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Aramis

Alice no país dos hai-kais

Até quando vê uma flor O bebê Abre a boca (Seifu-Jo, 1731-1814) Um livro delicado como uma flor. Suave e saboroso como o mais requintado prato japonês. Uma ternura em poucas páginas que se lê - ou melhor, respira-se - em minutos. Fica a sensação de se querer mais, tal a beleza, sensibilidade e encantamento que os hai-kais de onze mulheres japonesas transmitem em "Céu de Outro Lugar" (Expressão/Timbre Editores, junho/86). Alice Ruiz, 40 anos, não apenas traduziu do inglês (com base no trabalho de Blyth) os hai-kais para este livro, a ser lançado hoje, ao entardecer, na loja Funarte. Com sua sensibilidade de poeta-vida, que tem espelhado em "Navalhanaliga" (1980), "Pelos Pelos" (1984), "Hao-Tropikal" e "Rimagens" (1985), Alice recria, ajusta, dá a forma perfeita as jóias poéticas destas japonesas que viveram no século XVIII, quando a prática do hai-kai, depurada e aperfeiçoada por Bashô, atingiu seu auge (Paulo Leminski, marido e parceiro de Alice já publicou na coleção "Encanto Radical", da Brasiliente, sua biografia). Lua de outono Mesmo caminhando mesmo caminhando Um céu de outro lugar (Chiyo-Ni, 1701/1775). É claro que a paixão de Leminski pela cultura japonesa deve ter ajudado a Alice Ruiz em seu mergulho no mundo dos hai-kais, já que anteriormente havia traduzido "Dez Hai-Kaiz". Mais é a sua sensibilidade de Mulher - de francas idéias feministas, sem jamais deixar de ser extremamente feminina, mãe de duas belas meninas - Áurea e Estrela - que a fazem, com tanta ternura, vivenciar toda a grandiosidade que se esconde nas três linhas de um hai-kai. Ela própria uma poeta-síntese em sua sensibilidade, como ainda recentemente mostrou em "Rimagens", dividido com as belíssimas imagens de Leila Pugnaloni. Mal me quer Coisas de antes quem não quer (Shokyi-Ni, 1713/1781) "Céu de outro lugar", em formato de pocket-book, com uma capa também integrada ao espírito de suavidade oriental, criado por Julio Plaza, espanhol radicado em São Paulo (uma tradução visual de um dos hai-kai de Chiyo-ni, que faz parte de uma mostra de vídeo-texto organizada por ele) é um livro-flor. Poderia ser uma obra de arte, requintada e cara. É, ao invés disto, um pequeno volume, que se conserva como uma espécie de livro de paz e reflexão - quase um catecismo - para o leitor ali mergulhar na calma e beleza que as 11 japonesas colocaram em suas palavras e que, com tanta felicidade, Alice soube traduzir. Girassol mesmo sem sol você grita. (Sute-Jo, 1633/1698). LEGENDA FOTO 1 - Alice: com o sabor de uma flor japonesa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
20/06/1986

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