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Aramis

Albicoco quer vestir os descamisados do cinema

Rio de Janeiro - "Vamos ajudar a vestir os descamisados cinemas do Brasil". Em seu português com um simpático sotaque português que 20 anos de Brasil ainda não eliminaram - apesar de todo seu amor ao país, aqui se naturalizando e nascendo sua única filha, Vanessa - Jean Gabriel Albicoco, 54 anos, anunciava os amplos projetos de sua nova empreitada cultural: formar um circuito de salas em todo o pais para abrigar não apenas a produção francesa ou européia, "mas de todos os países fora do mercado dos Estados Unidos". - "E nisto, incluímos o cinema brasileiro, hoje mais do que nunca sem espaço para suas corajosas produções. Queremos vestir os descamisados, embora com recursos modestos". Aquilo que o jornalista Amir Labaki, da "Folha de São Paulo" chamou de "uma nova missão francesa", que desembarcou há seis dias no Rio de Janeiro - e que agora se encontra em São Paulo - representa, concretamente, uma importantíssima abertura para outras cinematografias que não a americana, especialmente a européia, mas sem discriminar nenhum país do segundo ou terceiro mundo. Em sua sinceridade, Gabi - como é chamado - explicava aos jornalistas de várias capitais, reunidos no Hotel Copacabana Palace para, durante três dias, conhecerem alguns dos 23 filmes inéditos que já a partir desta semana estão sendo mostrados em São Paulo e que ainda no primeiro trimestre de 1991 chegarão a 40 cidades brasileiras. Em Curitiba, embora ainda não haja formalização final, possivelmente o Cinema I entrará no circuito - embora pelo tipo de programação cultural se ajustasse especialmente nas salas da Fundação Cultural. - "Queremos apenas 1% deste mercado, o que significará um aumento de 100% para a cinematografia francesa, hoje com menos de 0,5%" - diz Albicoco, consciente de que desde a retirada da Gaummont do Brasil - praticamente retirou do mercado o canal pelo qual chegavam ao Brasil os mais importantes títulos do cinema-arte dos anos 70/80. Este espaço perdido - e os americanos, organizados como sempre, aumentaram ainda mais a sua presença - deve agora ser reconquistado, numa estratégia que privilegia a inteligência e a qualidade. Para tanto, em cidades com mais de 300 mil habitantes, uma nova distribuidora - a Belas Artes Cinematográfica Ltda. - montará uma programação dinâmica, oferecendo até 60 filmes anualmente, entre a melhor produção internacional, num sistema de lançamentos bem cuidados, sessões especiais, circuitos, debates, etc., "enfim, um processo de enriquecimento cultural" como diz Jaime Tavares, 38 anos, paulista de Botucatu, 20 de cinematografia, ex-Fama Filmes (morou 4 anos em Curitiba, como supervisor do Grupo Vitória), ex-Paris Filmes, e que agora, como um dos maiores conhecedores do mercado se associou a Albicoco para coordenar a parte operacional da exibição. Cineasta reconhecido mundialmente como um dos mais importantes realizadores da Nouvelle Vague - e que só interrompeu sua carreira ao se apaixonar pelo Brasil e aqui decidir ficar, Albicoco (cuja biografia merecerá posterior publicação), é exigentíssimo em termos de exibição. Para ele, uma das causas do esvaziamento das salas em todo o Brasil - e mesmo em outros países - não foi apenas a concorrência da televisão e do vídeo, "mas, sobretudo, o fato de não se oferecer filmes de qualidade em excelentes condições ao público: salas confortáveis, seguras, com projeções perfeitas". Portanto, uma das condições para qualquer sala ingressar no circuito Belas Artes, já em fase de implantação, será ter o melhor equipamento de projeção, bons espaços e localização, "e sobretudo saber tratar o espectador como ele merece: com o maior respeito e cuidado, pois sem este não existe o cinema".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
21/12/1990

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