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Aramis

Alemão Batata, a saga da colonização alemã

De passagem por Curitiba, na semana passada, o cineasta e jornalista Frederico Fullgraf falou dos trabalhos de pré-produção de seu primeiro longa-metragem, projeto que, antes mesmo de regressar ao Brasil, em 1980, o entusiasmava. Nascido na Alemanha, infância e juventude em Curitiba (seu pai, Willi Fullgraf, foi o braço direito da Impressora Paranaense durante anos). Frederico residiu 15 anos na Alemanha Ocidental, trabalhando em jornalismo para rádio, televisão e imprensa - fazendo coberturas internacionais. Na época, já sonhava com um novo projeto muito especial: contar no cinema a saga da colonização alemã no Sul do Brasil. Seu ciclo de documentários sobre a temática ecológica ("Quarup - Adeus Sete Quedas", "Desapropriado" e "Dose Diária Aceitável") e inúmeros trabalhos realizados para a TV alemã ("Minha estratégia de sobrevivência - como documentarista brasileiro estaria morto de fome!"), no entanto, atrasou a retomada do velho sonho. xxx - "Me embrenhei no aqui e agora das transformações sociais, ambientais e econômicas do nosso cotidiano brasileiro e, comecei a sentir o consenso. Minhas inquietudes sempre estiveram em outras gavetas e no filme documentário não pude extravasar estas questões filosóficas, estéticas que se situam num plano subjetivo de relacionamento com a realidade", diz Fullgraf. Assim, resolveu retomar o projeto Alemão Batata sobre a imigração alemã no Sul do Brasil. Frederico, 37 anos, explica porque, inicialmente, optou por um título (aparentemente) tão pejorativo: - "Nas brigas do pátio do colégio aqui em Curitiba, o italiano era o "macarroni", o japonês era chamado de "cara chata" ou "arigatô" e os descendentes de alemães eram pixados de "alemão batata/ com queijo com barata" - tratamentos mistos de agressividade e carinho que nós dispensávamos, e que refletia, em nós crianças, a ansiedade (inconsciente) da demarcação das diferenças culturais de nossas origens. É este um dos temas do seu filme. A imigração alemã, como a história da imigração no seu conjunto, é uma história desconhecida. - "E, como todo episódio desconhecido ou conhecido apenas nas aparências, se reveste de distorções e passa à grande História, de forma anedótica, caricatural. Não será um filme feito para agradar gregos e troianos. Muito pelo contrário. "Alemão Batata" é uma catarse. Tudo o que fica atravessado na garganta, quando acumulado durante muito tempo, vem à tona na forma de catarse. xxx "Alemão Batata" segundo Fullgraf - que se mostra parcimonioso e discreto na revelação dos detalhes da produção, ainda em fase embrionária (custos, fontes de financiamento, elenco) deverá ser, sobretudo, um psicograma de ambigüidade cultural do imigrante: cidadãos brasileiros de alma estrangeira. O filme terá uma narrativa regressiva que inicia durante a tristemente famosa "Campanha de Nacionalização" (fechamento das escolas e instituições culturais alemãs e a proibição do idioma alemão no Brasil pelo Estado Novo), no final dos anos 30 neste século, e constrói a Saga da colonização a partir de 1851 - ano em que o 2º Reinado declarava guerra à ditadura Rosas da Argentina e mandou recrutar, na Alemanha, mais de dois mil mercenários alemães, os "Brummer", com quem venceu a guerra na Batalha de Monte Caseros. "Alemão Batata" tem um enredo ficcional, um love story teuto-brasileira, que vai costurando a epopéia da colonização. Fullgraf foi recebido, pelo secretário René Dotti, da Cultura, a quem expôs a importância do Paraná participar do projeto (muitas seqüências serão feitas em Curitiba), cujo financiamento será dividido entre a Embrafilmes, a iniciativa privada e a TV Alemã. xxx Os documentários de Frederico - "Quarup - Adeus Sete Quedas" - documentando o fim das Sete Quedas, rodado em julho de 1982, "Expropriado (sobre a expulsão dos agricultores devido ao lago de Itaipu) e "DDA - Dose Diária Aceitável/ O Veneno Nosso de Cada Dia" foram exibidos em vários países. "DDA", foi premiado num festival do cinema ecológico na França e levado inclusive à India e ao Japão. Frederico tem um bom conceito junto à televisão alemã e seu filme tem, de princípio, aprovação de uma das poderosas redes nacionais daquele país. Vamos ver até onde o Estado do Paraná e, principalmente, o empresariado do Sul, colaborará com o seu projeto.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
13/05/1987

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