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Antonina, um festival de entusiasmo no frio

O I Festival de Inverno, que hoje se encerra em Antonina, ultrapassou as expectativas mais otimistas. O pequeno orçamento, a falta de know-how anterior em tal tipo de promoção e os inevitáveis imprevistos de última hora foram compensados pelo entusiasmo da população e de centenas de jovens que se reuniram cidade, o idealismo dos professores convocados para orientarem os diversos cursos e a dedicação além do dever da pequena, mas eficiente equipe da Coordenadoria de Ação Cultural. Durante mais de um mês, a professora Circe Lambrejo e seus auxiliares, a maioria jovens com pouca experiência, se desdobrou para atender as diversas necessidades. Acima dos frios números que constarão do relatório oficial, o festival de Inverno tem vários exemplos significativos de sua importância. Um deles foi a espontânea manifestação que as 40 alunas do curso de dança livre, orientada pela coreógrafa e professora Milena Morozowicz, lhe prestaram no domingo, junto com um apelo transmitido ao prefeito, que deverá fazer chegar ao secretário Luiz Roberto Soares, da Cultura e Esporte: a necessidade de que a semente plantada neste mês de julho, seja irrigada e não morra. Ou seja, muitos dos cursos realizados de forma rápida, devem ter continuidade, tal o interesse despertado. O de dança livre é um exemplo: iniciando apenas na segunda-feira passada, com meninas e jovens sem qualquer experiência, apresentou resultados excelentes, que chegaram a emocionar a coreógrafa Milena Morozowicz, ligada à dança desde que nasceu (seu pai, Thadeo, foi o pioneiro do ensino do balé no Paraná, há 53 anos passados). Hoje, os professores e coordenadores do I Festival de Inverno de Antonina deverão ter uma mesa redonda, para avaliar os resultados, estabelecer parâmetros e oferece sugestões em relação a continuidade deste evento. *** de uma maneira geral, todos os que estiveram envolvidos nesta promoção sentiram-se emocionados - e gratificados, independente dos reduzidos pagamentos - pela sede de conhecimento, ânsia de saber de parte dos alunos. Quanto mais humildes, mais receptivos os participantes dos diversos cursos se mostraram. De princípio não se acreditava muito na possibilidade de que um Festival de Inverno em Antonina, com uma multiplicidade de cursos e eventos artísticos, pudesse obter maior repercussão. No momento em que o Festival de Ouro Preto, após uma década de esplendor e prestigio nacional, começa a declinar, era de se imaginar que uma promoção calcada na mesma filosofia - oferecer uma gama múltipla de cursos rápidos, paralelos a eventos artísticos - exigisse uma infra-estrutura mais ampla para se consolidar. Com apenas dois modelos hotéis, pequenos recursos de serviços e poucas condições de atender mais do que algumas centenas de pessoas, Antonina transformou-se neste mês de julho. Sua população recebeu de braços abertos professores e alunos, mostrou compreensão para alguns (poucos, felizmente) excessos por parte de certos jovens, menos integrados no espirito do Festival, e entendeu o alcance da realização. Nomes como Grande Otelo, Pernambucano de Oliveira, Sebastião Tapajós, Giami Ratto, Maurício Einhorn, maestro Benevenutti, entre tantos de expressão em várias áreas, que ali compareceram, estenderam sua permanência além dos dias previstos. Só compromissos profissionais em suas cidades, impediram outros de continuar e em todos ficou o desejo de retornar no próximo ano, para uma segunda edição - revista e ampliada - deste evento. *** Antonina tem sido lembrada nos últimos anos como a Parati paranaense. a cidade-turistíca, capaz de oferecer condições para se transformar num pólo de descanso e eventos artísticos. Wilson Rio Appa, hoje radicado em Florianópolis, chegou a iniciar a construção de um teatro que ficou nas fundações. Cleto de Assis, hoje secretário de Comunicação Social, quando assessor do engenheiro Arthur Morgenstern, na administração dos Portos do local, desenvolveu um programa de ativação cultural e os fotógrafos Francisco Kawa e Jesus Santoros chegaram a ali organizar a I Feira do Litoral. Foram algumas manifestações importantes, mas que se perderam por falta de continuidade. Dudu Barreto Leite, atriz, diretora, ligada a uma das famílias mais tradicionais do teatro brasileiro, há 10 anos trocou altos salários como diretor de produção de Jean manzon, em São Paulo, para se fixar em Antonina - onde foi arrendatária do restaurante do Iate Clube. Integrou-se à cidade, pensou em muitos projetos mas a tradicional antropofagia paranaense - e falta de apoio de quem de direito, a levaram a abandonar a cidade. Agora, após uma experiência como industrial em Itajaí, Dud está de volta a Curitiba, assessorando a Sele Wolokita, no Mobral- Cultural. Muitos outros exemplos de pessoas idealista e entusiastas por Antonina poderiam ser lembrados, já que a centenária cidade, economicamente esquecida há anos (agora com perspectivas de um << ressurgimento >>, inclusive pela ativação do ramal ferroviário que ficou paralisado por vários anos), sempre encantou a todos que a visitam. Administrações municipais infelizes - houve inclusive um prefeito que determinou a demolição de prédios históricos, como o mercado municipal - a falta de continuidade nos projetos e o apoio certo na hora exata, levaram a que boas idéias se perdessem. Mas os encantos da cidade, seu casário colonial, sua baia, suas praias - a praça bucólica, ao lado da mansão construída pelo empreiteiro Osny Passos e hoje de propriedade do pintor Érico da Silva (outro artista que se apaixonou pela cidade), fizeram com que se continue a acreditar em suas, potencialidade. Anuncia-se agora a restauração do antigo Cine Ópera (um dos mais antigos do Paraná) como cine-teatro, a Paranatur e a Secretaria da Cultura e do Esporte prometem continuidade aos projetos, mas o mais importante é a contribuição da própria comunidade. Do que o apoio ao Festival de Inverno foi um exemplo importante. Os capelistas históricos, de Guilhobel Camargo, que internacionalizou o prato típico da cidade, o barreado (a grande atração de seu restaurante, no alto da Rua 15, em Curitiba, o mais movimentado nos fins de semana) ao médico Pio Taborda Veiga. Antonina tem muito para ser contada e cantada em prosa e verso. Aliás, Pio Veiga, em sua juventude que os 60 anos não apagam, homem de vivência internacionais, define numa frase, porque tantos podem dizer, a maneira de Tony Bennett (em relação à sua San Francisco, na Califórnia) - << I left my heart in Antonina >>. - Depois de Paris, só há uma cidade no mundo para se viver. Antonina.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
30/07/1980

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