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Aramis

Apocalipse na tela (I)

"Não aco que o "Dia Seguinte" seja arte. Também não é divertimento. Acho que é um anúncio de utilidade pública" (Nicolas Meyer, diretor do filme) xxx Nunca na história do cinema um filme teve uma estréia num momento de tamanha atualidade e ganhando, em consequência, uma promoção extraordinária. Álvaro Pacheco, o dono da Artenova, que de pequeno editor se transformou em um atuante distribuidor de filmes especiais, é realmente um homem de estrela brilhante. Há 7 anos assistiu a "O Império dos Sentidos" e apostou na abertura. Comprou os direitos (consta que pode US$ 500 mil) do filme de Nashima Oshima, conseguiu a liberação e com as rendas tornou-se bilionário. Investindo em outros filmes - alguns fracassos internacionais, como o enternecedor "Do Fundo do Coração" (One From The Heart) Pacheco acaba de acertar novamente, sozinho, na loteria esportiva do cinema: tinha pago US$ 100 ou US$ 200 mil dólares pelos direitos de ""he Day After"" negociado durante o Festival de Cannes, em maio de 1982 - sete meses antes desta produção da cadeia de televisão americana ABC ser exibida coast to coast nos Estados Unidos, na noite de 20 de novembro último - o fato é que recuperará com altíssimos lucros o que gastou. Inclusive os anunciados Cr$ 100 milhões em publicidade. Uma publicidade aliás mal orientada, já que somente 6 horas antes do filme estrear no cine Vit´roia, em Curitiba (um dos 60 que o lançaram nacionalmente ontem, quinta-feira), a empresa recebeu algumas fotos para divulgação. O próprio cartz do filme - embora criativo do ponto de vista artístico - é pouco comunicativo. Em compensação, "O Dia Seguinte" é assunto da matéria de capa das duas principais revistas de atualidades - "Veja" e "Isto É", que estão nas bancas, além de ganhar de centimetros dos melhores espaços dos maiores jronais do País - repetindo o que aconteceu nos EUA, no qual a exibição do filme pela televisão foi antecedido de intensa polêmica refletida na maior cobertura já dada a uma produção feita especialmente para a televisão. Pode até acontecer do filme não render o esperado. A época é de férias, milhares de pessoas estão nas praias e outros locais de descanso e, principalmente, há os que alegam que o assunto "guerra nuclear" está longe de preocupar os basileiros. Se a estréia de "The Day After" no final de novembro foi mais polemizada pela instalação dos primeiros mísseis Pershing II na Europa, reconheça-se o fato de que aos americanos e europeus - espcialmente aos alemães, no ponto crucial de qualquer embate nuclear - o assunto é prioritário. Como acentuou a revista "Veja", há a impressão generalizada de que o Brasil jamais será alvo de um ataque nuclear pelo simples fato de que ninguém tem motivo, interesse ou tempo para jogar bombas aqui. O próprio chefe de gabinete do Conselho de Segurança Nacional, Mauro Cesar Rodriguesa Pereira, 48 anos, justifica esta aparente vulnerabilidade da população brasileira. "Se houver uma guerra nuclear os efeitos secundários das radiações porque não é um alvo, não é potência atômica e não possui mísseis instalados em seu território". xxx Mas o público que vem lotando as sessões de "Jogos de Guerra" (cine Condor, 5 sessões) paree provar que há interesse pelo tema. Tanto é que em seus seis primeiros dias de exibição, "War Games" já havia faturado Cr% 5 milhões - cifra suficiente para fazer com que a UIP mantenha o filme de John Badham em exibição por mais 6 semanas. Álvaro Pacheco acredita que de 4 a 5 milhões de espectadores assistirão o "O Dia Seguinte", apesar da pirataria feita em vídeo-cassete. Como conta a "Veja", apenas 48 horas após a exibição do filme pela cadeia de televisão americana ABC na noite de 20 de novembro, o gaúcho Luís Otávio Vieira, vice-presidente da Vechi S/A e presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, recebia em sua casa, em Porto Alegre, uma cópia para vídeocassete tirada da tevê americana e enviada por um amigo Se Otávio Vieira fez sessões reservadas a amigos e empresários gaúchos, o Vídeo Clube do Brasil, de São Paulo, foi atrevido: anunciou intensamente sessões pagas e começou a contactar os donos de locadoras e vídeo-clubes de todo o Brasil, oferecendo cópias de "The Day After", legendadas por computador, a Cr$ 100 mil a unidade. Em Curitiba, quase todos os vídeo-clubes receberam mas poucos se atreveram a cobrar aluguel. O cognome do filme ficou como "Os Três Patetas em Órbita" e pelo menos 500 curitibanos viram o filme entre dezembro e janeiro. Só que a cópia pirata era de tal qualidade, que os que já o conhecem no vídeo estarão, por certo, entre os primeiros espectadores para o verem em todo seu impacto na tela panorâmica. No máximo, a pirataria no caso serviu como aperitivo. Mas nem por isto Álvaro Pacheco, dono dos direitos autorais, deixou de acionar a Polícia Federal para defender os seus direitos. xxx "Veja" dedicou 13 páginas a "O Dia Seguinte", enquanto que "Isto É", mais modesta, reservou 8 - mas em ambas como assunto de capa. Nas duas, a estréia clo filme foi o gancho para uma análise clara e objetiva do terror nuclear, das consequências de uma guerra atômica e da escalada de um confronto entre URSS-EUA, em termos definitivos. "Isto É" incluiu, inclusive, um elucidativo quadro do mensário "Bulletin of Atomic Scientist", de Chicago, nos EUA, que publica desde 1947 um fictício relógio mostrando a proximidade de uma guerra atômica, no qual a meia-noite seria a hora fatal da detonação. O último movimento do relógio - o de 1983 - foi feito há três semanas com a assessoria de 47 cientistas de renome, incluindo 18 ganhadores do Prêmio Nobel.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
20/01/1984

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