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Aramis

Alegria musical: Paulinho da Viola voltou a gravar

Rejubilai-vos, irmãos! Soltai fogos que tragam cores às noites brasileiras. Entoai cantos de alegria e gratidão! Paulinho da Viola faz, de novo, se ouvir nos corações e mentes. Foram cinco anos de jejum, que por razões diversas, o nosso Compositor Maior, poeta do povo, artífice das palavras, do amor e dos sentimentos se (auto?) impôs. Um período em que não deixou jamais de trabalhar (ao contrário, nunca viajou tanto, inclusive pelo Exterior, que começa a entender sua arte maior) mas que, em termos gravados se restringiu a magras participações especiais (como na faixa "Crotalus Terrificus" com seu amigo Arrigo Barnabé, no álbum "Tubarões Voadores", 1984) e escassas composições especiais, como a canção-tema do lírico e truffauniano "Fulaninha", para o seu amigo David Neves, tão lírica e enternecedora que ajudou a fazer o filme ganhar simpatias desde sua estréia em Gramado há três anos. Como bom entalhador-marceneiro, que trabalha lenta mas profundamente em seus móveis, usando a mesa de meu velho pai - (presente que um dia lhe enviei de Curitiba) o poeta Paulinho não tem pressa. Por isto sua discografia é formada por jóias maiores, não inexistindo uma única faixa decepcionante em seus discos, desde o seu primeiro lp (Odeon, 1968) - sempre trouxeram a qualidade máxima. Hoje, cabelos se embranquecendo com a dignidade dos grandes mestres, o carioca Paulo César Batista de Faria, 46 anos completados no dia 12 de novembro último, é nome maior da MPB. Não apenas definições rápidas (mas da qual pode se orgulhar) como "herdeiro de Cartola", mas, sim, uma posição única e especial, que faz com que um novo disco de Paulinho seja uma celebração. Passaram-se cinco anos para que "Eu Canto Samba" (BMG/Barclay) chegasse às lojas, mas a espera compensou. E como! Dizer que será o melhor disco do ano talvez seja um exagero antecipado, mas que ninguém tasca, novamente, sua presença entre os melhores momentos do ano (e da década de 80) nem discutir! Como sempre, um disco de Paulinho (em que pese nomes outros que constam da ficha técnica). Tudo tem o toque de classe de Paulinho, prova que é possível fazer a obra mais popular com o requinte maior. Em sete composições fez a letra e música, falando das alegrias do amor ("No Carnaval de Paixão", "Um Caso Perdido", "O Tímido e a Manequim", "No Carnaval do Samba"), dos sentimentos ("Quando Bate Uma Saudade"), o mesmo com o flagrante bem humorado do quotidiano em "Pintou um Bode". Com dois parceiros amigos maiores, pessoas tão queridas e sensíveis como ele, novas obras-primas. "Estamos Noutra" com Elton Medeiros, um hino de despedida, sem rancores, de profundo amor ("Cansei desta luta/ O tempo é tão curto/ Pra tentar de novo/ Não há mais ternura/ E sei quanto custa te olhar no rosto/ Não faz mais sentido/ E faço um pedido/ Não quero sentir em tua boca/ Este beijo frio é caso perdido/ Estamos noutra". Com Hermínio Bello de Carvalho, um dos primeiros parceiros que praticamente o lançou em "Rosa de Ouro", um reencontro numa "Cantoria" com versos para ficar, a começar já pela primeira estrofe. Amar é um dom, há que saber o tom E entoar bem certo a melodia O povo enxerga a luz de uma voz sincera E canta com ela em sintonia. Duas homenagens especiais: "Não Tenho Lágrimas", da dupla Max Bulhões e Milton de Oliveira, sucesso carnavalesco em 1937, e a terna "Com Lealdade", de Alberto Lonato, da Velha Guarda da Portela, que fala do amor reprimido para não trair o amigo - um tema que já por várias vezes Paulinho registrou em seus discos ("Fito os olhos/ da mulher que eu adoro/ E não posso confessar o meu sofrer/ Prefiro sacrificar/ Minha amizade/ Mas não quero ser falso/ A alguém que me trata/ Com lealdade, com lealdade"). Em cada uma das faixas, a formação instrumental perfeita - basicamente os companheiros de tantas estradas (Dininho no baixo, Hércules na bateria, Celsinho e Cabelinho no ritmo), mais os pianistas-arranjadores Cristóvão Bastos ou Helvius Vilela (que, quando podem, o acompanham pelo mundo) e afetuosas participações de metais - Nelsinho (trombone), Zé Carlos (sax alto), Marcelo Bernardes (clarineta/flautas), Joel do Nascimento e seu bandolim (no caso em "Cantoria"), sem falar nas vozes de um coro harmoniosamente identificado - com Cristina Buarque, a cunhada Amélia Rabelo, Nara, Dinorá, Genaro, Stênio, Tufic, Copacabana, já na faixa de abertura e retornando em "Quando Bate Uma Saudade", "Pintou um Bode" (nesta faixa, também a participação de uma outra cunhada, Luciana Rabello no cavaquinho) e "No Carnaval da Paixão".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
12
05/03/1989

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