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Aramis

As anotações de Eric sobre Cuba

Enquanto Denise Stocklos, paranaense de Irati, conquista até os aplausos de Fidel Castro, o jornalista Milton Eric Nepomuceno, com muitas ligações no Paraná, publica um novo livro sobre aquele país: "Cuba: Novas Anotações Sobre uma Revolução" (Editora Guanabara, 196 páginas). Ex-correspondente da Abril em Buenos Aires e Madri, amigo pessoal de Fidel Castro - entre tantas personalidades com quem conviveu nos últimos 20 anos de atividades como jornalista de trânsito internacional, Nepomuceno tem vários livros publicados entre ficção, narrativas jornalísticas e ensaios. Agora, acrescenta aos livros de Fernando Moraes, Frei Betto e Roberto D'Ávilla - entre os mais conhecidos, também sua interpretação sobre a ilha comunista. xxx O próprio Nepomuceno diz que não, sobre o que se pode chamar propriamente de "um livro novo", pois, explica, esta é uma nova versão do volume que ele já publicou, "mais atualizada, mais pensada, sobre a revolução que levou, em 1959, o grupo liderado por Fidel Castro e Che Guevara ao poder, derrubando o ditador Fulgêncio Batista". Neste "novo" livro, Nepomuceno capta cenas cotidianas de Cuba, como a ida à missa dominical, ou simples jogo de beisebol para traçar um paralelo entre Cuba de antes e depois da revolução. Enquanto na época de Batista os empregados de cor tinham que ir à missa em igrejas diferentes de seus patrões (que não aceitavam negros entre seus fiéis), hoje o culto religioso é aberto a todas as camadas da população e as diferenças religiosas aceitas por todos. País eminentemente católico (e a prova disto é o êxito do livro "Fidel e a Religião", de Frei Betto), Cuba tem grandes semelhanças com o Brasil, como destaca Nepomuceno, quando os rituais afro, como o candomblé, são intocáveis. Diz Eric: - "Pode-se mudar a revolução, mas nunca a religião do povo. Distribuída em 11 "anotações", a história da Cuba pós-revolução é contada por Nepomuceno de uma forma que, se não chega a ser desapaixonada, como ele sinceramente, adverte, não vai às raias do discurso ideológico, colocando bem os problemas da ilha. Nos primeiros anos de revolução, Cuba passou de um estado completo de pobreza, contra a riqueza de poucos, para uma absoluta euforia, uma opulência que não chegou a durar cinco anos, com seus governantes e sua população caindo na triste realidade de um país subdesenvolvido, precisando ser construído. Como bem acentuou Marcelo Rollemberg, num review do livro, Nepomuceno não esgota o assunto, nem pretende analisar, de forma definitiva, os percalços da Revolução Cubana, ainda hoje em fase de ebulição, mas dá mais uma visão de um país que luta contra sua própria realidade física. Afinal, já disse o colombiano Gabriel Garcia Marques, por sinal, amigo de Eric: - "Nenhum livro sobre a revolução será definitivo. Para isso, seria preciso escrever um livro por dia, como os contos das mil e uma noites".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
07/07/1987

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