Naná Vasconcelos, que vive mais no Exterior do que no Brasil - e que finalmente teve um disco solo aqui editado ("Bush Dance", WEA). LEGENDA FOTO - Airto: tocando com o amigo Evans no Free Jazz (foto: Vilma Slomp).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
11/09/1987

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